sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Sobre as "Dicas da Semana"

Nesta última coluna de 2015 vamos tenta atender a uma das nossas leitoras mais assíduas. Eis o simpático email que nos enviou em novembro:

“Tuty,
Adoro suas colunas e sempre que possível mando email perguntando alguma coisa. Ontem me ocorreu uma coisa que pode ser uma sugestão pra vc pensar numa coluna. Uma seleção de todas as dicas da semana. Os top 20 ou os top 10, ou sei lá o quê... Algumas foram fáceis de encontrar, outras difíceis mesmo encontrando, pelo preço, mas acho que valeria a pena fazer uma seleção das melhores, embora sejam todas boas, sempre haverá as melhores.
Por tipo de vinho, por cifrõeszinhos, por país produtor, por tipo de uva e por aí vai... acho que daria uma boa série de colunas ou estou enganada?
É apenas uma sugestão, prometo não ficar aborrecida se vc não aceitá-la, ok? rs
Maria Lucia-Salvador”

A ideia é muito boa, mas existem alguns complicadores que impedem que as sugestões da Maria Lucia sejam atendidas completamente. Explico:

1 – Nunca recebemos um retorno específico sobre qualquer das mais de 240 dicas sugeridas desde 2011. Curioso, mas verdadeiro.
Houve reclamações como ‘cadê os vinhos caros ($$$)’ ou mesmo um comentário sobre a impossibilidade de comprar uma ou outra dica em algum remoto recanto brasileiro.
Até hoje nunca descobrimos se alguma indicação foi considerada boa ou ruim pelos leitores...
Isto posto, não temos como fazer uma relação de melhores (Top 10). O ideal seria que este ranking fosse feito com base na experiência dos leitores.

2 – Outro fator que se perdeu ao longo destes 4 anos foi a escala de preços. Nossa economia variou muito e o mercado de vinhos, mesmo em relação aos vinhos nacionais, é muito sensível à mudanças na taxa cambial e no regime fiscal. Manter a lista dos preços atualizada e corrigida ao longo deste tempo seria uma tarefa para um bom economista e não para um enófilo.
Portanto, a classificação por faixa de preços simplesmente não pode ser organizada.

3 – O último fator, que não ajuda em nada este tipo de trabalho, é que muitos dos vinhos indicados já não existem mais à venda. Safras são limitadas e muitas vezes o produtor de um determinado rótulo decide, por razões mercadológicas, não mais produzi-lo.

Mas ainda há muita informação útil e divertida. Vamos tentar atender ao máximo aos nossos leitores mais curiosos.

Dicas Duplicadas

Compilada a listagem, para nossa surpresa descobrimos que alguns vinhos foram indicados mais de uma vez. Eis a listinha:

Abril 2013 - Coyam Orgânico (CHI)
Junho 2013 - Coyam 2010
É o mesmo vinho, aliás excelente.

Março 2015 - Dal Pizzol Merlot (BRA)
Julho 2015 - Dal Pizzol Merlot
Novamente, repetimos o vinho. Este parece ser um favorito nosso.

Nesta segunda relação estão vinhos que foram indicados em safras diferentes. Sinal que são realmente boas opções:

Julho 2011 e outubro 2014 - Innominabile Lotes III e IV (BRA)
Agosto 2011 e abril 2014 - La Flor de Pulenta Cabernet Sauvignon (ARG)
Julho 2013 e novembro 2014 - Memoro Rosato (ITA)
Junho 2014 e novembro 2015 - Petalos del Bierzo (ESP)
Fevereiro 2011 e maio 2014 - Tilia Malbec Syrah (ARG) 1ª Dica da Semana

Múltiplas dicas e sem dicas

Em algumas colunas estávamos muito aborrecidos com as tentativas de criar reservas de mercado e outras taxações que resolvemos, como forma de protesto, não indicar nada: março e abril de 2012.

Em compensação, indicamos mais de 1 vinho em diversas colunas, eis algumas delas:
Dezembro 2011 – diversos espumantes e na coluna seguinte 9 vinhos entre tintos e brancos

Maio 2012 - apresentamos os 10 vinhos premiados na Expovinis 2012
Abril 2015 – 3 Malbec para celebrar o seu dia (17/04)
Maio 2015 – 3 vinhos premiados na Expovinis 2015

Na série em três partes, “Adoçando a Vida”, foram duas dicas por capítulo, uma para os pobres mortais e a outra, usando uma terminologia bem atual, para a turma do Lava-Jato, Zelotes, etc...

