Existe um jargão próprio dos Enófilos e Sommeliers.
Descrever um vinho é tão importante quanto saboreá-lo corretamente.
Dominar este vocabulário é quase uma arte, muitos dos termos empregados,
os "descritores", são adaptados de outras expressões comuns, seja por
semelhança, seja por traduções mal feitas (o Brasil engatinha neste
assunto) e até por razões estranhas, por exemplo, quando alguma
celebridade cunha um termo que acaba caindo no gosto de todos.
Objeto de colunas anteriores, mostramos
que um vinho tem acidez, mas não é um ácido. Esta é uma característica
desejável nos brancos, para os tornarem frescos e agradáveis, além de
necessária nos tintos para contrabalançar os taninos. Alguns vinhos
tintos são elaborados com um maior teor de taninos para serem longevos.
Acidez e Tanicidade são dois descritores
muito importantes e largamente empregados nas fichas técnicas, leitura
obrigatória para quem pesquisa bons vinhos e deseja comprá-los com
segurança.
Mas o que pensar quando um importante crítico de vinhos como Hugh Johnson menciona: “tintos elegantes”?
O leigo irá logo imaginar uma bonita
garrafa, um rótulo alinhado, tudo vendido dentro de uma fina bolsa de
veludo ou quem sabe num elaborado estojo de madeira. Não é nada disto.
Muito cuidado com vinhos embalados assim...
Começamos pela definição da palavra "Elegante":
1. Que se veste com bom gosto (professor elegante).
2. Que se movimenta ou se comporta de maneira graciosa, harmônica (dançarino elegante).
3. Que revela requinte, gosto estético
apurado: "A sala da casinha era simples e pequena, mas muito
elegante..." (Aluísio Azevedo, O cortiço)
4. Que demonstra ter boa educação, distinção, correção em suas atitudes.
5. Diz-se de local frequentado por pessoas requintadas: Fomos a um restaurante elegante.
6. Que realiza sua função ou resolve um
problemas de maneira simples, jeitosa, estética etc.: Achou uma solução
elegante para o projeto gráfico.
Percebe-se que o mundo do vinho não foi contemplado com uma explicação.
Vamos a ela, começando por suas raízes latinas:
1 – do latim "ligare", que significa amarrar, unir, juntar;
2 – do latim "eligere", que significa selecionar, eleger.
Há um nítido viés cultural nestes dois
verbos que nos passam a sensação de equilíbrio, igualdade ou
entrosamento. Nesta linha podemos afirmar que:
Um vinho elegante é um vinho que
demonstra um notável equilíbrio entre acidez, tanicidade, teor
alcoólico, frutas e madeira. Uma bebida cheia de sutilezas que exigirão
um paladar apurado para desfrutá-la.
O termo pode ser aplicado a qualquer tipo
de vinho, mas não é tarefa fácil perceber a relação de igualdade entre
todas estas características.
Alguns autores, por esta razão, preferem explicar este descritor por negação:
Um vinho que não é imponente, não é
frutado, não é opulento, não é brilhante.
Ou seja, não tem uma
caraterística que se destaca mais que outras. É como um ator veterano
que toda vez que entra em cena ofusca o resto do elenco.
Múltiplas
qualidades que impõem um tremendo respeito.
Exemplos típicos de vinhos elegantes são
os de Bordeaux. Mas não pensem que, ao chegarem ao mercado estão
prontos, serão necessários alguns anos em garrafa para atingir este
equilíbrio. Pergunte a quem já provou um vinho deste ainda jovem.
Alguns sinônimos adotados por diversos autores: Polido, Fino, Delicado e Gracioso.
Concluindo: Elegante é um vinho que enche a boca, redondo, aveludado, sápido e que nos deixa satisfeito ao degustá-lo.
Dica da Semana: um Syrah dentro desta definição.
Casas Del Bosque Gran Reserva Syrah
Apresenta-se como um grande expoente deste varietal.
É um vinho elegante caracterizado pelos aromas de pimenta negra, marmelada de frutas vermelhas e maduras.
Na boca apresenta uma acidez
balanceada e, na parte média do céu da boca um frutado, untuoso de
grande corpo, terminando com uma sutil adstringência própria de taninos
maduros.
É um vinho elegante do princípio ao fim.


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