sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Sobre as "Dicas da Semana"

Nesta última coluna de 2015 vamos tenta atender a uma das nossas leitoras mais assíduas. Eis o simpático email que nos enviou em novembro:

“Tuty,
Adoro suas colunas e sempre que possível mando email perguntando alguma coisa. Ontem me ocorreu uma coisa que pode ser uma sugestão pra vc pensar numa coluna. Uma seleção de todas as dicas da semana. Os top 20 ou os top 10, ou sei lá o quê... Algumas foram fáceis de encontrar, outras difíceis mesmo encontrando, pelo preço, mas acho que valeria a pena fazer uma seleção das melhores, embora sejam todas boas, sempre haverá as melhores.
Por tipo de vinho, por cifrõeszinhos, por país produtor, por tipo de uva e por aí vai... acho que daria uma boa série de colunas ou estou enganada?
É apenas uma sugestão, prometo não ficar aborrecida se vc não aceitá-la, ok? rs
Maria Lucia-Salvador”

A ideia é muito boa, mas existem alguns complicadores que impedem que as sugestões da Maria Lucia sejam atendidas completamente. Explico:

1 – Nunca recebemos um retorno específico sobre qualquer das mais de 240 dicas sugeridas desde 2011. Curioso, mas verdadeiro.
Houve reclamações como ‘cadê os vinhos caros ($$$)’ ou mesmo um comentário sobre a impossibilidade de comprar uma ou outra dica em algum remoto recanto brasileiro.
Até hoje nunca descobrimos se alguma indicação foi considerada boa ou ruim pelos leitores...
Isto posto, não temos como fazer uma relação de melhores (Top 10). O ideal seria que este ranking fosse feito com base na experiência dos leitores.

2 – Outro fator que se perdeu ao longo destes 4 anos foi a escala de preços. Nossa economia variou muito e o mercado de vinhos, mesmo em relação aos vinhos nacionais, é muito sensível à mudanças na taxa cambial e no regime fiscal. Manter a lista dos preços atualizada e corrigida ao longo deste tempo seria uma tarefa para um bom economista e não para um enófilo.
Portanto, a classificação por faixa de preços simplesmente não pode ser organizada.

3 – O último fator, que não ajuda em nada este tipo de trabalho, é que muitos dos vinhos indicados já não existem mais à venda. Safras são limitadas e muitas vezes o produtor de um determinado rótulo decide, por razões mercadológicas, não mais produzi-lo.

Mas ainda há muita informação útil e divertida. Vamos tentar atender ao máximo aos nossos leitores mais curiosos.

Dicas Duplicadas

Compilada a listagem, para nossa surpresa descobrimos que alguns vinhos foram indicados mais de uma vez. Eis a listinha:

Abril 2013 - Coyam Orgânico (CHI)
Junho 2013 - Coyam 2010
É o mesmo vinho, aliás excelente.

Março 2015 - Dal Pizzol Merlot (BRA)
Julho 2015 - Dal Pizzol Merlot
Novamente, repetimos o vinho. Este parece ser um favorito nosso.

Nesta segunda relação estão vinhos que foram indicados em safras diferentes. Sinal que são realmente boas opções:

Julho 2011 e outubro 2014 - Innominabile Lotes III e IV (BRA)
Agosto 2011 e abril 2014 - La Flor de Pulenta Cabernet Sauvignon (ARG)
Julho 2013 e novembro 2014 - Memoro Rosato (ITA)
Junho 2014 e novembro 2015 - Petalos del Bierzo (ESP)
Fevereiro 2011 e maio 2014 - Tilia Malbec Syrah (ARG) 1ª Dica da Semana

Múltiplas dicas e sem dicas

Em algumas colunas estávamos muito aborrecidos com as tentativas de criar reservas de mercado e outras taxações que resolvemos, como forma de protesto, não indicar nada: março e abril de 2012.

Em compensação, indicamos mais de 1 vinho em diversas colunas, eis algumas delas:
Dezembro 2011 – diversos espumantes e na coluna seguinte 9 vinhos entre tintos e brancos

Maio 2012 - apresentamos os 10 vinhos premiados na Expovinis 2012
Abril 2015 – 3 Malbec para celebrar o seu dia (17/04)
Maio 2015 – 3 vinhos premiados na Expovinis 2015

Na série em três partes, “Adoçando a Vida”, foram duas dicas por capítulo, uma para os pobres mortais e a outra, usando uma terminologia bem atual, para a turma do Lava-Jato, Zelotes, etc...

Para completar, indicamos destilados de vinho em outubro de 2011 e jogos e outros acessórios na série “Compreendendo o Vinho” de julho 2011.

Países mais indicados

Argentina – 49
Brasil – 29
Chile – 36
Itália – 32
Portugal – 21

O pais menos indicado foi a Hungria, com 1 dica apenas.

Poderíamos inferir a uva que apareceu mais vezes, mas vamos apontar apenas como uma possibilidade, a Malbec, em virtude do maior número de dicas argentinas.

