Um aperitivo por excelência
O vinho desta semana vem
da Espanha, da região da Andaluzia, que além desta deliciosa e complexa bebida,
é o berço dos magníficos cavalos Andaluz, das touradas e da dança Flamenca.
Conheçam o Jerez, também chamado de Sherry ou Xérès.
Em sua legião de
apreciadores, vamos encontrar nomes como o de Cristovam Colombo e Fernão de
Magalhães, que teriam levado barris de Jerez em suas viagens de descobrimento.
William Shakespeare, Alexandre Fleming e Edgar Allan Poe eram apreciadores
desta bebida. Até no cinema vamos encontrar referências, como o personagem Mr.
Banks, do filme Mary Poppins, que degustava um cálice, junto com seu cachimbo,
diariamente às 18:02. Na TV moderna, a comédia Frasier usava este vinho para
unir os dois irmãos após um dia de trabalho. A cena ficou tão icônica que foi
usada como chavão para encerrar o seriado: quando o Jerez acabou...
O seu nome
tem uma longa e antiga história, que começa com os Fenícios. Eles plantaram as
primeiras vinhas e começaram a vinificar por volta de 1100 AC. Esta prática foi
mantida através dos períodos de dominação grega, cartaginesa e romana. A partir
do ano 711, começa a ocupação pelos Mouros. Coube a este povo a introdução das
técnicas de destilação e o desenvolvimento da bebida fortificada. A cidade onde
era produzido foi chamada de Scherish, palavra de onde derivam Jerez, em
espanhol, e Sherry, em inglês. A cidade, atualmente, se chama Jerez de La
Frontera. A expressão La Frontera foi agregada para indicar que, naquela
região, havia uma separação entre cristãos e muçulmanos.
Estilos e Processos
Produtivos
O Jerez é um vinho muito peculiar: são 3 tipos de uva, 3 solos e
pelo menos 2 métodos de produção bem diferentes. As várias combinações
possíveis entre estes elementos é que determinam o tipo de bebida final. Para
compreendermos este complexo sistema, vamos nos guiar pelos diferentes estilos:
Fino, Manzanilla, Amontillado, Oloroso, Palo Cortado e Pedro Ximenes ou Jerez
Doce.
A Pedro Ximenes é uma das uvas mencionadas. É plantada em solo do tipo
barro vermelho ou em terrenos arenosos. Após a colheita, são colocadas ao sol
para aumentar o teor de açúcar, um processo chamado soleo. Atingido o grau
desejado, as uvas são prensadas e a aguardente vínica é adicionada ao mosto,
sem fermentação. O vinho é colocado em barris, para envelhecer, obtendo-se uma
bebida doce, muito aromática e saborosa. A uva Moscatel também produz um Jerez
doce.
A uva mais importante, Palomino, recebe um tratamento diferente. É
plantada num solo bastante calcário, chamado Albariza. As uvas são prensadas e
fermentadas em grandes barris de carvalho, com capacidade entre 500 e 600 litros,
que não são totalmente cheios. Após a fase tumultuosa de fermentação, o espaço
vazio permite a formação de uma película sobre o mosto, denominada Flor. O
segredo desta complexa vinificação está na evolução desta película que, na
verdade, é uma levedura.
- Se a película for espessa e a cor permanecer um
branco amarelado, o vinho será acrescido de aguardente (encabezado) dando
origem ao tipo Fino, que é seco e de tonalidade clara.
- Caso a cor se altere e
a película for mais fina, se obtém o tipo Amontillado de tonalidade mais escura
e paladar de nozes.
- Quando o desenvolvimento da película for quase
inexistente, o produto final será o Oloroso, rico em aromas e o mais alcoólico
de todos. Este é o grande Jerez, apreciado em todo o mundo.
O estilo Palo Cortado
deriva do Amontillado. É obtido pela interrupção da Flor, seja por acidente ou
propositadamente. Aproxima-se, em cor e sabor, do Oloroso.
O Envelhecimento ou
Afinando o Vinho
O grande charme deste fortificado esta no complexo processo de
amadurecimento ou afinamento, conhecido como Solera. Começou a ser usado no
século XIX, para atender não só a grande demanda de todo o mundo, mas
principalmente para se obter um produto homogêneo, ano a ano, sem se preocupar
com as safras.
Para cada tipo de vinho são montadas três fileiras de barricas,
com capacidade de 500 litros. A fileira mais acima é a 2ª criadeira, a seguinte
é a 1ª criadeira e a última, junto ao solo, é a Solera – não confundam com o
Soleo, que vem de Sol. Desta última fileira é que sai o vinho que será
comercializado. Retirada a quantidade necessária, sempre com muita delicadeza
para não perturbar o que acontece dentro dos barris, é transferida da 1ª
criadeira a mesma quantidade. O vinho da 2 ª criadeira é usado para repor o que
falta na linha inferior e, finalmente, vinho novo é colocado na linha de cima.
Parece mais complicado do que é. A lógica toda se baseia em repor, exatamente a
mesma quantidade que for tirada em cada linha. Um detalhe importante: os barris
nunca são totalmente cheios, para permitir uma evolução, controlada do vinho.
Serviço e Harmonização
Deve ser bebido nas copitas, um cálice alto, de desenho
próprio. Uma das atrações mais elegantes que se pode presenciar, numa Bodega
Jerezana, é assistir um Venenciador servir uma copita diretamente do barril.
Venencia é a haste metálica com um pequeno reservatória na extremidade.
As
temperaturas de serviço são:
Finos e Manzanillas entre 7 a 9 º C;
Olorosos 16 º
C ;
Amontillados 14 º C ;
Pedro Ximenez 17 º C.
Os vinhos de Jerez são o acompanhamento
ideal para as tapas, aquelas pequenas entradas, muito em moda por aqui. Mas
podemos ir mais longe. Apresentamos, abaixo, algumas sugestões, por tipo de
Jerez:
Fino: servido normalmente como aperitivo. Acompanha bem mariscos, peixes
temperados fritos, hadock defumado. Tem suficiente personalidade para
contrastar com aspargos, alcachofras, comida mexicana picante ou saladas
avinagradas;
Manzanilla: por ser mais delicado é indicado especialmente como
aperitivo, acompanhado de azeitonas ou mariscos;
Amontillado: um senhor vinho
para ser degustado tranquilamente, sem pressa. Perfeito com embutidos de sabor
marcante, jamón serrano, chistorra e com o queijo manchego. Sopas de pescados,
cremosas, à base de queijo e patês de aves, são opções mais ousadas.
Oloroso: é
considerado o Jerez típico, sucesso em todo o mundo. Muito versátil, pode
acompanhar uma refeição, ser servido como aperitivo ou acompanhar sobremesas
não muito doces. Perfeito com frutas secas. O de estilo mais seco, acompanha
pratos com tempero marcante, à base de pimentão ou curry.
Pedro Ximenez: o mais
doce dos tipos de Jerez deve ser servido após as refeições ou acompanhando
sobremesas.
Olé!
Dica da Semana:
Manzanilla Clássica Hidalgo
Produtor: Hidalgo
País: Espanha/Jerez
Irmão menor do consagrado Manzanilla La Gitana, o Hidalgo é
um Jerez seco e leve, ideal para aperitivos ou para acompanhar tapas.







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