Interessante como um assunto puxa outro.
Eu gostaria de escrever sobre as diversas listas de melhores vinhos, mas
os leitores não deixam.
Vamos responder de forma mais completa aos e-mails de três leitores. São questões diferentes que convergem para um tema central.
Primeiro a Renata, de Manaus, gostou da
revisão e teve, segundo ela, coragem de perguntar e pedir mais; depois
Cristina, de Goiânia, segue o mote e pede novas colunas sobre ‘serviço
do vinho’, harmonização’ e até mesmo ‘taças para vinho’, um assunto
tratado bem recentemente. Por último, Rodrigo, de Bruxelas, com coro do
nosso Editor Valter, afirma que bulas no vinho seriam bem-vindas,
principalmente para ajudar na hora de harmonizar com comida.
Antes de mergulhar em maiores
profundidades, uma explicação importante. Um leitor afirmou que tem
evitado colocar suas dúvidas em público com medo de receber como
resposta algo no gênero “procure numa coluna anterior”.
Esta frase ou sua irmã, “está lá no
texto...”, são comuns nas minhas respostas, embora nunca tenha deixado
de fazer um novo comentário para esclarecer a dúvida do leitor. Gostaria
que a entendessem como um convite para uma releitura do texto (a partir
da nova explicação) e não como um puxão de orelhas... Ninguém nasce
sabendo e a melhor forma de aprender é perguntando para quem conhece o
assunto melhor que você. Não se esqueçam: sua dúvida pode ser a de
outros leitores.
Talvez seja esta a mola propulsora do
comércio desta bebida. Existem os ‘vinhos de meditação’, algo que é
extremamente prazeroso. Mas não há dúvida que reunir amigos em torno de
uma boa mesa é altamente satisfatório e nos realiza plenamente.
Infelizmente, basta um erro para estragar tudo. Para evitar desastres,
precisamos unir conceitos clássicos com as nossas próprias experiências.
Lembrem-se: regras são feitas para serem quebradas!
Combinar vinho e comida nunca foi uma
ciência exata, está mais para algo empírico onde a experimentação dita o
rumo. Os leitores já devem estar perguntando de onde surgiram as
harmonizações clássicas, como aquela das carnes com tintos e peixes com
brancos. Tudo tem uma origem:
- antigamente os vinhos tintos eram muito
mais tânicos que os de hoje e o único alimento capaz de enfrentar tal
desafio era um bom pedaço de carne com sua textura pesada e gordurosa;
- por analogia, as carnes brancas
(peixes, aves e suínos), cuja delicadeza exigia cozimentos suaves para
manter a estrutura mais leve, não eram bem acompanhadas por vinhos
tintos – os brancos se tornaram naturalmente a melhor opção.
Vamos elaborar um pouco mais neste assunto, pegando um gancho na mensagem do leitor Rodrigo, quando afirma:
-“Imagine que eu possa comprar um
vinho cabernet sauvignon, que é tradicionalmente uma uva para se beber
com carne de caça (pelo que sei) e bebo com uma massa com um molho
qualquer”.
Esta seria uma das múltiplas
possibilidades de harmonizar um bom Cabernet, embora eu prefira combinar
carnes de caça com vinhos obtidos a partir da Sirah. Eis a primeira
dificuldade a ser contornada: gosto é pessoal!
Pinot Noir seria outro vinho que casaria
com este prato perfeitamente. Para sair do dilema, temos que analisar
estas combinações do ponto de vista organoléptico, tanto do alimento
quanto do vinho.
Complicou?
Ninguém disse que seria fácil, mas não é
impossível. Os alimentos podem ser classificados como: leves, pesados,
doces, salgados, condimentados, gordurosos, suculentos, untuosos,
amargos e ácidos.
Os vinhos seguem uma classificação
similar: leves, encorpados, tânicos, alcoólicos, ácidos, efervescentes,
persistentes, aromáticos, doces e macios.
Harmonizar é combinar corretamente estas caraterísticas:
Comida leve – vinho leve;
Comida pesada – vinho encorpado;
Vinhos tânicos e alcoólicos combinam com pratos suculentos e untuosos;
Alimentos gordurosos exigem vinhos com acidez e taninos elevados;
Vinhos efervescentes acompanham bem alimentos com um viés adocicado;
Pratos condimentados pedem vinhos aromáticos e persistentes;
Sabores salgados, ácidos ou amargos são equilibrados com vinhos macios;
Doçura com doçura...
As diretrizes são estas, escolher o vinho que se encaixa nelas é outra história: só degustando muito e anotando tudo.
Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.
Produtor: Viñedos de Nieva
País: Espanha/Rueda
Este 100% Verdejo é um vinho que
expressa o estilo e caráter dessa variedade de uva. Apresenta aromas de
frutas tropicais maduras como abacaxi, grapefruit e limão, sobre um
fundo herbáceo. Na boca, sua entrada revela um vinho fresco, balanceado,
de acento mineral e cítrico. Excelente como aperitivo ou como
acompanhamento de frutos do mar.

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