Mas pode não ser verdade. Se somarmos as sugestões chilenas e francesas, entre outras, é possível que o cetro passe para a Cabernet Sauvignon, seja como varietal ou em cortes. No momento não temos como avaliar este quesito.

Safras mais indicadas

2008 – 24
2009 – 27
2010 – 28

Em noventa sugestões não havia indicação da safra. Entre eles estão vinhos que normalmente não são safrados, como Fortificados, Espumantes e edições especiais. Em outros casos, foi por falha nossa: simplesmente omitimos esta informação.

Para finalizar, neste link se encontra a relação completa com a dica desta semana, inclusive.

As colunas anteriores, organizadas cronologicamente, podem ser lidas no meu Blog, “O Boletim do Vinho”, neste endereço: www.colunadotuty.com.br

Feliz Natal e um ótimo 2016, ano de eleições municipais.

Por favor, não reelejam nenhum dos atuais Prefeitos e Vereadores de suas cidades e estados. Vamos castigar todos eles, assim como fazem conosco.

Vinho da Semana: um espumante para as festas de fim de ano.

Quinta Don Bonifácio Brut Habitat


Vinificado com as castas Uvas Chardonnay e Pinot Noir pelo método tradicional.
Apresenta coloração amarelo palha, perlage muito fina e delicada.
Aromas persistentes, lembrando pão torrado e frutas vermelhas frescas. No palato é amanteigado e muito equilibrado.
Eleito o melhor espumante da Expovinis 2012.
 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vinhos “On the rocks”

O mundo do vinho tem aspectos muito curiosos, por exemplo, enquanto existe um lado totalmente conservador e quase engessado, como as eternas referências de Bordeaux e Bourgogne, o resto do mundo usa estratégias moderníssimas de marketing para atrair os mais variados tipos de consumidores para seus multivariados tipos de vinhos.

Dentro desta linha, existem vinhos para o público feminino, para os jovens, para fumantes de charutos e uma infinidade de outras faixas que nos fazem crer que deve existir, em alguma vinícola do mundo, um vinho elaborado especialmente para você.

A última novidade mercadológica são os vinhos produzidos para serem consumidos com pedras de gelo na taça. São vinificações especiais, em que se levou em conta a diluição por conta da água adicional do degelo. Dois produtos deste tipo estão disponíveis no nosso país, ambos vindos da França: um espumante e um rosé tranquilo.

Inveja do “whisky on the rocks” ou uma tentativa de conquistar clientes neste segmento?

Möet & Chandon Ice Imperial


Quando uma respeitada vinícola, do calibre desta, resolve colocar um novo e “revolucionário” produto no mercado, muita coisa está em jogo, a mais importante delas: o nome Möet & Chandon.

Para começar, “Ice” é uma nova classificação que se soma às tradicionais “Brut” e “Demi-Sec”. Para quem não sabe, Ice quer dizer gelo, em inglês. Pelo simples fato de usarem um anglicismo, coisa que os franceses simplesmente odeiam, indica claramente que é um Champagne para ser exportado. Não acredito que os nativos vão consumir isto.

A título de curiosidade, se em lugar do termo inglês usassem o francês, ficaria assim: “Glace Imperial”...

Aproxima-se de um espumante meio-doce. Elaborado com um corte de Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, com uma dosagem final de 45g/l de açúcar. É muito frutado apresentando aromas de manga e goiaba, além de notas de nectarina e framboesa. No palato é amplo destacando-se um carnudo e voluptuoso sabor de salada de frutas. Doçura próxima de um caramelo ou marmelada (suspeito...). Acidez refrescante com notas de gengibre.

A foto que ilustra serve para explicar que deve ser consumido em taças próprias para Cabernet Sauvignon, com 3 pedras de gelo. Pode-se acrescentar folhas de hortelã, sementes da cardamomo, raspas de frutas cítricas, casca de pepino, gengibre ou frutas vermelhas.

O problema é seu preço nas prateleiras nacionais: quase R$ 400,00...

Rosé Piscine

Esta proposta, na mesma linha da anterior, é bem mais palatável, tanto no custo quanto no capítulo de aromas e sabores.


A cor é muito bonita e nos convida para experimentá-lo rapidamente. Óbvio que a primeira ideia é fazer a comparação com e sem gelo. Recomendamos que façam como na foto, em copos “ Old Fashioned” com duas ou 3 pedras de gelo.

Elaborado com a casta Negrete pelo Grupo Vinovalie, criado em 2006, que reúne quatro cooperativas de vinhos do país e alguns châteaux, na região sudoeste da França.

Bonita coloração rosé-salmão pálido, quase transparente, com reflexos azulados. Seu nariz é refinado, com notas de limão e morango. Paladar harmonioso, que harmoniza bem com Camarão, terrine de peixe, peixes em molhos cítricos, queijo fresco com ervas.

Numa de nossas recentes reuniões foi muito apreciado. A garrafa esvaziou em poucos minutos.

Dica da Semana: não poderia ser outro.

