Estamos no meio de uma guerra que está sendo travada em
diversos fronts. Quem iniciou as escaramuças foi o IBRAVIN quando encaminhou
petição ao Governo Federal solicitando salvaguardas para o vinho nacional, ou
seja, novos impostos e cotas de importação que onerarão, ainda mais, o
consumidor final.
Rapidamente, os grandes importadores, chefes de cozinha dos
mais renomados restaurantes do país, críticos especializados, entre outros,
partiram para um rápido contra-ataque e a discórdia se instalou.
Vamos aos
fatos:
1 – O IBRAVIN, Instituto Brasileiro do vinho tem por objetivo promover e
ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões
concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro
produto derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos. É mantido com
recursos públicos estaduais (RS) e Federais, alem da taxa paga pelas vinícolas
associadas.
2 – Como todo órgão financiado por recursos públicos, sua gestão é
feita ou por indicação do governo ou por um colegiado com representantes das
vinícolas nacionais que, por sua importância, controlam indiretamente este instituto:
Miolo, Aurora, Salton, Valduga, Aliança, etc.
3 – A ideia retrógrada de
controlar o mercado de vinhos, formando um oligopólio não é nova, era prática
comum na era do nacionalismo exacerbado e nos deixou com um quase irrecuperável
atraso tecnológico até os dias de hoje, mesmo depois da abertura do mercado
para importações. Não é difícil perceber que os nossos automóveis ainda são
umas carroças e a lei da informática nos deixou na rabeira do mundo moderno.
Querem fazer o mesmo com o vinho de qualidade.
4 – Em recente entrevista, Luiz
Zanini, da vinícola Valontano afirmou: "Por que o IBRAVIN não pede o SIMPLES
para o pequeno produtor? Por que o IBRAVIN não pede o fim das normativas que
limitam a produção artesanal? Por que o IBRAVIN não pede a dispensa do SELO
FISCAL para quem produz até 50.000 litros de vinho? Por que o IBRAVIN não luta
para baixar os tributos de nossos vinhos, ou cria um regime especial para os
pequenos produtores? Isto seria a salvaguarda para a sobrevivência da
diversidade do vinho brasileiro. Ao contrário disto, o IBRAVIN que, diga-se de
passagem, não possui representantes de pequenas vinícolas, está se
especializando em burocratizar o Setor. Estamos caminhando para a era da
industrialização em massa, estamos dando aval ao vinho commodities em
detrimento da diversidade. Nosso vinho está sendo conduzido para a morte, e
terá apenas uma sobrevida nas gôndolas de supermercados de terceira categoria,
isto é degradante. Não posso compactuar com isto, por isso eu sou radicalmente
contra quaisquer iniciativas que não sejam discutidas de forma ampla e
democrática, com todos os personagens envolvidos. As empresas que representam a
minoria poderosa (que dominam as entidades que compõem o IBRAVIN) agora começam
a sofrer retaliações por parte da mídia, dos jornalistas, dos formadores de
opinião, dos editores de revistas, dos proprietários de restaurantes, dos
supermercadistas e dos sommeliers - são estas as pessoas que trabalham pelo
vinho brasileiro - e que estão indignadas com os rumos da politicagem do vinho
no Brasil. Quem deve abrir a cabeça"?
5 – Num exemplo simples, o IBRAVIN
financiou, no carnaval deste ano, a Academia de Samba União da Tinga que ganhou
o carnaval de Porto Alegre com um enredo sobre o vinho. Além disto, o Instituto
montou um fabuloso camarote para seus convidados Vips, onde espumantes eram
servidos a rodo, com a desculpa de propor a substituição da cerveja por este
vinho...
6 – Fica claro que a manobra proposta tem por objetivo principal
engordar o caixa desta instituição e ajudar a formar o cartel dos grandes
produtores.
A indignação foi geral e rapidamente divulgada nos principais meios
de comunicação. Ciro Lila, um dos mais importantes importadores (Mistral e
Vinci) publicou uma Carta Aberta aos seus clientes (http://www.mistral.com.br/vinho/salvaguardas/).
