Quando
escrevemos sobre desmistificar certas lendas do vinho, recebemos algumas
mensagens cobrando uma explicação sobre o tema "Temperatura".
Respondemos que este assunto estaria mais perto de um Tabu do que um
mito propriamente dito. Há razões de sobra para acreditar nisto!
Não somos
enólogos, apenas estudiosos sobre vinhos, com alguns cursos, muitas
visitas a centros produtores e uma boa biblioteca que nos orienta nas
pesquisas e experimentações.
Temperatura de serviço é uma fonte constante de discussão entre enófilos. Qualquer importadora de vinhos ou boa loja de varejo vai oferecer uma “Tabela” indicando o ponto certo para degustar o nosso rótulo predileto. Para piorar as coisas, existem diferenças sensíveis nestas tabelinhas...
Temperatura de serviço é uma fonte constante de discussão entre enófilos. Qualquer importadora de vinhos ou boa loja de varejo vai oferecer uma “Tabela” indicando o ponto certo para degustar o nosso rótulo predileto. Para piorar as coisas, existem diferenças sensíveis nestas tabelinhas...
Para
compreender o que acontece com o vinho quando se altera a temperatura de
serviço é necessário que se explique alguns fenômenos da física e da
química, algo bastante escorregadio e de difícil compreensão pela
maioria.
Em termos simples, na “temperatura ideal” o vinho desprende uma série de compostos aromáticos e parte do álcool, retém outros e tem, ainda, a capacidade de absorver compostos presentes no ar que respiramos principalmente Dióxido de Carbono (CO2) ou como preferem alguns autores, ‘absorver oxigênio’.
À medida que a temperatura aumenta ou diminui, este delicado equilíbrio se altera mudando os aromas e sabores de nossa bebida. Isto é facilmente percebido naquelas taças que ficam esquecidas sobre a mesa, por um algum tempo, aumentando naturalmente a temperatura: o aroma de álcool se torna dominante obliterando os demais.
Em termos simples, na “temperatura ideal” o vinho desprende uma série de compostos aromáticos e parte do álcool, retém outros e tem, ainda, a capacidade de absorver compostos presentes no ar que respiramos principalmente Dióxido de Carbono (CO2) ou como preferem alguns autores, ‘absorver oxigênio’.
À medida que a temperatura aumenta ou diminui, este delicado equilíbrio se altera mudando os aromas e sabores de nossa bebida. Isto é facilmente percebido naquelas taças que ficam esquecidas sobre a mesa, por um algum tempo, aumentando naturalmente a temperatura: o aroma de álcool se torna dominante obliterando os demais.
Outra maneira
de observar esta variação de aromas é na fase em afirmamos que o vinho
“precisa respirar ou ainda não abriu”, ou seja, ainda não liberou os
principais aromas e tem o paladar ainda tânico ou travado, o que irá
mudar radicalmente em poucos minutos com a ajuda daquela leve agitação
ao girarmos a taça e do aumento da temperatura que vai se aproximar
daquela do ambiente. Do ponto de vista científico, não fizemos nada mais
do que ajustar o vinho às condições ambientais: ele chegou ao seu ponto
de equilíbrio.
Mas há mais
coisas para compreendermos. A variação de temperatura, sozinha, não é a
única responsável por isto tudo. Entra em cena outro fator, a Pressão
Atmosférica, um valor que, a grosso modo, representa o peso exercido
pela camada atmosférica sobre um determinado local: ao nível do mar este
valor é maior do que no topo de uma alta montanha, por exemplo.
Complicou?
Muito! Agora
temos que lidar com mais uma variável que está intrinsicamente ligada a uma
localização geográfica e que regula diretamente a quantidade de CO2
absorvida pelo vinho. As mais recentes pesquisas demonstraram que a
maior ou menor presença deste composto tem influência direta no sabor do
vinho. Quem já se atreveu a degustar uma taça num voo internacional
sabe do que estamos falando: o gosto é diferente, muitas vezes ruim.
