Em 2011, num leilão de vinhos realizado em Londres, uma garrafa do mítico Chateau D’Yquem, safra de 1811, foi arrematada por US$117,000.00 (cento e dezessete mil dólares). Tornou-se o mais caro vinho branco da história, entrando para o não menos famoso Livro dos Recordes – Guiness.
O feliz comprador e sua preciosa garrafa
Os leitores já devem estar
imaginando o que há de tão especial nesta garrafa. Trata-se de um fantástico vinho branco, doce, obtido através de um corte das uvas Semillon (80%) e Sauvignon Blanc (20%), numa das sub-regiões de Bordeaux (olha eles aí, de novo) denominada Sauternes. Eu entendi corretamente?
O vinho branco mais caro da história é um vinho doce, um vinho de sobremesa?
A lista de dúvidas pode ser interminável, principalmente pelo fato de não darmos a devida atenção a este segmento. Honestamente, apesar de ser o acompanhamento ideal para o fim de uma refeição, não ficam somente nisto. Podem ser tomados como aperitivos, abrindo uma boa mesa ou, em nossa opinião, é o companheiro ideal para esticar um bom momento de convivência, de forma doce e suave. Serve, ainda, para terminarmos bem, um dia duro, agitado, que pede aquele momento de desaceleração. Literalmente, adoçar o bico.
Mas na hora que vamos às compras, ninguém se lembra deles. Se imaginarmos que a lista de possibilidades é enorme, é quase um crime não ter, pelo menos, uma opção na adega. Em todos os países produtores de vinhos há uma forma de vinho de sobremesa. Alguns são famosos como os fortificados, Porto e Madeira. Os Sauternes e os Tokai são uma classe especial. Podemos citar outros como o Vin Santo, os Icewines, Passitos e Late Harvests. Todos, igualmente saborosos.
O Chateau D'Yquem
Vamos fazer um passeio por estas
delícias. Começaremos pelos dois mais famosos, os Sauternes e os Tokai: um é
francês, o outro é húngaro. O nosso herói de hoje, o Chateau D’Yquem, foi o único vinho branco, daquela região, a ser reconhecido como Premier Cru Supérieur na famosa classificação de 1855, sobre a qual se apoia a rígida legislação vinícola francesa. Seu primeiro vinhedo remonta a 1711. Apesar desta avançada idade e múltiplas trocas de comando, seus vinhos seguem firmes e continuam adoçando a vida de milhares de apreciadores. O conteúdo de uma garrafa pode estar em perfeitas condições de consumo, mesmo após 1 século de sua data de produção. Um fenômeno!
Safra 1860 e Safra 2003
É produzido, assim
como outros Sauternes, a partir das uvas que foram atacadas por um fungo, o
Botrytis Cinerea, a podridão nobre, dando origem ao termo uva botritizada. Este
apodrecimento concentra os açúcares, permitindo a obtenção do que muitos
autores chamam de luz engarrafada: um vinho doce e licoroso. Sua produção é
limitada, cerca de 65.000 garrafas por safra (nem sempre produzem), logo, é um
vinho pra lá de caro. Dizem que de cada videira só sai uma taça.
Uva
Botritizada
Já foi citado por autores do calibre de Vladmir Nabokov,
Dostoievski, Proust, Júlio Verne, Alexandre Dumas Filho, sem falar nos inúmeros
filmes em que aparece sendo consumido pelo principal personagem. Mas não é o
único Sauternes. Destacam-se, além do D’Yquem, diversos outros Chateaus: La
Tour Blanche; Lafaurie-Peyraguey; Clos Haut-Peyraguey; Rayne-Vigneau;
Suduiraut; Guiraud; só para citar alguns. Alguns produzem um vinho seco,
ocasionalmente. Infelizmente, são todos vinhos situados numa faixa de preço bem acima da média que estamos habituados. Uma das soluções é adquirir a meia garrafa.
Na próxima coluna, vamos conhecer os não menos famosos Tokai Aszú (ou Tokaji).
Dica da Semana: um Sauternes, obviamente, em ½ garrafa.
Chateau Jany
Produtor: Petits Châteaux
País: França, Bordeaux, Sauternes
Safra: 2006
Um belo achado entre os vinhos de Sauternes, este delicioso branco de sobremesa é elaborado quase apenas com uvas Sémillon. Combina notas doces e cativantes com uma ótima acidez, que deixa o vinho elegante e equilibrado. Ótima relação qualidade/preço!
Dica para a turma que não tem escorpião no bolso:
Chateau D’Yquem safra 2003
Preço acima de R$ 2.500,00






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