Os Chefes Roberta Sudbrack, Felipe Bronze e Alex Atala, entre muitos outros,
rapidamente retiraram os vinhos brasileiros de suas cartas, dando início a uma
forma de protesto, o boicote, pouco usual neste país, mas de grande efeito.
O
estrago foi enorme. Algumas vinícolas pequenas se apressaram em esclarecer que
eram contra as novas medidas: Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano.
Entre as grandes, apenas a Salton se pronunciou contra as salvaguardas.
Qual a
nossa posição?
Embora o colunista José Paulo Gils não acredite neste tipo de
protesto, "há sempre algum outro interesse não declarado por trás disto tudo", o
boicote iniciado pelos restaurateurs foi efetivo e parece ser um caminho fácil
de ser seguido: simplesmente vamos nos abster de consumir vinhos nacionais.
Existe, pelo menos, uma petição pública contra este movimento. Para conhecer e
participar acesse:
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=P2012N22143
Curiosamente, vinhos do Chile, Argentina e Uruguai, os mais fortes concorrentes
aos nacionais, escapariam destas medidas por força de outros acordos...
Para
saber mais, acesse esta excelente reportagem de Alexandre Lalas no site Wine
Report: http://www.winereport.com.br/winereports/a-salvaguarda-da-discordia/1866
Dica da
Semana: desculpem-nos, mas o vinho azedou! Fica para a próxima semana.
Qualquer um dos vinhos classificados como 1º ou 2º Crus
seriam excelentes representantes da vinicultura de Bordeaux. Para encerrar esta
série, escolhemos o que acreditamos ser o mais icônico produto desta região,
rivalizando em fama e carisma com o Romanée–Conti da Borgonha: Château Pétrus.
Sua origem começa no século 18 pelas mãos da família Arnaud que possuía um
pequeno vinhedo de 7 hectares. O primeiro registro de uma safra foi em 1837. Na
exposição internacional de Paris de 1878, ganhou a medalha de ouro e a
distinção de ser o primeiro vinho da região do Pomerol a receber este prêmio,
podendo equiparar seu preço aos melhores do mercado naquela época.
Nos
primórdios do século XX, os Arnaud transformam sua propriedade numa sociedade
de capital aberto, vendendo ações. Madame Loubat, dona de um hotel na cidade de
Libourne se torna um dos maiores compradores, num investimento que a
transformaria, em 1949, na proprietária do Château. Sua atuação foi decisiva em
várias fases desta vinícola. Para vender a primeira grande safra do pós-guerra
em 1945, contrata o negociante Jean-Pierre Moueix, que recebe direitos
exclusivos da comercialização

Esta nova parceria se mostrou muito acertada. Por
um lado, Mme. Loubat foi uma vigorosa vinhateira que se dedicava com afinco e
disciplina em manter e melhorar a qualidade de seus vinhos, buscando alcançar o
preço dos grandes Châteaus de então, enquanto Moueix se encarregava de abrir
mercados internacionais, entre eles os Estados Unidos e a Inglaterra: este foi
o vinho servido no casamento do Príncipe Philip com a Princesa Elizabeth em
1947. Uma caixa de Pétrus foi o presente da vinícola para a coroação da Rainha
em 1953.
Após o rigoroso inverno de 1956, 2/3 dos vinhedos do Pétrus haviam
sido dizimados pela geada. Mme. Loubat, numa decisão muito arriscada, decidiu
não replantar nenhuma das vinhas, mas recuperá-las através de enxertia nas
raízes sobreviventes, algo nunca tentado antes na região. Com isto, preservou a
qualidade de suas uvas. Após sua morte em 1961, a propriedade foi herdada por
duas sobrinhas e uma cota foi deixada, em testamento, para Moueix que se tornaria
sócio. Pouco a pouco comprou a parte das herdeiras e passou a controlar todo o
processo.
A força do Pétrus
Foi o trabalho de Moueix que elevou este vinho ao
status que mantém até hoje. Com uma divulgação excelente, ganhou clientes como
Aristóteles Onassis que o consumia na sua mesa cativa no famoso Le Pavillon de
Nova York. Pedir um Pétrus sinaliza não só o conhecedor de vinhos, mas aquele
capaz de compreender o universo vinícola.