Para completar, indicamos destilados de vinho em outubro de 2011 e jogos e outros acessórios na série “Compreendendo o Vinho” de julho 2011.

Países mais indicados

Argentina – 49
Brasil – 29
Chile – 36
Itália – 32
Portugal – 21

O pais menos indicado foi a Hungria, com 1 dica apenas.

Poderíamos inferir a uva que apareceu mais vezes, mas vamos apontar apenas como uma possibilidade, a Malbec, em virtude do maior número de dicas argentinas.

Mas pode não ser verdade. Se somarmos as sugestões chilenas e francesas, entre outras, é possível que o cetro passe para a Cabernet Sauvignon, seja como varietal ou em cortes. No momento não temos como avaliar este quesito.

Safras mais indicadas

2008 – 24
2009 – 27
2010 – 28

Em noventa sugestões não havia indicação da safra. Entre eles estão vinhos que normalmente não são safrados, como Fortificados, Espumantes e edições especiais. Em outros casos, foi por falha nossa: simplesmente omitimos esta informação.

Para finalizar, neste link se encontra a relação completa com a dica desta semana, inclusive.

As colunas anteriores, organizadas cronologicamente, podem ser lidas no meu Blog, “O Boletim do Vinho”, neste endereço: www.colunadotuty.com.br

Feliz Natal e um ótimo 2016, ano de eleições municipais.

Por favor, não reelejam nenhum dos atuais Prefeitos e Vereadores de suas cidades e estados. Vamos castigar todos eles, assim como fazem conosco.

Vinho da Semana: um espumante para as festas de fim de ano.

Quinta Don Bonifácio Brut Habitat


Vinificado com as castas Uvas Chardonnay e Pinot Noir pelo método tradicional.
Apresenta coloração amarelo palha, perlage muito fina e delicada.
Aromas persistentes, lembrando pão torrado e frutas vermelhas frescas. No palato é amanteigado e muito equilibrado.
Eleito o melhor espumante da Expovinis 2012.
 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vinhos “On the rocks”

O mundo do vinho tem aspectos muito curiosos, por exemplo, enquanto existe um lado totalmente conservador e quase engessado, como as eternas referências de Bordeaux e Bourgogne, o resto do mundo usa estratégias moderníssimas de marketing para atrair os mais variados tipos de consumidores para seus multivariados tipos de vinhos.

Dentro desta linha, existem vinhos para o público feminino, para os jovens, para fumantes de charutos e uma infinidade de outras faixas que nos fazem crer que deve existir, em alguma vinícola do mundo, um vinho elaborado especialmente para você.

A última novidade mercadológica são os vinhos produzidos para serem consumidos com pedras de gelo na taça. São vinificações especiais, em que se levou em conta a diluição por conta da água adicional do degelo. Dois produtos deste tipo estão disponíveis no nosso país, ambos vindos da França: um espumante e um rosé tranquilo.

Inveja do “whisky on the rocks” ou uma tentativa de conquistar clientes neste segmento?

Möet & Chandon Ice Imperial


Quando uma respeitada vinícola, do calibre desta, resolve colocar um novo e “revolucionário” produto no mercado, muita coisa está em jogo, a mais importante delas: o nome Möet & Chandon.

Para começar, “Ice” é uma nova classificação que se soma às tradicionais “Brut” e “Demi-Sec”. Para quem não sabe, Ice quer dizer gelo, em inglês. Pelo simples fato de usarem um anglicismo, coisa que os franceses simplesmente odeiam, indica claramente que é um Champagne para ser exportado. Não acredito que os nativos vão consumir isto.

A título de curiosidade, se em lugar do termo inglês usassem o francês, ficaria assim: “Glace Imperial”...

Aproxima-se de um espumante meio-doce. Elaborado com um corte de Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, com uma dosagem final de 45g/l de açúcar. É muito frutado apresentando aromas de manga e goiaba, além de notas de nectarina e framboesa. No palato é amplo destacando-se um carnudo e voluptuoso sabor de salada de frutas. Doçura próxima de um caramelo ou marmelada (suspeito...). Acidez refrescante com notas de gengibre.

A foto que ilustra serve para explicar que deve ser consumido em taças próprias para Cabernet Sauvignon, com 3 pedras de gelo. Pode-se acrescentar folhas de hortelã, sementes da cardamomo, raspas de frutas cítricas, casca de pepino, gengibre ou frutas vermelhas.

