sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Portugal e as novas denominações vinícolas da EU – Final



Região de Lisboa 
Embora não seja uma nova região, apenas uma troca de denominação, desde o tempo que era conhecida como Estremadura tornou-se uma das regiões mais importantes no cenário vitivinícola de Portugal, com seus vinhedos cultivados há muitos séculos e uma enorme contribuição cultural com vinhos históricos.
Em termos de volume de produção é a mais importante região do país. Está subdividida em nove sub-regiões, todas classificadas como DOC ou DOP segundo as novas regras. Vejam a ilustração acima:
1 – Encostas de Aire;
2 – Lourinhã;
3 – Óbidos;
4 – Torres Vedras;
5 – Alenquer;
6 – Arruda;
7 – Colares;
8 – Carcavelos;
9 - Bucelas.
Com uma desconcertante variedade de vinhos produzidos por diversas castas, destacam-se as brancas Arinto, Fernão Pires, Malvasia, Seara Nova e Vital. Entre as tintas encontramos Aragonês, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Em termos de terroirs há um pouco de tudo, desde vinhedos plantados à beira-mar até solos mais interioranos.
Alguns produtores são famosos e bem conhecidos no Brasil, por exemplo, Bacalhoa Vinhos de Portugal e Quinta da Chocapalha. Mas algumas regiões são de importância histórica como Bucelas, Carcavelos e Colares.
O vinho branco de Bucelas é produzido desde o tempo dos Romanos. Coube ao Duque de Wellington levá-lo para o Reino Unido onde se tornou um vinho de muito sucesso. Hoje a produção é bem pequena, mas a qualidade deste vinho obtido com a casta Arinto se mantém entre as melhores de Portugal.
A sub-região de Colares recebeu sua denominação protegida em 1908, embora a produção vinícola remontasse a 1255 quando D. Afonso III fez a doação do “Reguengo de Colares”. Seus tintos são especiais, muito escuros e encorpados, características decorrentes da peculiar localização e terreno dos vinhedos: junto à costa em solos muito arenosos e soltos. As castas estão plantadas diretamente na areia, sem enxertos. Foi uma das poucas regiões que nunca sofreu com a Filoxera.
O “Vinho de Carcavelos” é um vinho generoso, muito famoso e raro nos dias de hoje. Sua história remonta ao Reinado de D. José I (1750 a 1777) quando, por influência do Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, este vinho produzido na Quinta de Oeiras conquistou fama internacional sendo enviado até para Pequim. O mesmo Duque de Wellington, já citado, foi outro apreciador e divulgador das qualidades deste ‘licoroso’.
Atualmente esta região está dentro de áreas urbanas (grande Lisboa e Estoril) quase impossibilitando sua produção. Desde 1977 grandes esforços tem sido feito no sentido de recuperar as áreas produtivas e assegurar uma maior produção desta preciosidade. Como estratégia de marketing, a nova marca comercial deste vinho é “Conde de Oeiras”.
Cito o nosso leitor Laureano Santos, morador de Oeiras: “Dificilmente encontrará à venda aqui em Portugal, pelo que no Brasil”...
Região do Tejo
Outra região que apenas mudou sua denominação. A antiga era Ribatejo. Subdivide-se em Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar. Tem como característica importante uma legislação mais frouxa que permite, sem muitas restrições, o plantio de castas ‘estrangeiras’ junto com castas locais.
Brancas: Arinto, Fernão Pires, Tália, Trincadeira das Pratas e Vital, às quais se juntam Chardonnay e Sauvignon Blanc;
Tintas: Castelão e Trincadeira, além de Aragonez, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot.
Conscientemente deixamos de mencionar as regiões mais conhecidas e outras que nos últimos anos deixaram de ser importantes neste cenário. Em breve voltaremos a escrever sobre o fantástico mundo dos vinhos de Portugal.

Dica da Semana: vamos homenagear os bons tintos da região do Douro.

Crasto Douro DOC
Castas: Uvas: Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional.
Localizada na margem direita do rio Douro, a meia distância entre a Régua e o Pinhão, a Quinta do Crasto já figurava no mapa do Barão de Forrester. Este vinho revela um aroma muito vigoroso de frutos vermelhos, com boas notas de especiarias. Na boca mostra uma boa estrutura, com taninos firmes e uma acidez equilibrada. Quinta do Crasto Douro foi ligeiramente filtrado antes de ser engarrafado.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Portugal e as novas denominações vinícolas da EU – 1ª parte