Os vinhos da região do Pomerol nunca
foram classificados como os do Medoc ou St. Emilion, o que torna a fama do
Pétrus num feito extraordinário: foi obtida por consenso. Junto com o Château
Le Pin são os vinhos mais caros desta denominação.

Vários aspectos chamam a
atenção neste vinho. Ao contrário do que se imagina, não é produzido com a
rainha Cabernet Sauvignon, mas com a nobre Merlot, quase sempre sem a companhia
de nenhuma outra uva ou uma pequena parcela de Cabernet Franc, no máximo.
Tecnicamente, não chega a ser um corte Bordalês estando mais próximo de um
varietal. Seus métodos de produção são extremamente rigorosos e não é raro o
descarte de parte da produção que não atinge os padrões exigidos (o Château não
produz um segundo vinho). Dos atuais 11,4 hectares de vinhedos são produzidos,
nos melhores anos, 2500 caixas o que o torna um vinho raro, para poucos. Mantém
uma regularidade impressionante, tendo sido elogiado na maioria de suas safras.
Parker, nosso crítico favorito, premiou as safras de 21, 29, 47, 61, 89, 90,
2000 e 2009 com 100 pontos. Precisamos falar mais?
Os atuais proprietários
fazem um divertido comentário sobre o nome deste vinho: Não deveria ser chamado
de Château, não havia nenhum na propriedade, apenas uma modesta casa de fazenda
decorada com os símbolos e as chaves de São Pedro.
Notas de degustação
"O Petrus
2009 me lembra do que em 1982 tinha gosto em uma idade similar. Taninos doces,
juntamente com amora extraordinariamente pura e frutas cereja preta misturadas
com notas de alcaçuz e trufas são encontradas neste ano de 2009"… – Robert
Parker.
Este vinho exige muita pesquisa para se adquirir um exemplar no Brasil.
O preço médio está em torno de R$ 10.000,00 por garrafa, podendo ser duas ou
três vezes mais alto dependendo da safra.
1982 a outra grande safra de Bordeaux
Foram há exatos 30 anos! A safra de 2009 ainda tem muito terreno pela frente
para podermos afirmar que é uma safra melhor; os prognósticos são ótimos. Mas
vamos fazer uma pequena viagem no tempo e olhar para aquele ano. Houve uma
mudança inacreditável...
Antigamente, vinhos respeitados eram os de Bordeaux ou
da Bourgogne, nada mais. Champanhes sempre andaram com suas próprias pernas,
vinhos do Rhône eram vendidos como vinhos regionais. Da Itália, apenas as
garrafas empalhadas de Chianti se destacavam, Barolo era alguma garrafa velha e
empoeirada esquecida no fundo de alguma adega. Na Califórnia consumia-se um
estranho Zinfandel branco...
A excepcional safra de Bordeaux (82) provocaria uma
enxurrada de críticas positivas, Parker encabeçando o grupo, que a mídia não
podia mais ignorar. O mundo do vinho deixava de ser um círculo restrito e abria
as suas portas para que novas gerações de consumidores experimentassem suas
maravilhas. A globalização do vinho se torna um fenômeno irreversível, para
melhor ou para pior.
Se hoje encontramos as mais diversas vinificações, algumas
exóticas e deliciosas, vindas dos quatro cantos do planeta, devemos a esta
safra de 1982. Fica a dúvida: será que a de 2009 provocará novas mudanças?
Dica
da Semana: um bom Bordeaux que não é um Château.
L'Orangerie de Carignan
Produtor:
Château de Carignan
País: França/Bordeaux
Uva: Cabernet Franc (20%), Cabernet Sauvignon
(20%), Merlot (60%)
Coloração vermelho rubi com reflexos
púrpura, aroma de frutas negras e vermelhas maduras, intensas notas de
especiarias. Em boca apresenta taninos maduros e integrados, notas de frutas
negras e tostado. Final longo e persistente
Entender as diversas nuances da vitivinicultura bordalesa é
quase uma arte. São diversas regiões, cada uma com características próprias,
uvas predominantes, técnicas de produção que variam de porta em porta e até
mesmo um complexo sistema de comercialização que envolve a figura de um
"Courtier" (literalmente – cortesão) uma espécie de corretor enológico: os
produtores raramente vendem diretamente ao consumidor final envolvendo, quase
sempre, um "Negociant" que vai cuidar da venda final do produto, seja no mercado
interno ou externo. Esta negociação, que pode incluir uma safra futura, é
realizada com ajuda do mencionado Courtier, remunerado com 2% do valor do
negócio. Nada mal!
