sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Uvas Autóctones da Itália

A partir desta semana faremos um novo passeio pela “Bota”, um país incrível do ponto de vista enológico com uma diversidade de uvas (e vinhos) difícil de equiparar. Observando o mapa a seguir, é possível identificarmos as diversas regiões em que se divide este cenário: cada uma tem, pelo menos, uma uva e um vinho, únicos.
Como não poderia deixar de ser, o italiano é um apaixonado por seus produtos e cada um vai puxar “a brasa para a sua sardinha”. Nunca vai haver um consenso sobre o que é melhor. O resto do mundo é quem vai escolher. Algumas vezes esta decisão é prejudicada, vinhos encantadores de minúscula produção não saem da comuna em que são produzidos.
São quase 2000 variedades nativas, algumas obscuras, outras bem conhecidas como a já mencionada Nebbiolo ou a Sangiovese. Mas já ouviram falar de Anglianico, Garganegra e Vernachia? Piemonte e Toscana são regiões que estão no vocabulário de qualquer enófilo iniciante, mas o que dizer sobre um vinho da região do Marche denominado “Verdicchio dei Castelli di Jesi”? Podemos assegurar que é um branco lendário (um passo à frente o leitor que conhece ou já provou).
Não se preocupem, não vamos fazer um aborrecido relato sobre todas estas uvas. Destacaremos algumas que, em nossa opinião, merecem ser mais divulgadas. Outras, mais que conhecidas, ainda não tiveram o devido destaque neste espaço e serão visitadas.
Para os leitores mais curiosos, vamos esclarecer algumas dúvidas que já devem estar surgindo ao mencionarmos aqueles estranhos nomes num parágrafo anterior: Anglianico é uma uva tinta das regiões da Basilicata e Campânia; Garganegra, outra tinta, da região do Veneto; Vernachia é uma varietal branca bastante difundida em todo o país. É associada a um excelente vinho da Toscana; Verdicchio é outra varietal branca. Mas ainda não é a hora de falarmos sobre elas o que acontecerá um pouco mais tarde.
Uma Emblemática Italiana?
Este tema está na moda. Até Portugal tenta emplacar a Touriga Nacional como seu eno-emblema. Na Itália este título seria dado para a Sangiovese, a uva mais plantada em seu território, com mais de 100.000 hectares e presente em 53 províncias. Pode produzir desde vinhos sublimes até intragáveis “água de lavar cachorro”. Tudo vai depender do binômio “onde e quem”.
Sangiovese deriva do latim “sanguis Jovis” que se traduz como “sangue de Júpiter”, Deus da mitologia romana. A versão mais aceita sobre sua origem está ligada à cidade de Santarcangelo di Romagna (Emília-Romana), onde um vinho produzido com esta cepa era armazenado em caves conhecidas como Grotte Tufacee, cavadas no Monte Júpiter (Mons Jovis).
Seu grande terroir é a Toscana destacando-se como a principal uva do celebrado Chianti. Mas não é o único vinho obtido com esta interessante uva: Carmignano, Vino Nobile di Montepulciano e Morellino di Scansano são algumas outras denominações. Um dos seus muitos clones produz o fabuloso Brunello di Montalcino (Sangiovese Grosso ou Brunello), para muitos o melhor vinho italiano superando o tradicional Barolo e o moderno Barbaresco.
Na próxima coluna trataremos destes vinhos.

Dica da Semana: um bom Chianti para começarmos a nos ambientar nesta jornada. Esta denominação andou muito desprestigiada e passou por grandes ajustes para recuperar o prestígio.