 Rosé Piscine

Apenas siga as recomendações:

Servir entre 8° - 11°C

BEBER ABSOLUTAMENTE COM GELO

domingo, 6 de dezembro de 2015

"Avant-première" dos Vinhos de Colchagua

Tendo como cenário os elegantes salões do icônico Hotel Copacabana Palace, a Associação Viñas de Colchagua realizou no Rio de Janeiro o seu mais importante evento internacional, a ‘Avant-Première Viñas de Colchagua’.

O Vale de Colchagua é uma das mais conhecidas e importantes regiões produtoras do Chile. Localizada na sua região central ("Entre Cordilheiras"), é responsável por 60% da produção vinícola deste país.

Organizado pela CH2a Comunicação, sob a batuta de Alessandra Cassolato, o evento contou com a presença das vinícolas Bisquertt, Casa Silva, Lapostolle, Los Vascos, Luis Felipe Edwards, Montes, MontGras, Santa Cruz, Santa Helena, Siegel, Viña Ventisquero e Viu Manent, e a convidada Lurton.

Uma Master Class conduzida por Marcelo Copelo reuniu importantes formadores de opinião e profissionais do setor, que tiveram a oportunidade de degustar comparativamente 12 vinhos selecionados para expressar a diversidade e qualidade dos produtos elaborados no Vale de Colchagua. Foi possível avaliar o potencial de guarda e a evolução destes vinhos provando-se as safras desde 2006 até 2012. Cada produto foi comentado por um de seus enólogos. Um show à parte.

Na degustação aberta que seguiu à aula, foi possível experimentar os diversos rótulos de cada vinícola, muitos ainda por chegar ao mercado. Por esta razão, o evento foi denominado uma “Avant-première”. Além das mesas de cada produtor, havia uma ilha oferecendo somente tintos de alta gama elaborados com a emblemática Carménère.

Nossos destaques

Quase uma impossibilidade escolher o melhor entre os melhores. Mas alguns vinhos nos impressionaram por apresentarem características que fogem do habitual.

A mesa que mais chamou a nossa atenção foi a da Los Vascos, vinícola chilena de alma francesa, conduzida pelo renomado Chatêau Lafite da família Rothschild. Seus vinhos de terroir, que não passam por madeira, foram uma agradável surpresa: Chardonnay, Rosé e Cabernet Sauvignon. De corpo leve a médio e muito saborosos, pareciam dedicados ao clima da Cidade Maravilhosa.


Um produtor, ainda sem representante no nosso país, foi outra surpresa positiva: Viña Santa Cruz.

Não haviamos nos interessado, inicialmente, por puro desconhecimento, mas uma garrafa no estilo do Rhone chamou a nossa atenção e lá fomos provar mais algumas delícias: o excelente Tupu e os Chamán Malbec e Syrah, entre outros produtos, fizeram o nosso paladar descobrir novas e inesperadas experiências.

O Tupu, um vinho de edição limitada elaborado apenas em safras muito boas, é um corte de Carménère, Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec. Classificamos como uma fusão entre Bordeaux e Rhône à moda chilena. Delicioso!


O destaque individual entre todos os vinhos degustados foi o premiado Pangea, elaborado pela Viña Ventisquero, que será a nossa indicação da semana.

Dica da Semana: Um Syrah chileno fora de série.

 Ventisquero Pangea 2010

Elaborados com uvas selecionadas nos diversos solos da região de Apalta e uma fermentação especial.
Amadurecido por 18 meses em barricas de carvalho francês e 1 ano na garrafa. Grande corpo, concentrado, equlibrado e redondo.
Concentra toda a pureza e elegância desta casta.

Prêmios: Descorchados – 92 pts; Guia Mujer y Vino - 93 pts; Decanter World Wine Awards – Medalha de Prata.


Agradecemos a colaboração da amiga e blogueira Leila Bumachar pela cessão de fotos e outras informações. 
Não deixem de visitar seu excelente blog neste endereço:

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Derrubando ditaduras

Nem sempre alguns aspectos do mundo do vinho podem ser classificados como democráticos. Sem dúvida que o tema desta semana decorre das diversas situações vividas em todo o mundo, numa eterna disputa entre regimes democráticos, socialistas e totalitários.
Embora não tenha havido (ainda) qualquer ato de terrorismo que envolva vinícolas ou enófilos, existem algumas ditaduras que parecem nunca ter fim. Uma delas é a exigência de harmonizar vinho e comida.

Um grupo de apreciadores de vinhos, escritores especializados e até mesmo renomados críticos são opositores constantes destas engessadas regras que, muitas vezes, podem estragar uma boa reunião.

Não existe um fato que possa ser considerado como o marco inicial da ideia que devemos harmonizar, sempre, nossos alimentos com os vinhos.

Aparentemente foi no século 19, na Europa, que apareceram as primeiras ideias sobre este assunto. Nos EUA, após o fim da Lei Seca, estas regras, ainda em forma bem simples, tomaram certo vulto, apoiadas por ideólogos que rapidamente encontravam justificativas para combinar um vinho com este ou aquele alimento, o que implicava ser “proibida” qualquer alternativa.