Vamos apresentar uma simplificação do que é importante em
Bordeaux.
A Geografia
Tudo gira em torno de três rios, o Dordogone e o Garone
que se juntam para formar o Gironde. As áreas vinícolas estão separadas por
eles: margem esquerda e margem direita do Gironde e Entre-Deux-Mers a região
limitada pelos outros dois rios. O mapa ajuda a visualizar esta divisão.
Margem
Esquerda - aqui estão situadas, além da cidade de Bordéus, as seguintes regiões
e suas subdivisões:
- Medoc (Bas Medoc e Haut Medoc) onde se destacam as
comunas de St.-Estèphe, Pauillac, Margaux e St.-Julien
- Graves -
Pessac-Léognan
- Sauternes e Barsac (vinhos doces)
- Cérons
Aqui brilha a uva
Cabernet Sauvignon que se adaptou ao solo de cascalhos (graves) desta área.
Margem Direita – aqui estão situadas as seguintes regiões e suas subdivisões:
-
Saint-Émilion
- Pomerol
- Lalande-de-Pomerol
- Fronsac e Canon-Fronsac
- Côtes
de Blaye
As castas predominantes são a Merlot e a Cabernet Franc perfeitamente
adaptadas aos solos de calcário, argila e areia desta região. Vale a pena
ressaltar que tanto em St. Emilion como em Pomerol estão os terrenos mais
valorizados da França, com preços estratosféricos por hectare.
Entre-Deux-Mers
– nesta região são produzidos os vinhos mais simples de Bordeaux, dentro da AOC
(denominação de origem controlada). Existem oito sub-regiões:
- Loupiac
- Saint-Croix-Du-Mont
- Saint-Foix-Bordeaux
- Cadillac
- Côtes de Bordeaux
St.-Macaire
- Premieres Côtes de Bordeaux
- Graves de Vayres
- Entre-Deux-Mers –
brancos secos de excelente qualidade
As diversas classificações e os Monstros
Sagrados
Em 1855 surgiu a Classificação Oficial do Vinho Bordalês elaborada a
partir do preço de venda. Contemplou a região do Medoc. A partir da década de
1950, Graves e Saint Emilion adotaram suas classificações. Curiosamente, a
região de Pomerol, onde são produzidos os vinhos mais valorizados, nunca
recebeu uma classificação oficial.
Esta divisão criou os grandes vinhos, que
estamos chamando de Monstros Sagrados:
1er Cru do Medoc
- Château
Lafite-Rothschild
- Château Margaux
- Château Latour (100 pts 2009)
- Château Mouton
Rothschild
1er Cru de Graves
- Château Haut-Brion (Pessac–Léognan) (100 pts 2009)
1er Cru A de Saint Emilion
- Château Ausone
- Château Cheval Blanc
Pomerol
- Château
Pétrus (100 pts 2009)
- Château Le Pin (100 pts 2009)
Observações importantes:
1
– esta classificação engloba os vinhos tintos;
2 – existe uma classificação
exclusiva para os brancos;
Apesar de serem todos vinhos maravilhosos, não são
os únicos vinhos de Bordeaux que merecem respeito e admiração. A melhor prova
disto são as notas 100 obtidas pela safra de 2009. Naquela relação já
apresentada, aparecem apenas quatro dos grandes vinhos, o que demonstra que a
classificação de 1855 está ultrapassada. Os demais são vinhos classificados
como Deuxième Cru, ou Grand Cru Classe, existindo um Cinquième Cru, entre eles,
o fabuloso Pontet Canet de Pauillac.
Na próxima coluna vamos apresentar o
Château Petrus, um ícone francês tão importante quanto o Romanée-Conti e um dos
vinhos mais falsificados do mundo. As fotos a seguir foram obtidas no que
poderíamos chamar de laboratório de um falsário recentemente encarcerado. Elas
falam por si...