Confini Chianti Classico DOCG 2009
Produtor: Rocca dele Macie
País: Itália/Toscana
Uvas: 95% Sangiovese, 5% Merlot
Envelhecimento: 6 a 10 meses em barris de carvalho esloveno
Possui cor vermelho rubi vivo, é um vinho frutado, com leves aromas de especiarias, encorpado, com aromas persistentes. Harmoniza com massas, pizzas, carnes vermelhas, queijos duros

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – Final

Alsácia
Para finalizar, vamos conhecer um pouco desta curiosa região francesa de forte influência germânica. Localizada entre as montanhas Vosges a oeste e o Rio Reno e a Alemanha a leste, este pequeno paraíso, que já mudou de nacionalidade pelo menos 4 vezes, foi declarado território francês após a Grande Guerra.
Verdadeiro caldeirão cultural absorveu o que havia de melhor do cenário vinícola dos dois países o que poderia ser definido como um modo alemão de fazer vinhos franceses: o formato das garrafas tem enorme significado. Uma legislação rigorosa impõe limites que asseguram esta excepcional qualidade de seus vinhos.
Apenas 9 varietais são oficialmente permitidas: Riesiling, Pinot Gris, Gewüztraminer, Muscat, Pinot Noir, Pinot Blanc, Auxerrois Blanc, Sylvaner e Chasselas.
Existem outras castas plantadas, mas não são significativas. As seis primeiras são as mais importantes. A Muscat desempenha o papel de 4º Mosqueteiro no trio apresentado enquanto a Pinot Noir é a que produz o único tinto da região, muito diferente daqueles da Borgonha. Além deste são elaborados vinhos brancos, rosados e um excelente espumante o Cremant d’Alsace.
Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores...
O vinho alsaciano é tipicamente gastronômico, perfeito para acompanhar saborosas refeições. A grande surpresa fica por conta da pouca popularidade destes brancos. Alguns especialistas apontam a garrafa longa com um fator que trás grande confusão com os vinhos alemães, nem sempre bons e muito falsificados. Por outro lado o marketing da dupla Chardonnay e Sauvignon Blanc é tão forte que vale a pena perguntar: “Quem conhece Gewürztraminer, Muscat ou Pinot Gris?” Uma pena, pois são grandes vinhos em todos os sentidos, infelizmente, muito caros no nosso país.
Os vinhos mais simples, ainda assim muito saborosos, são um corte denominado Edelzwicker. As classificações seguintes são AOC Alsace e AOC Alsace Grand Cru (AOC = Denominação de Origem Controlada). Importante notar que nos rótulos é obrigatória a presença do nome da varietal. Esta é a única região francesa com esta exigência. Duas outras classificações são a “Vendange Tardive” (colheita tardia) e “Sélection de Grains Nobles” (colheita de grãos Botritizados) que são os vinhos de sobremesa.
Para os leitores aventureiros, fazer a Rota dos Vinhos Alsacianos é um dos melhores passeios que conhecemos. O centro de tudo é a cidade de Colmar. Pode-se partir dali ou optar por começar em Thann acompanhado o Rio Reno até Marlenheim, próximo a Strasbourg.
Esta rota existe a 60 anos e todo visitante é bem vindo em qualquer época do ano. Os alsacianos se esmeram para mostrar os seus vinhos e uma fantástica culinária. Somos recebidos de braços abertos até mesmo durante as pesadas fainas da colheita e vinificação.
As localidades de Colmar, Kaysersberg, Riquewihr e Illhaeusern são pontos obrigatórios. Lá estão alguns dos melhores Chefs de cozinha, com pratos perfeitos para harmonizar com os vinhos de produtores como Kuentz-Bas, Trimbach, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Beyer, Rolly Gassmann, Weinbach, Bruno Sorg, Marc Kreydenweiss, Hugel, Domaine Ostertag, Albert Boxler, Schlumberger entre outros.  
A seguir, alguns produtores e seus vinhos icônicos.
Maison Trimbach
Produzindo desde 1626, está na 12ª geração de vinhateiros dando continuidade a uma impecável reputação. Um dos seus Riesilngs o Clos Sainte Hune é considerado como o melhor do mundo por críticos do calibre de Jancis Robinson e Hugh Johnson.
Segundo o produtor, "para se regalar com um Clos de Sainte Hune, é necessário esperar pelo menos 10 anos para que ele mostre seu verdadeiro potencial, 15 anos, em geral, ele está perfeito ao início de seus 20 anos, ou até mais"...

