Temos de enfrentar o doce dilema de escolher um ícone.
Com tantos vinhos importantes, o que fazer? Poderíamos escolher um Champanhe,
perfeito para as grandes comemorações. Mas qual? As famosas Moet & Chandon
ou a Veuve Clicquot? A celebrada Cristal? Quem sabe a Bollinger, preferida por
James Bond? Nos tintos, teríamos que pinçar um dos muitos Chateauxs Bordaleses,
aumentando a dificuldade: Haut-Brion, Margaux, La Tour, Angélus, Petrus etc,
alguns muito pouco conhecidos, mas simplesmente maravilhosos. Há, ainda, as
regiões do Rhone, da Provence e Alsácia, nos deixando uma tarefa inglória...
Um
vinho, entretanto, tornou-se muito significativo, para os brasileiros, ao ser
usado em uma grande festividade. Tornou-se um ícone, neste país. Vamos
escolhê-lo, não só por esta razão, mas por ser um grande vinho, raro, de
difícil produção e com preços exorbitantes, o que limita o seu acesso às
camadas mais altas da sociedade. Um vinho para quem é um apreciador mais que
apaixonado, um vinho para poucos, o mais cobiçado do mundo.
Da Borgonha,
apresentamos o Domaine de La Romanée-Conti.
Um pouco da história
Para
entendermos 11 séculos de existência, 9 proprietários e uma fama que não tem
preço, convém dar a conhecer, primeiro, um importante detalhe da legislação
francesa: a classificação é dada ao vinhedo, ou Cru, particípio passado do
verbo croître, traduzido como cultivar. Dependendo da região vinícola, há
pequenas particularidades nesta classificação. Na Borgonha temos: Grand Cru;
Premier Cru; Village.
O que vale é o terreno, o terroir. Dentro da Borgonha, os
mais valorizados estão na região de Vosne-Romanée, onde nasce o vinho desta
semana. A saga, de quase 1500 anos, começa em 1232, quando a Abadia de Saint
Vivant, em Vosne, adquire 1,8 hectares de vinhedos. Em 1631, as terras são
vendidas aos Croonembourg, que passam a denominá-las La Romanée, aparentemente
em homenagem a soldados romanos que por ali haviam passado. Na mesma ocasião, a
família compra uma área adjacente, conhecida como La Tâche, outro vinhedo
famoso atualmente.
O ano chave seria 1760, quando os proprietários resolvem
vender a área, num disputado leilão, do qual participaram Madame de Pompadour
e seu arqui-inimigo Louis François de Bourbon, Príncipe de Conti, que saiu
vencedor. Surgia assim o Domínio Romanée-Conti. Anos depois, durante a
revolução francesa, Sua Alteza foi encarcerado, suas terras expropriadas e,
novamente, leiloadas. Somente em 1869, após sucessivas trocas de mão, começa a
se formar o Domínio tal qual é hoje conhecido. Foram acrescentadas novas áreas,
todas Grand Cru, até que em 1936, em consequência de outras disputas, o vinhedo
de La Tâche volta a ser incorporado, criando-se o atual monopólio de Grand
Crus. A família Villaine é a atual proprietária.
O Romané-Conti, ou DRC, foi
produzido até 1945, quando a praga da Filoxera dizimou as vinhas, obrigando o
replante através de enxertos, ocorrido em 1947. Uma nova vinificação só
ocorreria em 1952. Há, portanto, duas fases bem distintas na história deste
vinho.
Notas de Degustação safra 2008
(gentileza do nosso correspondente na
Bourgogne, Monsieur Tareco)
O DRC é 100% Pinot Noir, uma uva temperamental e
famosa por sua dificuldade em ser bem vinificada, a grande especialidade
Bordalesa. São produzidas, em média, 450 caixas por safra, o que torna este
vinho um dos mais raros. Todos os vinhedos do monopólio são conduzidos de forma
orgânica e biodinâmica. No trabalho de campo são empregados cavalos ao invés de
tratores.
O vinho é fermentado com os engaços, o que é incomum naquela região.
O amadurecimento, por um período entre 16 a 20 meses, é em barris novos de
carvalho, provenientes de uma parcela própria na floresta de Troncais. Não se
usa bombeamento; todas as operações de trasfega, assemblage ou engarrafamento
são feitas por gravidade. O vinho não é filtrado, e caso seja necessário
clarificá-lo, apenas clara de ovo é utilizada.
De coloração rubi, mostra aroma
de frutas vermelhas, flores jovens, um pouco de mentol e notas de molho de
soja. O corpo é médio, característica desta varietal, com um soberbo equilíbrio
entre acidez e taninos; boa textura e um final de boca longo e radiante.
Um
monstro de vinho!
Segundo o respeitado crítico internacional Clive Coates: "o
mais raro, o mais caro e, frequentemente, o melhor vinho do mundo (...) o mais
puro, o mais aristocrático e o mais intenso exemplo de Pinot Noir que se possa
imaginar. Não é apenas um néctar, mas uma referência para se julgar todos os
outros vinhos da Borgonha".
O DRC tem vários irmãos, como o La Tache, em
determinadas safras considerado superior, além do Échézeaux, o Richebourg e o
St-Vivant.
Pertencente também ao mesmo grupo, a denominação Montrachet
(pronuncia-se monrrachê) é nada mais, nada menos, que o melhor branco da
França!...
Dica da Semana: Um vinho um pouco mais caro, mas um excelente Pinot
da Borgonha, que não fará feio acompanhando um bom arroz de pato.
Bourgogne
rouge 2008
Produtor: Joseph Drouhin
País: França / Bourgogne
Casta: 100% Pinot
Noir
Este borgonha é produzido por Joseph Drouhin, um dos mais antigos e
respeitados produtores da região. Um vinho concentrado e cheio de fruta madura.
Na boca é amplo e sedoso. Harmoniza com pato, caça ou mesmo alguns peixes mais
gordurosos como atum.




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