Com a intenção de padronizar as diversas formas de denominação de vinhos utilizadas dentro do mercado comum da União Europeia, foi elaborada uma regulamentação a ser adotada por todos os países produtores. Basicamente são reconhecidas duas categorias de vinhos, os “Vinhos de Mesa” e os “Vinhos de Qualidade Produzidos em Regiões Determinadas.” Nesta última é que se enquadram os vinhos de “Indicação Geográfica Protegida (IGP)” e os vinhos de “Denominação de Origem Protegida”.
Alguns países não estão aceitando estas mudanças facilmente. A França, por exemplo, não quer trocar “AOC” por um “AOP”. Se pensarmos em Alemanha e Itália, com inúmeras denominações regionais importantes, fica fácil perceber que a batalha será longa. Mas há vantagens nesta mudança, tanto para o consumidor quanto para os produtores: para a implantação do novo sistema será necessária uma ampla atualização das regiões demarcadas, o que vai implicar em controles mais rígidos sobre o que será produzido, eliminando o risco do consumidor final comprar ‘gato por lebre’.
O primeiro país produtor europeu que se adequou às novas regras foi Portugal, e o fez com muito sucesso. O mapa a seguir, obtido no site “Wines of Portugal”, mostra todas as regiões produtoras com suas novas denominações. Algumas se mantiveram, surgiram novas que não existiam e poucas mudaram de nome (Estremadura virou Lisboa, Ribatejo virou Tejo, etc.)
Não vamos detalhar as regiões mais tradicionais como Vinho Verde, Porto e Douro, Alentejo, Madeira, entre outras. Vamos olhar o que nos é pouco conhecido. Alguns destes vinhos talvez nunca cheguem por aqui.
A região de Trás-os–Montes é quase uma extensão do Douro e produz vinhos e azeites de 1ª qualidade. Subdividida em três sub-regiões: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês; cultivam as seguintes castas:
Brancas: Côdega do Larinho, Fernão Pires, Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato, Síria e Viosinho;
Tintas: Bastardo, Marufo, Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira.
A região de Távora e Varosa foi demarcada em 1989 e se dedica a produzir espumantes. Foi a primeira a ser certificada como “DOP” em Portugal para este tipo de vinho. Castas cultivadas: 
Brancas: Bical, Cerceal, Fernão Pires, Gouveio e Malvasia Fina;
Tintas: Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional.
Além destas uvas típicas do país, cultivam a Chardonnay e Pinot Noir, essenciais para espumantes. 
Beira do Interior é a região mais montanhosa de Portugal. Seus solos graníticos produzem vinhos muito minerais e bastante típicos. Esta dividida em três sub-regiões: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira. As duas primeiras, apesar de separadas por cadeias montanhosas, produzem vinhos muito semelhantes. Cova da beira, que se estende desde a conhecida Serra da Estrela até o vale do Rio Tejo, produz vinhos com características próprias. Principais castas:
Brancas: Arinto, Fonte Cal, Malvasia Fina, Rabo de Ovelha e Síria;
Tintas: Bastardo, Marufo, Rufete, Tinta Roriz e Touriga Nacional.

Semana que vem mais algumas regiões. Até lá, divirtam-se com a...

Dica da Semana: mais um bom vinho português, elaborado com uma uva internacional.



Cortes de Cima Syrah 
Exibe excepcionais frutos silvestres, com especiarias e alguma baunilha. No paladar, os frutos densos estão muito bem integrados, com os taninos do carvalho e o fim de boca persistente e longo.
Tem uma extensa relação de prêmios em várias safras.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Decantar: sim ou não?

O mundo do vinho tem vários temas que geram discussões infindáveis, por exemplo: vinhos do Velho Mundo e do Novo Mundo, algo como comparar austeros senhores que fumam charutos e jogam Bridge, com uma garotada que vai à praia e ao show de Rock and Roll. Mais questionável ainda é a discussão sobre decantar ou não vinhos e as modernas variantes como aerar e até mesmo agitar com um mixer.
A necessidade de decantar um vinho surge quando se vai servir um vinho como um ótimo Bordeaux que foi guardado por 10 ou mais anos. Há um depósito de resíduos na garrafa, a borra, que deve ser evitada ao verter o vinho em uma taça. O melhor truque é usar um decantador, seguindo um bonito ritual em que o Sommelier verte cuidadosamente o líquido no jarro e, com o auxílio de uma vela estrategicamente colocada sob o gargalo da garrafa consegue interromper a operação ao aparecer o primeiro vestígio do resíduo.
Após esta explicação, parece totalmente sem sentido decantar um vinho jovem, como os produzidos no Novo Mundo. Posso assegurar que estamos entrando num campo cheio de armadilhas com defensores ferrenhos do ‘Sim, devemos!’ e do ‘Não devemos!’. Para complicar, há razões de sobra para apoiar qualquer dos lados.
A alegação mais comum dos que defendem a decantação do vinho jovem é que a oxigenação obtida com este processo começa a domá-lo e alegra o nosso paladar. Ponto para eles, mas esta não é a única maneira de aerar um vinho, jovem ou maduro: existe uma grande variedade de acessórios para esta finalidade, o mais famoso talvez seja o Vinturi. Mas não separa sedimentos.
O que realmente acontece quando decantamos um vinho?
A ciência tem explicações interessantes. Um estudo feito pela Escola de Farmácia de Shenyang demonstrou que este procedimento efetivamente altera a composição química do vinho, diminuindo a concentração dos ácidos orgânicos que são importantes agentes na formação dos sabores azedos. A presença de polifenóis, tanino entre eles, também diminui, tornando o vinho mais agradável.
Uma descoberta que surpreendeu os especialistas foi a influência da temperatura ambiente e da intensidade luminosa: aumentando significativamente estes dois fatores, o vinho reage rapidamente e pode ser consumido antes do tempo padrão de espera, que gira em torno de 1 hora. Mas nada de exageros, procure o lugar mais quente da sala e acenda todas as luzes...
No lado negativo, este mesmo estudo mostrou que se há um ganho no paladar, em contrapartida ocorre uma perda significativa dos famosos antioxidantes que trariam benefícios à saúde de todos. Só por isto já não seria recomendado decantar.
Nem mesmo o estudo da Escola de Farmácia fica impune: outra corrente de estudiosos da química afirma que a quantidade de oxigênio incorporada ao vinho pela decantação não seria suficiente para permitir as alterações alegadas. Em lugar de 1 hora seriam necessárias 12 horas ou mais para permitir que todas as reações se completem de modo satisfatório. Isto não é prático...
Pode parecer, neste ponto, que apreciadores de um bom vinho estão perdendo a razão. Uma nova corrente, liderada por Nathan Myhrvold, uma polêmica figura que mistura tecnologia com alta gastronomia – ele já foi o Chefe de Tecnologia da Microsoft – introduziu a “hiperdecantação”, um processo radical:
- esqueçam delicadezas ou sutilezas, verte-se o vinho num copo cilíndrico e com o auxílio de um mixer de cozinha agita-se vigorosamente por 30 a 60 segundos. Pode-se usar um liquidificador, como alternativa. Aguarda-se a espuma baixar para degustar.
Segundo este autor de ‘Modernist Cusine’, o mesmo efeito pode ser obtido fechando a garrafa com uma tampa temporária e submetendo-a a uma agitação intensa. Coisa impensável segundo os cânones do vinho.
Resumo da ópera: obviamente testamos este inovador processo. Os resultados foram desanimadores, mas ainda não desistimos totalmente de fazer uma nova experiência. O nosso sistema preferido é usar um bom aerador. Vinturi e Vinoair são os preferidos.
Como sugestão final, aconselhamos que experimentem estas técnicas radicais e tirem suas conclusões. Mas não estraguem um bom vinho!