No mundo moderno, se formos olhar direitinho o que acontece neste mercado, vamos descobrir que são tantas as possibilidades que, literalmente, enfraqueceram estas quase sagradas regras a ponto de estarem se tornando obsoletas: a variedade e a qualidade dos vinhos de hoje torna qualquer tentativa de estabelecer regras uma impossibilidade.

Some-se a isto o fato de o ser humano ter a necessidade de compensar as suas agruras diárias com uma boa dose de entretenimento e prazer.

A palavra negócio significa negação do ócio. Mas é nos momentos de ócio que nos tornamos mais criativos, mais reais, produzimos para nós mesmos, sonhamos.

Por que engessar este momento com mais regras, principalmente se estamos tentando nos liberar de toda e qualquer amarra?

Em 1989 foi publicado um interessante livro, escrito pelo Chef David Rosengarten e por Josh Wesson, criador da loja de vinhos Best Cellars (estoca apenas 100 vinhos e nenhum deles custaria mais que 10 dólares), com título “Vinho tinto com peixe” (Red Wine With Fish). Embora não tenha rompido com nenhuma convenção estabelecida, provocou muita discussão criando uma brecha nas inflexíveis harmonizações.

A partir desta iniciativa, diversas tendências foram surgindo, algo como “beba o vinho que mais lhe agrade”. Há uma nítida analogia com o movimento “slow food” em oposição à outra ditadura, a do “fast food” que surge depois do “tempo é dinheiro”, outro grande negócio: não perca tempo almoçando, trabalhe mais e ganhe mais dinheiro...

Para que, afinal?

Compramos um grande vinho, temos que esperar a ocasião adequada e para complicar mais um pouco encontrar o prato certo para acompanhar.

Simplifique! Desgourmetize!

Se alguma coisa sair errado, aproveitamos para rir um pouco e tirar proveito da situação. Sempre é possível corrigir o rumo das coisas.

Dica da Semana: um branco chileno que cai bem em qualquer refeição.

Los Vascos Chardonnay 2014

Este Chardonnay, com pedigree francês e sem estágio em carvalho, é tipicamente chileno: límpido, frutado e fresco.

Elegantes aromas lembram notas de abacaxi, banana, grapefruit, damasco e amêndoa.
Na boca é saboroso, fresco, deliciosamente frutado, com boa estrutura e longo final.


Premiações: Bronze no IWCh (2012); Bronze na IWSC (2013); WA 86 pts (2011); WA 88 pts (2010)

domingo, 22 de novembro de 2015

Os 100 melhores vinhos de 2015 – Wine Spectator

No próximo mês de fevereiro (2016) completamos cinco anos da Coluna de Vinhos. Há leitores, fiéis, que nos acompanham desde então e alguns deles afirmam, em suas mensagens, que consideram tudo que já foi publicado como um curso sobre vinhos.

(Este "professor" agradece o elogio, mas sabe que nem sempre os assuntos são do interesse de todos.) 

Gostamos de publicar listas de melhores vinhos. Há vários ensinamentos nestas relações. Nas primeiras que mostramos, o interesse dos leitores certamente foi mais para o lado da curiosidade. Atualmente outros aspectos se tornam mais relevantes.

A lista da respeitada revista Wine Spectator é aguardada com muita expectativa por todos os aficionados. Ao contrário das avaliações de Robert Parker, calcadas no seu estilo próprio, esta publicação analisa aproximadamente 18.000 vinhos durante todo o ano. O trabalho de filtragem até os 100 melhores é digno de uma tarefa hercúlea.

O primeiro passo é produzido por dez editores regionais que submetem suas sugestões e análises, levando em conta um interessante conjunto de fatores:

qualidade, preço, disponibilidade no mercado e um fator apelidado de “X” que indicaria um grau de excitação sobre as possibilidades de um determinado candidato.

Esta primeira relação é reduzida sucessivamente em listas menores, um trabalho a cargo de três importantes editores seniores.

Para a o filtro final, que inclui a escolha dos 10 melhores, são reconvocados os editores regionais e forma-se um painel de degustadores. As discussões costumam ser acaloradas...

É nossa opinião que conhecer o ganhador absoluto é o fato menos importante. Reconhecer as tendências e o aglomerado de vinhos desta ou daquela região são os pontos que vão nos ajudar em escolhas futuras e montar uma boa adega.

Obviamente, os melhores vinhos desaparecem do mercado como num passe de mágica. Devido à situação econômica atual de nosso país é bem provável que alguns rótulos jamais cheguem às prateleiras das lojas nacionais.

Em 2014, os vinhos portugueses foram os mais reverenciados. Neste ano, no centro do palco, estão os americanos e italianos. Interessante mudança.