Isto se deve à baixa absorção decorrente da pouca pressão atmosférica
neste ambiente, apesar da cabine do avião ser pressurizada.
Para tornar
esta coluna mais palatável vamos fazer uso de uma analogia. Levando-se
em conta que, na composição química do vinho, a água representa de 85% a
90% do volume, podemos afirmar que há uma semelhança comportamental
entre ambos. Não estaríamos errando muito ao afirmar que o vinho, com
relação à variação da temperatura e da pressão atmosférica, se comporta
da mesma maneira que a água.
O segundo
componente de peso no vinho é o álcool, com porcentagens que variam de
7% a 24% (etanol, glicerol, metanol, isopropil, etc.).
Este dois gráficos a seguir são bem conhecidos:
o 1º mostra o
estado da água em relação à variação da temperatura: sólido abaixo de
0ºC, líquido entre 0ºC e 100ºC e gasoso acima deste.
O segundo gráfico mostra o comportamento do Etanol, líquido até cerca de 78ºC e gasoso a partir deste ponto. (fonte: Wikipédia e www.ebah.com.br)
O segundo gráfico mostra o comportamento do Etanol, líquido até cerca de 78ºC e gasoso a partir deste ponto. (fonte: Wikipédia e www.ebah.com.br)
Nestes dois
casos, durante a fase líquida, à medida que a temperatura sobe começa um
processo denominado “evapotranspiração” que equivale dizer que as
frações mais voláteis vão passando para a fase gasosa até chegar ao
ponto de ebulição quando todo o resto muda de fase. No caso do vinho
podemos observar isto através da evolução dos aromas e sabores durante
uma degustação.
Estes
resultados são válidos para uma determinada condição de Pressão
Atmosférica chamada de “Condição Normal”, que equivale à do nível do
mar.
A tabela resumida abaixo demonstra o que acontece com a água quando fixamos um ponto da curva, neste caso o “ponto de ebulição” e alteramos a pressão, por exemplo, fervendo água em diferentes altitudes:
A tabela resumida abaixo demonstra o que acontece com a água quando fixamos um ponto da curva, neste caso o “ponto de ebulição” e alteramos a pressão, por exemplo, fervendo água em diferentes altitudes:
Ou seja, em
uma região como a de Mendoza, na Argentina, onde alguns dos melhores
Malbec que tanto apreciamos são produzidos na altitude de 1500m, a água
ferveria a 95º C (a cidade está a 750m de altitude). Este fenômeno,
muito importante, é explorado pelas panelas de pressão tão comuns em
nossas cozinhas: aumentando-se a pressão o alimento é cozido a uma
temperatura menor, mais rápido e com pouco consumo de gás ou
eletricidade.
Mas o que isto tem a ver com o nosso vinho?
Tudo! Esta é a
chave para entender um ponto importantíssimo: o comportamento da nossa
bebida favorita vai mudar de acordo com o local em que vamos consumi-la.
Para cada um vai haver uma temperatura ideal de consumo, diretamente
relacionada com a pressão atmosférica local ou com a altitude, que
regulará a quantidade de C02 absorvida em uma unidade de tempo. Isto
vale, inclusive, para a elaboração dos vinhos: os chamados “de altitude”
vão se comportar de forma diferente daqueles produzidos ao nível do
mar.
Simplificando:
pelo exposto, um vinho só vai se comportar como o enólogo previu no
local onde foi elaborado. A temperatura originalmente indicada deverá
sofrer correções para qualquer outro lugar do mundo uma vez que não
podemos corrigir a Pressão Atmosférica. As diferenças podem até ser
desprezíveis, mas sempre vão existir.
Se for um
vinho produzido em grandes altitudes, estas correções podem ser
significativas, algo perto dos 4º ou 5º de variação para uma cidade ao
nível do mar.
Mas ninguém
está se importando muito com isto, a força dos “18º C” para os tintos é
grande. A regra tem origem na Europa e se tornou padrão mundial baseada
no seguinte fato:
“18º C é a temperatura média anual em Bordeaux”.