O problema é seu preço nas prateleiras nacionais: quase R$ 400,00...

Rosé Piscine

Esta proposta, na mesma linha da anterior, é bem mais palatável, tanto no custo quanto no capítulo de aromas e sabores.


A cor é muito bonita e nos convida para experimentá-lo rapidamente. Óbvio que a primeira ideia é fazer a comparação com e sem gelo. Recomendamos que façam como na foto, em copos “ Old Fashioned” com duas ou 3 pedras de gelo.

Elaborado com a casta Negrete pelo Grupo Vinovalie, criado em 2006, que reúne quatro cooperativas de vinhos do país e alguns châteaux, na região sudoeste da França.

Bonita coloração rosé-salmão pálido, quase transparente, com reflexos azulados. Seu nariz é refinado, com notas de limão e morango. Paladar harmonioso, que harmoniza bem com Camarão, terrine de peixe, peixes em molhos cítricos, queijo fresco com ervas.

Numa de nossas recentes reuniões foi muito apreciado. A garrafa esvaziou em poucos minutos.

Dica da Semana: não poderia ser outro.

 Rosé Piscine

Apenas siga as recomendações:

Servir entre 8° - 11°C

BEBER ABSOLUTAMENTE COM GELO

domingo, 6 de dezembro de 2015

"Avant-première" dos Vinhos de Colchagua

Tendo como cenário os elegantes salões do icônico Hotel Copacabana Palace, a Associação Viñas de Colchagua realizou no Rio de Janeiro o seu mais importante evento internacional, a ‘Avant-Première Viñas de Colchagua’.

O Vale de Colchagua é uma das mais conhecidas e importantes regiões produtoras do Chile. Localizada na sua região central ("Entre Cordilheiras"), é responsável por 60% da produção vinícola deste país.

Organizado pela CH2a Comunicação, sob a batuta de Alessandra Cassolato, o evento contou com a presença das vinícolas Bisquertt, Casa Silva, Lapostolle, Los Vascos, Luis Felipe Edwards, Montes, MontGras, Santa Cruz, Santa Helena, Siegel, Viña Ventisquero e Viu Manent, e a convidada Lurton.

Uma Master Class conduzida por Marcelo Copelo reuniu importantes formadores de opinião e profissionais do setor, que tiveram a oportunidade de degustar comparativamente 12 vinhos selecionados para expressar a diversidade e qualidade dos produtos elaborados no Vale de Colchagua. Foi possível avaliar o potencial de guarda e a evolução destes vinhos provando-se as safras desde 2006 até 2012. Cada produto foi comentado por um de seus enólogos. Um show à parte.

Na degustação aberta que seguiu à aula, foi possível experimentar os diversos rótulos de cada vinícola, muitos ainda por chegar ao mercado. Por esta razão, o evento foi denominado uma “Avant-première”. Além das mesas de cada produtor, havia uma ilha oferecendo somente tintos de alta gama elaborados com a emblemática Carménère.

Nossos destaques

Quase uma impossibilidade escolher o melhor entre os melhores. Mas alguns vinhos nos impressionaram por apresentarem características que fogem do habitual.

A mesa que mais chamou a nossa atenção foi a da Los Vascos, vinícola chilena de alma francesa, conduzida pelo renomado Chatêau Lafite da família Rothschild. Seus vinhos de terroir, que não passam por madeira, foram uma agradável surpresa: Chardonnay, Rosé e Cabernet Sauvignon. De corpo leve a médio e muito saborosos, pareciam dedicados ao clima da Cidade Maravilhosa.


Um produtor, ainda sem representante no nosso país, foi outra surpresa positiva: Viña Santa Cruz.

Não haviamos nos interessado, inicialmente, por puro desconhecimento, mas uma garrafa no estilo do Rhone chamou a nossa atenção e lá fomos provar mais algumas delícias: o excelente Tupu e os Chamán Malbec e Syrah, entre outros produtos, fizeram o nosso paladar descobrir novas e inesperadas experiências.

O Tupu, um vinho de edição limitada elaborado apenas em safras muito boas, é um corte de Carménère, Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec. Classificamos como uma fusão entre Bordeaux e Rhône à moda chilena. Delicioso!


O destaque individual entre todos os vinhos degustados foi o premiado Pangea, elaborado pela Viña Ventisquero, que será a nossa indicação da semana.