Dica da Semana: um Bordeaux branco, para variar
Château
Timberlay Branco
País: França / Bordeaux
Uva: Uva: Semillon, Sauvignon Blanc
Teor alcoólico: 12%
Um vinho que se destaca por seus intensos aromas cítricos,
de peras e maçãs, com notas florais. Delicado e fresco, com ótima persistência.
Acompanhamento perfeito para peixes e frutos do mar.
Pelo menos na opinião do celebrado Robert Parker, o
Imperador do Vinho. Para surpresa geral, até mesmo de experimentados enófilos,
a safra de Bordeaux de 2009 foi distinguida com 19 (dezenove) notas 100, 18
tintos e 1 branco. Um fato inédito e digno de grandes comemorações.
Ainda não
havíamos falado sobre este país vinícola encravado na França. Citamos a
Borgonha e deixamos, conscientemente, a região de Bordeaux para uma segunda
visita. Aqui nasceram os grandes vinhos do mundo, desenvolveram-se as mais sofisticadas
técnicas de viticultura e vinificação e criou-se um modelo copiado por todos:
não há um enólogo na face da terra que não sonhe em incluir um corte bordalês
no seu portfólio. Quase uma reverência aos deuses da enocultura.
Um pouco de
história
A produção de vinhos nesta região data de 48 DC, durante a ocupação
romana de St. Emilion, quando foram implantados os primeiros vinhedos com a
finalidade de produzir bebida para as tropas de Roma. No ano 71 DC já havia
diversos vinhedos produtivos em Bordeaux, embora estudos tenham encontrado, na
região do Languedoc a presença da uva desde 122 AC.
O vinho ali produzido era
de agrado dos franceses e raramente exportado. A partir do século XII estes
vinhos ganham o mundo, através do casamento de Henry Plantagenet, que se
tornaria o Rei Henrique II da Inglaterra e Eleanor d’Aquitaine, incorporando a
província da Aquitânia ao território inglês e absorvendo a produção vinícola.
Este quadro só seria alterado ao final da guerra dos 100 anos quando a
província foi reincorporada à França.
Apesar de guerras e pragas, os
vinhedos foram se expandido obrigando à introdução de regiões demarcadas a
partir de 1725, para que os consumidores pudessem identificar as diversas
origens dos vinhos. O Instituto das Denominações Controladas, foi criado para
coibir falsificações, determinando que só os vinhos de Bordeaux ostentassem
esta indicação em seus rótulos.
A classificação de 1855
Não é possível
compreender estes vinhos sem conhecer a legislação sugerida pelo Imperador Napoleão
III. Ele exigiu uma forma de classificação para os grandes vinhos que seriam
expostos e negociados na Exposição Universal de Paris. A seleção levou em conta
a reputação do Château e o preço de venda, o que era diretamente relacionado à
qualidade.
Basicamente os tintos são enquadrados como Premier Crus até
Cinquièmes Crus, com ligeiras variações entre as regiões do Medoc, St. Emilion
e Graves.
Os brancos foram divididos em Premier Cru Superieur, Premier Cru e
Deuxième Cru.
Houve apenas duas alterações nesta classificação até hoje, a mais
significativa foi a reclassificação do Château Mouton Rothschild, em 1973, de
segundo para Primeiro Cru.
Os 20 vinhos de 100 pontos: (nome seguido da região
produtora)
Tintos: (todos Château)
- Beausejour Duffau Lagarrosse – St. Emilion
- Bellevue Mondotte - St. Emilion
- Clinet – Pomerol
- Clos Fourtet – St.
Emilion
- Cos D’Estournel – Saint Estephe
- Ducru Beaucaillou – Saint Julien
-
L’Evangile - Pomerol
- Haut Brion- Pessac - Léognan
- Latour - Medoc
- Leoville
Poyferre – Saint Julien
- La Mission Haut Brion - Pessac - Léognan
- Mondotte –
St. Emilion
- Montrose – Saint Estéphe
- Pavie – St. Emilion
- Petrus – Pomerol
- Le Pin - Pomerol
- Pontet Canet - Pauillac
- Smith Haut Lafitte - Pessac -
Léognan
Branco:
- Pape Clément - Pessac - Léognan
Todos ótimos vinhos, entre
eles grandes ícones que confirmam suas lendas. Mas... Caríssimos! Os 1er Crus
são considerados os mais caros vinhos do mundo. Depois dos 100 pontos, o céu é
o limite.