Conheçam os 10 mais:

1 - Peter Michael Cabernet Sauvignon Oakville Au Paradis, 2012, 96 pts (EUA)

2 - Quilceda Creek Cabernet Sauvignon Columbia Valley, 2012, 96 pts (EUA)

3 - Evening Land Pinot Noir Eola-Amity Hills Seven Springs Vineyard La Source, 2012, 98 pts (EUA)

4 - Il Poggione Brunello di Montalcino, 2010, 95 pts (ITA)

5 - Mount Eden Vineyards Chardonnay Santa Cruz Mountains, 2012, 95 pts (EUA)

6 - Bodegas Aalto Ribera del Duero, 2012, 94 pts (ESP)

7 - Escarpment Pinot Noir Martinborough Kupe Single Vineyard, 2013, 95 pts (NZA)

8 - Masi Amarone della Valpolicella Classico Serègo Alighieri Vaio Armaron, 2008, 95 pts (ITA)

9 - Clos Fourtet St.-Emilion, 2012, 94 pts (FRA)

10 - Klein Constantia Vin de Constance Constantia, 2009, 95 pts (RSA)

Nos Top 10 apenas 1 vinho de Bordeaux, 4 norte-americanos, 2 italianos, seguidos de Nova Zelândia, Espanha e África do Sul com um vinho de sobremesa.


Cinco vinhos portugueses se destacaram este ano: o Porto Taylor Fladgate 2009 em 16º, Blandy's Bual Madeira 2002 e Quinta do Crastro Douro Superior 2012 (24º e 25º), Real Companhia Velha Douro Porca de Murça 2013 (39º) e Duorum Douro 2013 (84º).

O primeiro sul-americano, o chileno Viña Carmen Cabernet Sauvignon Maipo Valley Alto Gran Reserva 2012 está na 32ª posição

Logo abaixo aparece outro conterrâneo, Viña Montes Syrah Colchagua Valley Alpha 2012 (37º) e o Viña Polkura Syrah Marchigue (82º)


Os argentinos Piattelli Malbec Luján de Cuyo Premium Reserve 2013 (44º) e Luigi Bosca Malbec Luján de Cuyo Single Vineyard 2013 (81º) completam o grupo sul americano.


Dica da Semana: um vinho que está sempre nas listas de melhores e ainda tem um preço competitivo. A safra de 2013 ficou em 53º lugar com 91 pts.

Pétalos del Bierzo 2011

Produzido na região de Bierzo, na Espanha, com a uva Mencía, uma rara casta local.
É um tinto potente, concentrado e muito elegante, que já se tornou um enorme sucesso.
Outros prêmios:
Robert Parker 92 PTS / 2011
Wine Spectator 93 PTS / 2009
Robert Parker 90 PTS / 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Paladares fora da curva

Temos um companheiro de confraria que insiste em trazer, para as nossas reuniões, vinhos tintos classificados como “demi-sec”. Além disto, afirma com segurança que todos apreciam estes vinhos por conta desta característica. Na opinião dele todo tinto deveria ser assim, nada de vinho seco...

A resposta mais delicada do grupo a este quase insulto é que ele tem um paladar adamado e que não entende absolutamente nada sobre vinhos tintos.

Mas há mais coisas neste tópico do que se imagina.

Um pouco de legislação

Esta classificação (demi-sec), tipicamente brasileira quando se trata de vinhos tintos é quase nula nos grandes países produtores como Itália, França, Espanha e Portugal. Nestes, ela é aplicada principalmente para os brancos e espumantes, completando a escala que inclui os suaves, doces, amabiles e licorosos.

No Brasil houve uma adaptação das leis internacionais para incluir os nossos vinhos de garrafão, até hoje o ganha-pão de diversos produtores nacionais, criando um monstrengo que classifica, nesta opção, vinhos que apresentem desde 5,1 g/L de açúcar até exorbitantes 20 g/L, o que já seria perigoso para diabéticos.

Para os espumantes, esta mesma classificação abrange desde 20g/L até 60 g/L de açúcar residual.

Só o Brasil obriga que esta informação conste de rótulos ou contrarrótulos dos vinhos tintos importados, o que acaba por se tornar um fator de aumento dos custos.

Limiar da percepção

Doçura é uma sensação assim como o amargor. Cada pessoa terá um limite próprio o que explica as diferentes atitudes com relação a bebidas como limonada ou café: alguns preferem ao natural e outros só conseguem bebê-las se estiverem doces ou muito doces.

O açúcar seduz. Por esta razão, alguns dos vinhos mais famosos do mundo trazem este viés adocicado: Riesling, Ice Wine, Sauternes, Gewurztraminer e, até mesmo, o exuberante Amarone.

Nenhum destes vinhos recebe adição de açúcar na sua elaboração, o que muitas vezes é proibido por lei. Sua doçura decorre dos açúcares não convertidos em álcool durante a fermentação, uma decisão do enólogo que leva em consideração o ponto de maturação da uva colhida.

Açúcar, o trapaceiro

Infelizmente, vinhos adocicados classificados como “demi-sec” ou meio-doces têm péssima reputação em todo o mundo. A presença desta quase doçura indica que pode haver problemas no vinho.

Um bom exemplo para fixar esta ideia é responder a este teste:

Algum leitor degustaria uma colher de manteiga ou outra gordura sem nenhum problema?

Que tal se em lugar desta experiência, quase horrorosa, degustasse uma bela colherada de sorvete cremoso?

