Vinho do Porto – uma tradição portuguesa para o mundo
Os leitores devem estar curiosos por não termos colocado este vinho junto com
os de sobremesa. Há um grande motivo: vinho do Porto é um vinho como nenhum
outro. Tem uma história interessantíssima e se há alguma bebida que pode ser
chamada de tradição, este é o caso.
Portugal é, provavelmente, o país com o
maior número de castas viníferas, nativas, disponíveis no seu território e um
dos 10 maiores produtores de vinho. A origem da vinificação na Península
Ibérica remonta cerca de 2000 anos AC, quando um povo bárbaro, os Tartésios,
teriam introduzido as vinhas na região. Os Fenícios teriam sido os primeiros a
produzir vinho, tradição mantida pelos Romanos até o domínio Muçulmano durante
os séculos VII a XII. A nação portuguesa surge entre os séculos X e XII, quando
os cristãos se estabelecem na região hoje conhecida.
O nosso vinho desta semana
não chega a ser tão antigo assim. Surgiu, para o comércio mundial, a partir do
século XVII, embora sua forma de produção já fosse conhecida desde os tempos
dos descobrimentos. Reza uma tradição que um Porto teria sido o primeiro vinho
a ser engarrafado e datado, em 1775, originando a indicação das safras nos
rótulos. Mas há outra curiosidade: a cidade do Porto, que batizou o nosso vinho
de hoje, não o produz! Ele é feito na região Vale do Douro, distante cerca de
100 km. O nome foi atribuído por ele ser comercializado nesta cidade, um porto
exportador.
Tecnicamente, não é um vinho de sobremesa, embora tenha um
característico paladar adocicado, resultado de sua peculiar forma de produção.
É um vinho fortificado ou generoso. Como ele, existe o Madeira, também
produzido em terras portuguesas, o Xerez espanhol, o Marsala italiano, um
Muscat Australiano e algumas falsificações históricas, inclusive no Brasil. O
sabor doce resulta quando parte dos açúcares do mosto não é convertida em
álcool ao se adicionar a aguardente vínica, para interromper fermentação. Este
singular processo tem por finalidade preservar o vinho para enfrentar as longas
viagens marítimas, sem azedar. Foi quase por acidente que se descobriu que isto
o transformava numa bebida deliciosa, única.
Para compreendermos melhor este
vinho, vamos nos deslocar para a região do Douro, onde nascem as uvas que serão
usadas no seu preparo. São 80 tipos diferentes de uvas que podem ser usadas na
sua produção. Desde os anos 70, há uma tendência para utilizar as varietais
Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Tinto Cão.
O
tipo de terreno, xistoso, fez com que os vinhedos fossem plantados em
patamares, solução ainda adotada nos dias de hoje, embora conviva com técnicas
mais modernas. A visão destes vinhedos é monumental. Foi a primeira região
demarcada e regulamentada, no mundo, quando o Marquês de Pombal criou a
Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756.
Marquês de Pombal
Vinhedos
Depois de colhidas, as uvas são pisadas, como manda a tradição
portuguesa. Mas já há maquinas robóticas nos maiores produtores. A foto a
seguir foi copiada do site da Graham´s, um dos maiores produtores, prova de que
as tradições são mantidas.
Depois de vinificados, os vinhos são preparados para
o envelhecimento, que será feito em armazéns, especiais, na cidade de Vila Nova
de Gaia. Antigamente, os barris eram transportados, pelo rio, nos Barcos
Rabelos.
Hoje, viaja em modernos caminhões- tanque.
Neste link do YouTube há um interessante vídeo:
São nos armazéns que o vinho do Porto nasce. As diversas
vinificações serão misturadas, de acordo com cada enólogo, e envelhecidas por
um período mínimo, obrigatório, de três anos. Os comerciantes britânicos dominaram
este estágio por muitos anos. Por esta razão é que surgem, num produto
tipicamente português, os nomes ingleses, que não se restringem às marcas
comerciais (Taylor, Graham, Croft, entre outros), mas principalmente definiram
sua classificação, seus estilos.
São duas formas de classificação, pela cor e
pela forma de envelhecimento.
Segundo a cor, temos:
Ruby – obtido através da
mescla de vinhos com diversas origens e anos. Envelhecido em garrafas de grande
volume por 3 anos. Tem sabor doce, encorpado, escuro, com um intenso aroma
frutado. É um porto jovem. Representa a maior parte da produção;
Tawny – obtido
a partir dos vinhos que já passaram, pelo menos, 3 anos envelhecendo em
madeira. É mais claro e menos doce que o anterior.
Segundo a forma de envelhecimento,
temos:
Indicação da idade – Tawny que recebe, no rótulo, uma clara alusão à sua
idade – 10, 20, 30 ou mais de 40 anos;
Late Bottled Vintage (LBV) – vinho de
uma só colheita, num bom ano, mas que não atinge a mais alta qualificação
(Vintage);
Vintage Character ou Crusted Port – obtido pela mistura de diversos
vinhos com diferentes idades. Permanece engarrafado por até 6 anos antes de ser
comercializado;
Vintage – vinho de uma só colheita, de safra reconhecida como
excepcional e certificado pelo Instituto do Vinho do Porto. Permanece
envelhecendo em madeira por 2 a 3 anos, antes de ser engarrafado. Depois, são
20 a 50 anos de garrafa! É o que há de melhor, a elite entre os portos. Tem cor
escura, encorpado, com sabor marcadamente frutado. Deve ser consumido entre 15
a 30 anos após a colheita.
Podem ser encontradas outras denominações, bastante
raras, como Colheita e Garrafeira, definindo safras muito especiais. Há ainda
uma categoria especial: Vinho do Porto Branco, considerado um vinho mais leve,
menos alcoólico. Recentemente surgiu um Porto Rosé.
Harmonização
Portos são
vinhos muito versáteis, tanto podem ser consumidos como aperitivos, acompanhando
uma refeição leve, ou como vinho de sobremesa e ainda pode ser utilizado na
preparação de coquetéis. A seguir algumas sugestões, sempre lembrando que estes
vinhos tem alto teor alcoólico, em geral 20%. Seu delicioso sabor acaba nos
traindo e se consumido em excesso...
- Porto Branco Seco e água tônica
(Portonic) é uma deliciosa alternativa ao Gin Tônica;
- com salmão defumado,
amêndoas torradas e frutas secas use um Porto Branco;
- o Branco pode ser
harmonizado com saladas, peixes grelhados e sopas à base de creme de leite;
-
com patês e queijos fortes prefiram um Tawny de 10 anos;
- assados e bifes com molhos
intensos com pimentas ou algumas especiarias, o LVB é opção ideal;
- nas
sobremesas à base de chocolate o Porto ideal é o Vintage ou um LBV;
- para os
doces portugueses prefiram os Tawnys envelhecidos.
As opções são inúmeras e um
pouco de experimentação é sempre bem vinda. Sirva sempre em cálices e com
temperaturas entre 6 a 14 graus.
Dica da Semana:
Porto Burmester Jockey Club
Este é um Porto Tawny com cerca de 7 anos, resultante da cuidadosa seleção de
vinhos longamente envelhecidos no silêncio das caves, representando um tributo
ao espírito e paixão dos Burmester pelo Desporto e pela Natureza.







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