Dica da Semana: Um Syrah chileno fora de série.

 Ventisquero Pangea 2010

Elaborados com uvas selecionadas nos diversos solos da região de Apalta e uma fermentação especial.
Amadurecido por 18 meses em barricas de carvalho francês e 1 ano na garrafa. Grande corpo, concentrado, equlibrado e redondo.
Concentra toda a pureza e elegância desta casta.

Prêmios: Descorchados – 92 pts; Guia Mujer y Vino - 93 pts; Decanter World Wine Awards – Medalha de Prata.


Agradecemos a colaboração da amiga e blogueira Leila Bumachar pela cessão de fotos e outras informações. 
Não deixem de visitar seu excelente blog neste endereço:

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Derrubando ditaduras

Nem sempre alguns aspectos do mundo do vinho podem ser classificados como democráticos. Sem dúvida que o tema desta semana decorre das diversas situações vividas em todo o mundo, numa eterna disputa entre regimes democráticos, socialistas e totalitários.
Embora não tenha havido (ainda) qualquer ato de terrorismo que envolva vinícolas ou enófilos, existem algumas ditaduras que parecem nunca ter fim. Uma delas é a exigência de harmonizar vinho e comida.

Um grupo de apreciadores de vinhos, escritores especializados e até mesmo renomados críticos são opositores constantes destas engessadas regras que, muitas vezes, podem estragar uma boa reunião.

Não existe um fato que possa ser considerado como o marco inicial da ideia que devemos harmonizar, sempre, nossos alimentos com os vinhos.

Aparentemente foi no século 19, na Europa, que apareceram as primeiras ideias sobre este assunto. Nos EUA, após o fim da Lei Seca, estas regras, ainda em forma bem simples, tomaram certo vulto, apoiadas por ideólogos que rapidamente encontravam justificativas para combinar um vinho com este ou aquele alimento, o que implicava ser “proibida” qualquer alternativa.

No mundo moderno, se formos olhar direitinho o que acontece neste mercado, vamos descobrir que são tantas as possibilidades que, literalmente, enfraqueceram estas quase sagradas regras a ponto de estarem se tornando obsoletas: a variedade e a qualidade dos vinhos de hoje torna qualquer tentativa de estabelecer regras uma impossibilidade.

Some-se a isto o fato de o ser humano ter a necessidade de compensar as suas agruras diárias com uma boa dose de entretenimento e prazer.

A palavra negócio significa negação do ócio. Mas é nos momentos de ócio que nos tornamos mais criativos, mais reais, produzimos para nós mesmos, sonhamos.

Por que engessar este momento com mais regras, principalmente se estamos tentando nos liberar de toda e qualquer amarra?

Em 1989 foi publicado um interessante livro, escrito pelo Chef David Rosengarten e por Josh Wesson, criador da loja de vinhos Best Cellars (estoca apenas 100 vinhos e nenhum deles custaria mais que 10 dólares), com título “Vinho tinto com peixe” (Red Wine With Fish). Embora não tenha rompido com nenhuma convenção estabelecida, provocou muita discussão criando uma brecha nas inflexíveis harmonizações.

A partir desta iniciativa, diversas tendências foram surgindo, algo como “beba o vinho que mais lhe agrade”. Há uma nítida analogia com o movimento “slow food” em oposição à outra ditadura, a do “fast food” que surge depois do “tempo é dinheiro”, outro grande negócio: não perca tempo almoçando, trabalhe mais e ganhe mais dinheiro...

Para que, afinal?

Compramos um grande vinho, temos que esperar a ocasião adequada e para complicar mais um pouco encontrar o prato certo para acompanhar.

Simplifique! Desgourmetize!

Se alguma coisa sair errado, aproveitamos para rir um pouco e tirar proveito da situação. Sempre é possível corrigir o rumo das coisas.

Dica da Semana: um branco chileno que cai bem em qualquer refeição.

Los Vascos Chardonnay 2014

Este Chardonnay, com pedigree francês e sem estágio em carvalho, é tipicamente chileno: límpido, frutado e fresco.

Elegantes aromas lembram notas de abacaxi, banana, grapefruit, damasco e amêndoa.
Na boca é saboroso, fresco, deliciosamente frutado, com boa estrutura e longo final.


Premiações: Bronze no IWCh (2012); Bronze na IWSC (2013); WA 86 pts (2011); WA 88 pts (2010)