(Há algum
tempo pesquiso a origem deste conhecido valor, sem muito sucesso. Sou
engenheiro e respostas subjetivas não me satisfazem, mas vou ter que
conviver com este fato, aceito, tacitamente, pela grande maioria)...
Gostaríamos,
pelo menos, que a indicação de uma temperatura de serviço de um vinho
fosse acompanhada ou da pressão atmosférica ou de uma localização
geográfica: “Servir a 18º C @ 760 mm Hg”.
Definitivamente: beber um vinho em Bordeaux é diferente de beber este mesmo vinho no Rio ou em Mendoza e assim por diante.
Alguns fatos interessantes surgiram nas pesquisas. Observem a tabela a seguir com dados meteorológicos de Bordeaux: (fonte: http://www.climatemps.com/)
Na 1ª linha fica claro que a temperatura média anual máxima é 18º C.
A pressão atmosférica, pesquisada em outra fonte, varia entre 757 mm Hg e 767 mm Hg. (Fonte: NOAA)
Vamos comparar com Mendoza:
A temperatura média máxima é 23º C e a pressão barométrica varia entre 640 mm Hg e 762 mm Hg. (mesmas fontes)
Interpolando
na tabelinha apresentada, podemos concluir que existe uma variação, para
menos, de aproximadamente 4º C na temperatura de ebulição da água em
relação a Bordeaux. A mesma linha de raciocínio, dentro de certos
limites, pode ser aplicada ao vinho.
Um exemplo:
se um produtor argentino recomenda que seu vinho seja consumido a 18º C,
em sua vinícola que está situada nos 1500m, a temperatura corrigida,
desta forma, para Bordeaux, poderia subir alguns graus a mais chegando
até aos improváveis 22º C, dependo das condições atmosféricas do dia de
consumo. Para a maioria dos autores isto é um absurdo.
Mas a ciência
demonstra que não! (alguns autores mais recentes já admitem uma
variação de 2 ou 3 graus em relação às temperaturas de serviço)
Como proceder?
1 – depois
desta explicação complexa e, esperamos, extremamente didática e
esclarecedora, acreditamos que ficou claro que as temperaturas de
serviço indicadas são apenas referências.
2 – seguindo
neste espírito, sempre é melhor servir o vinho numa temperatura mais
baixa deixando que ele se adeque ao ambiente já na taça. Em poucas
palavras, sirva aos 18º C ou equivalente, mas espere um pouco antes de
degustá-lo.
3 – na grande
maioria das vezes os vinhos vão “melhorar” na taça. “Abriu”, afirmam
alguns enófilos, “respirou” dizem outros. Na verdade o vinho atingiu a
temperatura correta, liberando e absorvendo o que deveria nas devidas
proporções. Certamente será uma temperatura sensivelmente diferente da
que foi servido. Para tirar dúvidas, esta é a hora de usar o termômetro!
4 - O fator
‘tempo’, de importância fundamental, será regido pela pressão
barométrica local: quanto maior mais rápida a absorção de CO2 sendo
menor o espaço de tempo em que o vinho vai se comportar como deveria.
Um último conselho: experimente!
Lembrando,
sempre que, gosto é um assunto pessoal, o importante é degustá-lo de
acordo com nossas preferências, mais frios ou mais quentes. Cada tipo de
vinho vai ter o seu ponto de equilíbrio, sendo quase impossível
generalizar. O ideal é aprendermos a ajustar estas variáveis de acordo
com o paladar de cada um para que a experiência seja ótima.
Não sejam escravos de regras fixas ou de tabelas burras!
Dica da Semana: um rosado para ajudar a superar este verão.
Kaiken Rosé 2011
Um vinho argentino (Mendoza) incrivelmente fresco e equilibrado, seco, mas dotado de cativantes aromas de frutas vermelhas.
Um vinho argentino (Mendoza) incrivelmente fresco e equilibrado, seco, mas dotado de cativantes aromas de frutas vermelhas.
100% Malbec.
Harmonização: Carne branca, saladas e comida japonesa.
Temperatura de Serviço: 13º a 16º C



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