Dica da Semana: para decantar com todo o requinte!

Sessantanni" Farnese Primitivo di Manduria DOC 2009
Elaborado com 100% da casta Primitivo.
Vinho de cor rubi intensa e profundida. Aroma de frutas, com notas de café e doce tabaco. Este é um vinho suave e rico, com sabores de frutas vermelhas, cerejas e toques de frutas secas. É apoiado por um denso e complexo meio, com taninos suficientes para equilibrar os enormes sabores, terminando em um incrivelmente rico e acetinado final.
Harmonização: Acompanha carne vermelha grelhada, caça e massas com molhos intensos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A uva Tannat tem seu genoma desvendado

A dica de vinho da semana passada era um belo vinho uruguaio, com ótima relação custo x benefício. Mas não poderia imaginar que, além disto, descobertas muito recentes de pesquisadores daquele país junto com italianos acrescentam mais um fator: ótimo para a saúde!
Tudo isto só foi possível com o estudo do DNA desta curiosa casta, originária da região de Madiran, França, aos pés dos Pireneus e bem próxima à Espanha. Aqui no nosso vizinho Uruguai encontrou seu terroir especial.
Numa recente entrevista, o Professor Francisco Carrau que liderou esta importante pesquisa feita pelo Programa de Biodiversidade na América Latina e Caribe (BIOLAC) da Universidade das Nações Unidas, em Montevidéu, mencionou:
“A vinificação sempre foi uma arte; hoje em dia é uma ciência também. Se pudermos determinar, através da biotecnologia, os fatores que determinam a cor e o aroma dos vinhos, poderemos aplicar potencialmente esta informação para criar produtos mais prazerosos e valiosos.”
O que torna este estudo particularmente interessante é a carga de taninos que carrega esta uva. Seu nome, Tannat, pode ser traduzido em linhas gerais como “Tânica”: o que poderia ser um fator negativo é seu grande trunfo.
Comparada com a Cabernet Sauvignon, Merlot ou Pinot Noir, a quantidade de taninos mais que dobra nos vinhos obtidos com esta uva franco-uruguaia. Isto significa uma alta concentração de agentes antioxidantes que ajudam a combater o envelhecimento das células, propriedade atribuída ao grande número de sementes nos bagos. Os altos níveis detectados de Procianidinas, quatro vezes mais que as encontradas em outros vinhos, ajudam efetivamente a combater a pressão alta, baixar o colesterol e melhorar as condições de coagulação do sangue.
Não resisto ao chavão: em lugar de rir, Vinho é o melhor remédio!
© AFP/Francisco Carrau
Dica da Semana: os vinhos portugueses nunca saem de moda. Mais um belo produto para termos em nossa adega.



Pacato 2009 Vinificado no Alentejo com as castas Trincadeira e Syrah é concentrado e cheio de fruta. Um vinho fácil de gostar com ótima relação custo x benefício.
Harmoniza com pizza, churrasco, risotos, massas com molhos à base de tomate e queijos em geral.