A diferença entre a primeira e a segunda prova é uma só: açúcar.

O nosso paladar foi completamente enganado por este inebriante pó branco!

Disto se aproveitam produtores inescrupulosos que, deliberadamente, deixam seus vinhos mais doces para esconder a péssima qualidade deles...

Tinto “demi-sec”?

Fuja ou eduque seu paladar! (há exceções)

Dica da Semana: já está na hora de investir em bons brancos.

Anakena Ona Special Reserve White Blend 2013


Este vinho combina a estrutura da Chardonnay, a elegância da Riesling e o caráter floral da Viognier. Equilibrado, fresco e elegante.
Aroma: intenso e complexo, com deliciosa combinação de notas florais e frutas tropicais, como damasco e toque mineral.
Paladar: Em boca corresponde ao nariz, refrescante e equilibrado, com acidez crocante e final persistente.
Harmonização: Ideal para acompanhar frutos do mar, risotos, saladas ou para servir como aperitivo.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O que fazer com a rolha e outras dúvidas

São situações bem diferentes: degustar um vinho em casa ou pedir um vinho num restaurante e ser atendido por um Sommelier.


Em casa há uma necessária informalidade, somos mestres e senhores de todos os acontecimentos e podemos rir de nossos erros sem problemas.


Num restaurante de qualidade, é mandatório seguir o rito formal tão apreciado pelos enófilos, sempre muito conservadores.


A primeira “obrigação” é acertar na escolha do vinho. Nem sempre as cartas são elaboradas corretamente o que dificulta a escolha. Some-se a isto o curioso hábito brasileiro de sugerir a escolha da bebida antes mesmo dos comensais decidirem o que vão comer!!!


Ultrapassada esta fase e encomendado o vinho que vai harmonizar corretamente com os pratos, o Sommelier nos apresenta a garrafa para que seja confirmada a escolha. 

Abre-se o vinho e a rolha entregue para quem o pediu.


O que fazer com ela?


Embora pouco conhecida, existe uma explicação lógica para este gesto: duas informações preciosas estão disponíveis na rolha, ambas por inspeção visual.


Procura-se, primeiro, por uma data e marca estampadas que devem corresponder às do rótulo (vinhos de qualidade). Isto garante que o vinho não foi fraudado.


A segunda informação é obtida observando a integridade da rolha e buscando por infiltrações e indícios de mofo. Se encontrados, significa que o vinho pode estar com sua qualidade comprometida. Neste caso, não o prove e peça ao Sommelier para fazê-lo.


Esta é a hora de recusar a garrafa, mas há casos em que todos estes defeitos foram encontrados e o vinho estava perfeito.


A grande maioria das pessoas apenas cheira a rolha e ainda por cima no local errado. Risível mas verdadeiro, este gesto, muito comum, tem uma origem que beira uma fábula e, como sempre, envolve um esnobe, anônimo, que talvez tenha sido o primeiro enochato da história.


Reza a lenda que quando apresentado com a rolha, a tal figura, sem ter a menor noção do que fazer com ela, simplesmente cheirou a ponta que estava em contato com o vinho e soltou alguma expressão de satisfação.


Foi o suficiente para ser criado um novo rito.


Não existe nenhuma regra que proíba alguém de cheirar a rolha, mas a posição correta de fazê-lo é na lateral e não no topo como se vê até em filmes.


Qual o aroma que não deve aparecer?


Mofo, azedo ou qualquer odor estranho.


Óbvio que este rito foi sendo modernizado ao longo dos anos. Hoje é aceito que se faça o que bem entender com a rolha: cheirar, quebrar, guardar, etc.


A próxima etapa, provar o vinho, é um teste tipo “saia-justa” para quem se aventurou a encomenda-lo. Tradicionalmente o Sommelier deveria prová-lo primeiro, mas há pessoas que se incomodam com isto, principalmente se for um rótulo caro, o que fez com que o hábito fosse caindo em desuso e a responsabilidade transferida para quem vai pagar a conta.


É servida uma pequena dose para ser avaliada. Como proceder?


O correto é observar os três aspectos básicos: cor, aroma e sabor.


Deve-se fazê-lo em duas etapas, antes e depois de aerar um pouco o vinho girando a taça. Tudo deve estar de acordo, inclusive a temperatura. Se houver qualquer ponto em desacordo este é o momento de solicitar as correções necessárias.


Se estiver tudo certo peça para que o vinho seja servido.


Assim como no caso da rolha, existe outro ponto que é discutível: observar as lágrimas nas laterais da taça.


Há quem dê uma grande importância a este detalhe, mas a maioria dos enófilos faz este gesto apenas de forma lúdica, sem ter ideia do que representa o mesmo. 

O que procurar nas formas viscosas que escorrem lentamente pela taça?


Honestamente, não é um ponto relevante. Indica, a grosso modo, a presença de glicerol, um dos muitos álcoois presentes.


Mas é uma imagem bonita, agradável, que simboliza o que está por vir: ótimos momentos que vão coroar uma escolha correta do local, do vinho e da companhia.