Curiosidade:
- após 30 anos criticando vinhos, Parker deu poucas notas
100. Foram 224 rótulos, muitos distinguidos em várias safras. O interessante é
a divisão destas notas por região produtora: 30% vinhos do Rhone, 24% de
Bordeaux (não computadas as atuais notas), 20% da Califórnia e 1,3 % da Itália.
Os restantes 24,7% estão distribuídos entre outros países.
Na semana que vem,
um pouco mais sobre Bordeaux.
Dica da Semana: um Bordeaux bom, bonito e barato
(será que existe?)
CHÂTEAU SAINTE MARIE ROUGE 2006
Produtor: Château Sainte
Marie
País: França / Bordeaux
Uva: 64% Merlot, 28% Cabernet Sauvignon e 8%
Cabernet Franc
Utilizando práticas raríssimas na região de Entre Deux Mers,
como cultivo orgânico e colheitas totalmente manuais, conseguem elaborar um
vinho bastante superior aos normalmente encontrados nesta denominação. Os
vinhedos antigos, com mais de 35 anos, e a maturação de 12 meses em barricas de
carvalho, contribuem para deixar o vinho ainda mais complexo e atraente. Uma
bela surpresa! Harmoniza com carnes grelhada, confit de pato, magret e carnes
assadas.
Um trio da pesada- Achaval Ferrer
Para enfrentar a dura
concorrência dos vinhos já apresentados, alguns produtores deste segmento Super
Premium, adotaram táticas de guerrilha. A vinícola Achaval Ferrer foi um deles.
Vamos conhecer um pouco mais sobre estes três vinhos top de linha: Finca
Mirador, Finca Altamira e Finca Bela Vista.
A jovem empresa foi fundada em
1968, por um grupo de amigos argentinos, Santiago Achaval Becú, Manuel Ferrer
Minetti, Marcelo Victoria e Diego Rosso, que não estavam diretamente ligados ao
mundo do vinho, e os italianos Tiziano Siviero e Roberto Cipresso, renomado
enólogo Toscano e produtor de um delicioso Brunello de Montalcino. Em comum, o
sonho de produzir grandes vinhos.
A primeira safra foi produzida em 1999, em
espaço alugado a outras empresas. Somente a partir de 2006 passariam a produzir
em suas próprias instalações. Seus vinhedos são todos muito antigos e
localizados em diferentes regiões. Contam com parreiras de quase 100 anos e
plantadas em pé franco (sem enxertos). A Finca Altamira está em La Consulta, a
1050 metros de altitude, data de 1925; a Finca Bela Vista data de 1910 e está
localizada em Pedriel a 950 metros; a Finca Mirador está em Medrano a 700
metros sobre o nível do mar.

De cada uma são produzidos vinhos com
características próprias pelas mãos de Cipresso. A colheita e dupla seleção dos
frutos é manual. O Processo é todo por gravidade e se há necessidade de
movimentação de líquidos são empregadas bombas peristálticas preservando a
integridade do mosto. A fermentação é obtida nos mesmos moldes de um Brunello,
em tanques de concreto com temperatura controlada. Passam por fermentação
malolática e são envelhecidos em barricas de carvalho. Há uma preocupação
constante do enólogo com a qualidade sendo feitas diversas provas durante todo
o processo e, a seu critério, novos processos podem ser introduzidos. O vinho
não é filtrado nem clarificado ao engarrafar.
Três vinhos respeitados
internacionalmente, recebendo ótimas notas de críticos e revistas
especializadas. A safra 2003 do Finca Bela Vista recebeu 96 pontos da Wine
Spectator e o título, na época, de Rei dos vinhos Argentinos. Em 2009 o Finca
Bela Vista ganhou 98 pontos de Robert Parker.
