Não se discute que Argentina e Chile são os dois
grandes produtores de vinhos da América do Sul. Uruguai e Brasil ainda
estão num degrau abaixo quando se fala em vinhos de alto nível. Há
exceções, óbvio, assim como existem vinhos de má qualidade em qualquer
destes países.
Um segundo ponto diz respeito às chamadas
uvas emblemáticas, Malbec na Argentina, Carménère no Chile, Tannat no
Uruguai e Merlot no Brasil, o que faz com que os vinhos produzidos a
partir destas castas sejam os mais visados na hora da compra. É um
apelo forte, quase uma unanimidade, como Gilette, Bom Bril ou Coca
Cola - o que deveria ser uma marca virou sinônimo do produto: lâmina
de barbear; esponja de aço; refrigerante. Dentro desta lógica, Malbec
significa um vinho argentino e Carménère é chileno, etc. mesmo sabendo
que as castas têm origem em Bordeaux, França.
O outro lado desta moeda é que isto
provoca uma “cegueira mercadológica” nos consumidores típicos, aqueles
que compram um bom vinho baseados nas informações correntes, sem
preocupações com mergulhos profundos. Um segmento que representa o
maior consumo sendo o alvo das ações de marketing dos produtores. O
termo cegueira foi escolhido intencionalmente: estes consumidores,
ofuscados por massiva dose de informações e estratégias promocionais,
não se dão conta das opções que existem em volta da “casta
emblemática”, muitas vezes com qualidade superior e preços bem
competitivos.
Um bom exemplo é a casta Cabernet
Sauvignon, que recebe o título de “rainha das uvas tintas” por
inúmeras razões, a principal delas é a qualidade dos vinhos
produzidos, desde que a matéria-prima tenha sido corretamente
cultivada e que os processos de vinificação sejam adequados. Outra
característica desta casta é sua capacidade de adaptação aos mais
diferentes “terroirs” do mundo. Seja em Bordeaux, seu local de origem,
na América do Norte, Itália, Austrália, Argentina, Chile, para
resumir alguns produtores, sempre resulta em vinhos deliciosos, cada
um com uma característica ou personalidade própria.
Um dos mais importantes episódios do
mundo do vinho, já citado nesta coluna algumas vezes, foi o Julgamento
de Paris quando vinhos da Califórnia foram comparados com grandes
ícones franceses e saíram vencedores. O mundo descobria um novo estilo
de Cabernet, mais frutado, intenso e sedoso, criando uma dicotomia:
vinhos do velho mundo e vinhos do novo mundo.
Há alguns anos atrás um dos grandes
produtores chilenos, Eduardo Chadwick, promoveu a divulgação, nos
mesmos moldes, de seus vinhos, varietais e cortes a partir da famosa
uva Cabernet cultivada em Puente Alto. Novamente, em menor escala,
chamou a atenção para os vinhos elaborados no cone sul do novo mundo.
Excelentes vinhos sem dúvidas, e se olharmos para outros importantes
produtores do Chile vamos encontrar vinhos ainda mais famosos e
importantes como o Don Melchor, Almaviva, Lapostole, etc. Cabernet chilenos são excepcionais, muito superiores aos Carménère, embora
estes sejam os mais famosos.
Este fenômeno se repete na vizinha
Argentina, embora não tenham feito, ainda, uma prova comparativa com
outros países produtores. Preferem ir conquistando seu espaço num
adequado passo a passo. Mas já começam a chamar a atenção,
principalmente por terem um estilo bem diferente dos produzidos no
país vizinho, criando uma nova dicotomia: cabernet chileno e cabernet
argentino.
Há uma importante diferença de estilos:
os vinhos chilenos são produzidos ao estilo de Bordeaux, inclusive com
muita assistência técnica de lá, enquanto os argentinos estão mais
próximos dos californianos, com um estilo predominante, mais redondo e
maduro, menos herbal e sem aromas e sabores de especiarias típicos
nos chilenos.
Para não deixar esta dúvida latente sem
resposta, sim! o Cabernet argentino é superior ao Malbec (dentro das
condições adequadas). Tem mais: a Cabernet Franc, uma das castas que
originou a Cabernet Sauvignon, trilha o mesmo caminho de alta
qualidade na Argentina sendo, no momento, o grande frisson entre os
produtores.
Atualmente as melhores uvas estão sendo
colhidas nos vinhedos de altitude no Vale do Uco (acima de 1000m).
Perdriel, Água Amarga, Altamira e Gualtallary são algumas das regiões
consideradas pelo Enólogo Roberto de la Mota como as mais promissoras.
Não é uma vinificação fácil, mas o resultado é surpreendente:
colorações escuras, aromas de frutas maduras (amoras, framboesas,
cassis) e taninos suaves, as mesmas características dos famosos “Cabs”
da Califórnia. Para completar, são colocados no mercado numa
excelente relação custo x benefício.
Como os leitores já devem estar com água
na boca, vamos apresentar a seguir uma relação dos Cabernet mais
conhecidos e aprovados por enólogos, críticos e consumidores:
Rutini Antologia XXXVI 2010 – 95 pontos;
Rutini Antologia XXXVI 2010 – 95 pontos;
Trapiche Medalla 2008 – 94 pontos;
Zuccardi Finca Los Membrillos 2011 – 94 pontos;
São os mais bem pontuados no respeitado Guia Descorchados. Mas nem todos os grandes produtores estão analisados na atual edição do guia. Neste mesmo nível podemos citar:
Riglos Gran Las Divas Vineyard 2011;
São os mais bem pontuados no respeitado Guia Descorchados. Mas nem todos os grandes produtores estão analisados na atual edição do guia. Neste mesmo nível podemos citar:
Riglos Gran Las Divas Vineyard 2011;
Finca El Origen Gran Reserva 2011;
Terrazas de Los Andes Single Vineyard 2010 Los Aromos.
Abaixo, vinhos com uma ótima relação custo x benefício:
Lamadrid Single Vineyard Reserva 2012;
Abaixo, vinhos com uma ótima relação custo x benefício:
Lamadrid Single Vineyard Reserva 2012;
Trapiche Broquel 2012.
Um dos meus preferidos e que já foi Dica da Semana:
Bramare Cabernet Sauvignon 2011.
Terminamos com alguns Cabernet Franc que estão virando a cabeça de muitos conhecedores:
Angelica Zapatta Cabernet Franc 2010;
Um dos meus preferidos e que já foi Dica da Semana:
Bramare Cabernet Sauvignon 2011.
Terminamos com alguns Cabernet Franc que estão virando a cabeça de muitos conhecedores:
Angelica Zapatta Cabernet Franc 2010;
El Enemigo 2012;
Durigutti Reserva 2011.
Dica da Semana: mais um para a lista de alternativas ao Malbec.
Dica da Semana: mais um para a lista de alternativas ao Malbec.
Riglos Gran Cabernet Franc 2011
Coloração rubi de média concentração, halo
ligeiramente granada. A madeira marca o nariz deste vinho, mas é
possível perceber o tradicional frutado vermelho aliado às
inspiradoras notas balsâmicas (pimentão e ervas) e também ao grafite.
Profundo, texturado, rico fim-de-boca.
Harmoniza com Codornas envolvidas em
folhas de repolho; Contra filé grelhado; Risoto com linguiça de javali
e cogumelos variados; queijos curados.

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