Proveniente de um verdadeiro Clos, plantado em anexo à igreja da família em Hunawihr, o Sainte Hune não é produzido em volume maior que 10.000 garrafas, devido à baixíssima produção das videiras de 50 anos em um restrito terroir.
Opinião dos Especialistas:
Wine Spectator: 94 pontos (2001) 96 pontos (1996)
Robert Parker: 94 pontos (2000) 95 pontos (1998)
Wine Enthusiast: 93 pontos (1998)



Domaine Zind-Humbrecht
Porduzindo vinhos desde 1620, esta vinícola é considerada como o melhor produtor de vinhos brancos do mundo. Uma unanimidade tão grande que é mesmo surpredente: Bettane & Dessauve (entre os mais respeitáveis críticos na França) o considera "como um produtor excepcional, representante da qualidade mais absoluta."
Robert Parker diz: "Não sei o que é o mais extraordinário, a qualidade dos vinhos ou a dedicação completa de seu proprietário Olivier Humbrecht. Esse grande homem, forte e intelectual é provavelmente o melhor produtor do mundo".
Jancis Robinson: " Sou admiradora de sua incessante procura pela a melhor qualidade".
Seu vinho mais conceituado é o Sélection de Grains Nobles Pinot Gris Clos Jebsal

O vinho precisa de alguns minutos para revelar sua extraordinária textura. O nariz é muito sutil, com notas confitadas, aeradas. A boca, untuosa, é duma pureza e densidade impressionantes. Nesse nível de concentração qualquer desvio seria perceptível. Mas aqui o açúcar e a acidez são concentrados num equilíbrio perfeito. O material é denso, aveludado. Tem uma riqueza extrema, um acidez excitante. É a pureza de equilíbrio e persistência quase infinitos. Provavelmente um dos melhores licorosos já produzidos, que recebeu os elogios de todos os grandes críticos (Parker: 97/100, Bettane & Dessauve 19/20 etc...). 
Se tornou um vinho ícone.
Domaine Schlumberger
É o maior produtor da Alsácia. Em atividade desde 1810. O vinhedo já existia na Idade Média e algumas das adegas, ainda em uso, datam daquela época. Há um perfeito casamento entre tecnologia e tradição - carroças puxadas por cavalos e helicópteros se unem no mesmo esforço de qualidade. A coerência e a harmonia do processo de produção são obras de várias gerações dedicadas a esses "terroirs" privilegiados e orgulhosos de uma fama internacional. Dentre sua inacreditável linha de vinhos destacamos o Gewurztraminer Grand Cru Kitterlé.

Produzido num espigão rochoso, com inclinação de 30 a 60% e excelente exposição sul-oeste a sudeste. O solo leve e arenoso é segurado por muros de pedras secas. Rendimento de 25 hectolitros por hectare. Colheita manual e prensagem das uvas inteiras. Criação sobre borra durante oito meses em tonéis de carvalho, com controle de temperatura.
Sua coloração é amarelo ouro claro, com reflexos verdes. No nariz é intenso porem delicado, com notas tropicais (lichia, manga) e especiarias (gengibre). Com a evolução percebem-se notas florais (rosa) e cítricas (grapefruit). Na boca é Um vinho amplo, vivo e bem equilibrado. A complexidade dos aromas se desenvolve fiel aos apresentados ao nariz. Bom equilíbrio, persistência surpreendente.

Dica da Semana: para celebrar tudo isto, mais um vinho de lá!

Crémant d´Alsace - $
René Muré, pequeno produtor da Alsácia, explora o domaine familiar situado em Rouffach. O solo de calcário argiloso confere a este espumante Brut seus aromas cítricos e de frutas amarelas (damasco, mirabela) e sua estrutura elegante. As parreiras tem idade media de 20 anos.
Uvas: Pinot Blanc; Pinot Auxerrois; Riesling; Pinot Gris; Pinot Noir.
Cor amarela pálida, com reflexos verdes. Perlage fina, numerosa e regular. No nariz trás aromas delicados florais (tília) e de frutas (maçã); notas de canela e baunilha. Na boca é bem equilibrado e redondo. Seco e aromático, com final vivo. Persistente.