Parker foi um dos convidados a ministrar uma palestra no Simpósio dos
Escritores especializados em Vinhos, de 2014, realizado em Napa Valley.
Num auditório lotado, um dos presentes tentou colocar Parker numa “saia
justa” ao perguntar: O que é um vinho “parkerizado”?
Este termo
vem sendo usado, de forma negativa, para depreciar uma improvável
influência das notas deste respeitado crítico na maneira como alguns
produtores elaboram seus vinhos. Algo como prepará-los para ganhar a
nota máxima. A resposta foi uma aula de como deve ser ‘um bom
vinho’.
Respondeu Robert Parker: (traduzida, adaptada e comentada)
Respondeu Robert Parker: (traduzida, adaptada e comentada)
Na década de
60, em Bordéus, o mais famoso enólogo era o Sr. Émile Peynaud. Ele tinha
numerosos clientes e foi o primeiro que, de certa forma, começou a
defender a utilização de alguns métodos mais radicais que não estavam
sendo empregados e a usar processos mais seletivos na elaboração de melhores
vinhos. Alguns de seus críticos começaram a usar o termo
"Peynaudizado", porque achavam que todos os vinhos (assim produzidos)
tinham o mesmo gosto.
Eu acho que
“Parkerização” é um derivado disso. Acredito que tenha sido cunhado por
pessoas que não leem a Wine Advocate (publicação onde escreve Parker),
que não veem a amplitude e a diversidade de vinhos que nós cobrimos.
Provam, por exemplo, um Shiraz australiano ao qual eu atribuí uma alta
pontuação e dizem "Parker gosta dessas intensas bombas de frutas, isto
foi parkerizado - este vinho não vale mais nada”.
Repito: isto é
apenas uma espécie de reação, instintiva e simplificada, que tenta
confinar o meu paladar num cubículo ou defini-lo em termos de preto e
branco. Todos sabem que eu espero que um dia este termo se torne um
verbete no Dicionário Webster, mas até agora isso não aconteceu! As
pessoas que me conhecem ficam chocadas com algumas das coisas que leem a
meu respeito ou sobre o que eu, supostamente, estaria degustando.
Quando julgo
vinhos acredito que a intensidade de sabor é fundamental. Estou olhando
para os vinhos que eu quero que evoluam na garrafa e sejam melhores do
que são hoje em cinco ou dez anos. Não se pode selecionar um vinho que
está sendo produzido de uma forma rala e diluída e chamá-lo de elegante e
feminino, ou o que seja, e esperar que este vinho faça qualquer coisa
na garrafa. Ele só vai piorar porque, para começar, não há nada lá.
Precisa de alguma força, precisa de alguma riqueza, precisa de alguma
intensidade.
Há poucos dias abrimos uma última garrafa de um Chappellet 1969. (excelente Cabernet norte-americano produzido em 1969, ano de Woodstock)
Há poucos dias abrimos uma última garrafa de um Chappellet 1969. (excelente Cabernet norte-americano produzido em 1969, ano de Woodstock)
Lembro-me de
ter entrevistado o enólogo, Philip Togni, que fez o vinho. Ele afirmou
que (este) era o melhor Cabernet que já fizera.
Eu ponderei: "vamos lá, Phil, melhor do que qualquer um dos vinhos que você fez em sua adega de Spring Mountain?”.
Ele respondeu: "Sim, é o melhor de todos os vinhos.”.
Um dos meus
mais antigos colegas, Dr. Jay Miller, encontrou (este vinho) em oferta
num leilão e acabou comprando todo o lote, que eu acho que era de quatro
caixas, por US$ 35.00 a garrafa. E nós degustamos este vinho -
envelhecido por 45 anos- e ele era brilhante, poderoso, rico, algumas
nuances mal começaram a desenvolver, e que poderia aguentar outros 45,
ou 50 anos, se corretamente armazenado. Tem que haver substância, tem de
haver intensidade.
Lembro-me de
outra conversa, desta vez com o grande enólogo de Hermitage, Gerard
Chave, sobre o seu 2003, que, como vocês sabem, não tinha nenhuma acidez
nele. Quero dizer, literalmente. O pH era acima de quatro. (Um dos
grandes Syrah do mundo. 2003 foi um ano muito quente o que resultou em
vinhos de baixa acidez e muito frutados, quase geleias).
Ele
respondeu: "Sim, porque é exatamente como o meu pai disse que fora o de
1929. Porque tem tanto extrato seco, tantas frutas e concentração, que
ele vai sobreviver com tudo isto”.
Agora,
obviamente, 11 anos depois, ainda é um pouco cedo demais, para dizer se
ele estava certo ou errado, mas eu aposto que ele está certo. Eles fazem
vinhos desde 1481 e, geralmente, acertam...”
Fica fácil
perceber as razões que tornaram Robert Parker na celebridade global de
hoje. Recentemente o Hermitage 2003 foi degustado por um painel de
experts recebendo, nada mais, nada menos, que os almejados 100 pontos.
Segundo RP, ainda não está pronto...
Dica da Semana: já pensando no bacalhau da semana santa, uma aposta diferente para harmonização.
Dica da Semana: já pensando no bacalhau da semana santa, uma aposta diferente para harmonização.
País: Chile
Uva: Syrah
Safra: 2011
Produtor: Viña Casablanca
Rico em
especiarias, excelente para acompanhar um bom bacalhau com natas, que
pedem por um vinho com mais taninos para equilibrar o creme de leite.
Bom ajuste de intensidades em uma ótima harmonização.




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