Nenhuma avaliação é melhor que a nossa satisfação.


Dica da Semana: um raro e ótimo varietal francês.


Le Paradou Grenache 2012

Um excelente vinho de bistrot, feito com 100% de Grenache de vinhas com mais de 75 anos, todas no Minervois.
Oferece uma expressão puríssima desta casta, com notas de cerejas pretas, húmus, alcaçuz num estilo direto e sedutor.

Com um perfil próximo de um Pinot Noir, possui leveza e macieza aveludada e poderá ser apreciado agora e por mais dois anos.


domingo, 1 de novembro de 2015

“O melhor vinho é aquele que mais nos agrada” (Miguel Brascó)


Para quem não o conhece, Miguel Brascó foi um dos mais famosos críticos de vinhos da Argentina. Suas citações, algumas muito cáusticas, fizeram história e são usadas até hoje (faleceu em 2014). A que está no título é uma das minhas preferidas.


"A los bebedores del buen vino argentino, les recomiendo
que se dejen guiar sólo por lo que les va gustando,
no por el blablá de los bobetas de la fashion" ...

Pode parecer meio óbvia, mas esconde uma série de verdades sobre a mais nobre das bebidas. O principal ponto a ser discutido é como encontrar este mítico vinho que nos agrada.

A primeira dificuldade é que não gostamos das mesmas coisas, o que nos remete a outro velho ditado “o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?”.

Outro clichê que pode ser usado aqui afirma: “a variedade é o tempero da vida”.

O que, afinal, nos faz gostar de um determinado vinho e detestar outros?

Este é um caminho muito sinuoso, repleto de alternativas, sobre o qual devemos refletir muito. Uma observação fácil de fazer é comparar um mesmo vinho em diferentes situações: quando foi degustado sozinho num momento de meditação, com outra ocasião em que foi consumido na companhia de amigos e boa comida.

Serão duas experiências diametralmente opostas. Como explicar?

Seria por contas das características técnicas do vinho: aromas, sabores, complexidade, teor alcoólico, acidez; ou simplesmente porque o momento era o certo: a comida, o lugar, a conversa, o estado de espírito, tudo convergindo para que o vinho ficasse perfeito?

Compreendido este efeito, ficará fácil prestar mais atenção aos vinhos da mesma vinícola ou do mesmo enólogo e até mesmo aos vinhos que são elaborados com as mesmas uvas e técnicas de amadurecimento ou não.
Começamos um lento processo de apurar o nosso paladar, mas não é tarefa fácil.

O importante deixará de ser somente o lado técnico e passaremos a dar mais valor ao entorno do ato de abrir uma garrafa, a todas as variáveis que não estão ligadas ao vinho em si, mas ao ato de desfrutá-lo.

Com a prática vamos finalmente descobrir o que nos seduz nos vinhos, independente de quem o produz, de qual região ou das castas utilizadas. Cada garrafa terá sua própria forma de ser degustada, nos permitindo escolher, com segurança, qual o melhor vinho para determinada ocasião.

Esta é a razão da certeza de Brascó: “ O melhor vinho é aquele que mais nos agrada”

Dica da Semana: será este um vinho que nos agrada?

Masi Tupungato Malbec 2012


Um tinto denso, cheio de fruta e especiarias, com um envolvente toque de chocolate no final de boca e um sotaque tipicamente europeu.
É elaborado com a uva Malbec plantada no Vale de Uco, em vinhedos de altitude entre 950 e 1050m.
Um bom achado argentino, com delicioso apelo gastronômico e excelente relação qualidade/preço.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Vinhos brancos secos de Bordeaux

Menos famosos que seus irmãos tintos, os brancos bordaleses secos também têm fama e história. São vinificados nesta região há mais de 1000 anos. Somente a partir dos anos 70 foi que a produção dos tintos, em volume, superou a dos brancos.

Duas castas, Sauvignon Blanc e Semillon, são as principais, podendo ser cortadas, nas 10 AOC's estabelecidas, com outras uvas como Muscadelle, Colombard, Ugni Blanc, Sauvignon Gris, Merlot Blanc, Mauzac e Ondenc.
Atualmente os brancos respondem por 9% da área plantada produzindo anualmente cerca de 64 milhões de garrafas.

Dois estilos se destacam:

- vinhos frutados e refrescantes, com coloração esverdeada, aromas cítricos e florais e acidez equilibrada. São elaborados sob as denominações Bordeaux (genérico), Entre-Deux-Mers e Côtes de Bordeaux. Devem ser consumidos ainda jovens, e harmonizam muito bem com pratos leves;

- vinhos delicados, mais estruturados, com maior complexidade e potencial de guarda (8 anos ou mais). Típicos das denominações Graves e Pessac-Léognan. Perfeitos para acompanhar comida asiática e peixes defumados.

As AOC's (denominação de Origem Controlada)

1 – Bordeaux
Cobre a região de Gironde, respondendo por 70% da produção. Os vinhos têm coloração amarelo-palha com reflexos dourados, apresentando aromas florais, cítricos e de pêssegos.