Finca Altamira: são produzidas
9.900 garrafas por ano. O vinhedo (finca), todo em pé franco, com mais de 80
anos, está localizado em La Consulta no Vale do Uco. São apenas 6 hectares com
um rendimento de 400g de uva por planta. São necessários 1,2Kg de uva para
fazer uma garrafa. Considerado um autêntico Grand Cru, amadurece por 15 meses
em barricas novas de carvalho francês. Sua cor é púrpura profunda e seu perfil
aromático combina potência e elegância, com nuanças tostadas, grafite, cereja
negra e ameixa, notas terrosas, trufas. Na boca é pleno, super denso, mas com
taninos elegantes, saboroso, fresco e com incrível persistência. A menor nota
obtida foi 95+ (Robert Parker).
Finca Mirador: são produzidas 10.100 garrafas.
O vinhedo de 5 hectares, localizado em Medrano, foi plantado em pé franco em
1921. Trabalha com o mesmo rendimento de 400g de uva por planta. Vinificado e
amadurecido como os anteriores têm coloração púrpura quase negro e brilhante.
Seus aromas disparam notas de cereja e framboesa negra, especiarias doces,
flores e um fino carvalho tostado. Na boca não nega ter nascido de vinhas
velhas, é concentrado e potente, mas elegante, com taninos de qualidade, puro,
fresco, saboroso e muito longo. Nunca recebeu pontuação inferior a 94 de Robert
Parker.
Finca Bela Vista: são produzidas 11.700 garrafas. O vinhedo de 5
hectares em pé franco foi plantado em 1921, é trabalhado nos mesmos moldes dos
demais. Após vinificado, amadurece cerca de 15 meses em barricas novas de
carvalho francês. Coloração Púrpura concentrada e brilhante apresenta aromas de
fruta negra, violeta, nuanças tostadas e terrosas, especiarias, incenso... Boca
densa, com taninos de alta qualidade e longa persistência. Nunca recebeu
pontuação inferior a 96 da Wine Advocate (Robert Parker).
Estes vinhos são
trazidos para o Brasil pela importadora Aurora-Inovini e tem boa distribuição
no país. Uma grande notícia são os preços bem mais palatáveis que o dos
concorrentes, variando de R$ 350, 00 até R$ 800,00 dependendo da safra e do
vinho. (dados de 2012)
Duas curiosidades:
Durante muitos anos o Chateau Montchenot, da
Bodega Lopez, foi considerado o melhor vinho argentino. Um corte Bordalês,
muito bem vinificado, à moda antiga, em grandes dornas, envelhecido calmamente,
como pedem os bons vinhos. Um porto seguro, delicioso até hoje e um preferido
pelos consumidores tradicionalistas. Vale a pena experimentar e compará-lo aos
vinhos modernos: algo surpreendente!

Existe o vinho mais caro da Argentina e,
inegavelmente, é um excelente produto, um super Premium como os demais. Não
enfrentou, ainda, a prova do tempo, por esta razão, não foi um dos ícones
citados. Mas tem tudo para se tornar um deles: Ultima Hoja da vinícola Bressia.
Um corte secreto vinificado como se estivessem lapidando uma jóia. Walter
Bressia é um tarimbadíssimo enólogo argentino que após passar por grandes
empresas decidiu trabalhar por conta própria. O sucesso foi instantâneo e sua
boutique de vinhos é um celeiro de grandes produtos. Define este corte como "o
resultado das experiências anotadas em milhares de últimas páginas, que
permitiram selecionar as melhores e inigualáveis barricas em uma experiência
única e que não será repetida".
Dica da Semana: escolhemos um vinho básico da
Achaval Ferrer.
ACHAVAL-FERRER MALBEC MENDOZA 2010
País: Argentina / Luján de
Cuyo - Mendoza
Uva - Malbec
Vermelho púrpura. Nariz sedutor, com grande
intensidade e pureza, revelando notas florais, de frutos vermelhos e negros
maduros (como cereja e framboesa), especiarias e sutis nuanças de madeira. Boca
gostosa, suculenta, densa, com taninos super aveludados, sabores frutados e
puros, ótimo frescor e alta persistência. Ideal para acompanhar cordeiro
assado, churrasco e pratos de carnes vermelhas em geral. Recomendamos decantar
este vinho cerca de uma hora antes de bebe-lo.