2 – Entre-Deux-Mers
Área localizada entre os rios Garonne e Dordogne, produz 17% dos brancos. Além dos aromas típicos, são encontradas notas de frutas tropicais.

3 – Graves
Localizada a sudoeste da cidade de Bordeaux, se estende por 50Km com seus solos de cascalho (graves). Seus vinhos são de coloração amarelo-ouro, apresentando aromas complexos como os cítricos, botões florais, maracujá, ervas, castanhas, nozes, amêndoas e buxo. Sua suavidade é notável além da elegância e frescor no paladar. Podem ser guardados por 10 anos.
Nesta região são produzidos alguns dos melhores brancos do país.

4 – Pessac-Légnan
Esta região na margem esquerda do rio Garonne é considerada como o berço da viticultura bordalesa. Apenas 2% do brancos são produzidos aqui.
Os vinhos são intensos e ricos, com toda a gama de aromas citados. No palato são mais encorpados. A legislação local exige que 25% do corte seja com Sauvignon Blanc e quase sempre passam por madeira.

5 - Côtes de Bordeaux, Côtes de Blaye, Côtes de Bourg, Graves de Vayres, Sainte-Foy-Bordeaux, Côtes de Bordeaux Saint-Macaire.
Estas denominações, juntas, respondem por 5% da produção dos brancos. Sua principal característica são os aromas cítricos e alguma complexidade.
Embora nos dias atuais não sejam tão lembrados pelos enófilos iniciantes, o apelo dos tintos é quase irresistível, são vinhos deliciosos que merecem uma prova. Certamente um deles vai para a relação de prediletos.

Dica da Semana: um Bordeaux branco para completar esta explicação.



La Croix Barton Blanc 2012

O nariz é muito aromático, floral, frutado, vivo e fresco.
Na boca se mostra vibrante e persistente.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Mineralidade, um atributo ambíguo

Esta palavra tem sido usada por muitos especialistas para descrever uma sensação percebida no olfato e paladar que nos faz lembrar ou associar com pedras, terra e minerais diversos.
Nenhuma explicação até hoje foi capaz de dar uma resposta convincente. A grande maioria dos enólogos e críticos internacionais acreditavam que tudo se resumia ao Terroir.

Mas como explicar, por exemplo, que um Sauvignon Blanc vinificado a partir de uvas plantadas em terreno arenoso, apresente características minerais que só poderiam surgir, em tese, se as parreiras estivem plantadas em áreas pedregosas? 


Fruto da nossa imaginação, talvez?

foto: http://www.fabricioportelli.com

Um conceito tão intrigante que acabou se tornando um sinônimo de qualidade: basta procurar nas descrições dos mais importantes vinhos, tintos ou brancos, de qualquer origem, que vamos encontrar em destaque uma frase contendo “mineral”.

Usam e abusam do termo para torná-lo popular, mas poucos sabem o real significado do adjetivo.

Diversos estudos estão em andamento na França, Nova Zelândia e Espanha, entre outros. Muita coisa nova foi descoberta e algumas teorias já foram derrubadas.

Uma constatação muito interessante, que tem implicação direta com a ideia de que este atributo é uma sensação criada pela memória do degustador, mostrou que diferentes culturas são capazes de ter a mesma percepção sobre um determinado vinho: o conceito de mineralidade não é regional.

A Dra. Wendy Parr, que participou de um estudo conjunto entre França e Nova Zelândia, acredita que o termo surge no momento em que não são percebidos os aromas e sabores mais convencionais num vinho: na falta de outros termos por que não usar “mineral”.

Na concepção dela, vinhos muito frutados nunca serão minerais.

Mais radicais ainda são as revelações da mais recente pesquisa (2015) sobre o tema, conduzida por uma empresa espanhola que analisa vinhos, a Excell Ibérica:

“Os resultados indicam que a composição química dos vinhos e a sua percepção como “minerais” não estão diretamente ligadas ao solo do vinhedo”.

Foram identificados cerca de 17 compostos químicos presentes no vinho, que seriam derivados do seu metabolismo, das bactérias e leveduras da fermentação e dos processos de vinificação e amadurecimento, aos quais se poderia atribuir esta percepção.

Isto se opõe diretamente a um estudo anterior (2013) que apresentava alguns Ésteres e Tióis como sendo a razão dos aromas e sabores em questão.

Matéria controversa até para experientes cientistas.

Cito, novamente, a Dra. Parr:

“Ainda não sabemos com segurança o que é mineralidade (no vinho). Um assunto que não será resolvido facilmente. Não é algo “preto no branco”. Apesar de extensos esforços, os estudos até agora demonstraram, apenas, que o conceito é real e compartilhado por diferentes culturas”.

Use com parcimônia...

Dica da Semana: um bom branco para descobrir se é mineral ou não.


Chocalan Inspira Reserva Sauvignon Blanc

Vinho fresco e equilibrado, com sabores cítricos e ligeiras notas de ervas.

Ideal como aperitivo ou com frutos do mar frescos e saladas.