sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uvas da Puglia – Negroamaro e Primitivo – Final

Embora a Negroamaro seja considerada a casta emblemática da Puglia, foi a Primitivo que fez as engrenagens do progresso se movimentar e alavancar a indústria de vinhos desta região, por uma simples razão: com o nome de Zinfandel, ficou famosa na Califórnia. Vamos conhecer um pouco desta história.
A Zin, apelido carinhoso colocado pelos californianos, foi a casta que mais sucesso teve nos EUA, sendo a mais plantada naquele território. Em 1967 o professor da Universidade de Davis, Austin Goheen, visitou a Itália e ficou intrigado com a semelhança entre os vinhos produzidos com a Primitivo e a Zinfandel.
Estudos posteriores, com mudas levadas para os EUA, demonstraram que do ponto de vista ampelográfico eram a mesma uva. Em 1976, o professor italiano Dr. Lamberti, levantou a hipótese que ambas castas seriam descendentes da Plavac Mali, uma espécie da Croácia.
Este fato abriu uma nova série de estudos e pesquisas que culminaram, em 2011, quando foi encontrada uma antiga varietal denominada Crljenak Kaštelanski, que significa “Uva Tinta de Castela”. Através de desmembramento da cadeia de DNA concluíram que ela, a Primitivo e a Zinfandel eram a mesma uva, sendo a Plavac Mali uma prima.
Se o leitor pensa que o mistério foi esclarecido está enganado. Em 2012 surgiu um novo capítulo: as Mestres do Vinho Jancis Robinson e Julia Harding, junto com o geneticista suíço Dr. José Vouillamoz, após anos de pesquisas e testes de DNA concluíram que a Zinfandel/Primitivo/Crljenak descendem de outra casta croata, a Tribidrag, que existe desde o século XV.
Como estudioso do assunto e apreciador dos vinhos destas uvas, posso afirmar que ainda não se chegou ao fundo desta questão. Ao analisar o nome Primitivo, descobrimos que tem origem no fato desta varietal amadurecer precocemente. O que nos leva a pensar: uma casta espanhola, a Tempranillo, cujo nome tem o mesmo significado da italiana, o recebeu pelas mesmas razões... (há estudos em andamento, mas até o momento, são uvas distintas).
Existe outra possibilidade para explicar o nome, bastando trocar o gênero para o feminino: Primitiva. Alguns autores ainda afirmam que os vinhos produzidos seriam rudes, duros e mal-vinificados devido ao caráter irregular do amadurecimento. Nada mais distante da verdade, principalmente se olharmos o sucesso espetacular, em todo o mundo, conseguido com a irmã californiana. A italiana vai mais longe: já foi demonstrado que evoluiu para um clone bem superior em relação ao norte-americano.
Seus vinhos são simplesmente deliciosos e se os leitores ainda não provaram um Primitivo está na hora de fazê-lo. São alcoólicos e com taninos marcantes, cores intensas e profundas, muito saborosos e aromáticos.
A principal denominação é Primitivo di Manduria, uma cidade da província de Taranto.
Em 2012, a revista Gentelman, encartada no jornal Milano Finanza, analisou os 5 maiores guias italianos de vinho, Gambero Rosso, Bibenda, Veronelli, l’Espresso e Luca Maroni comparando os resultados. O grande vencedor foi:
Primitivo di Manduria ES 2010 de Gianfranco Fino
Um "caldo" descrito como monumental, carregados com sabores de cerejas negras e frutas vermelhas. Notas de baunilha temperadas pelo adocicado do Carvalho. Aveludado e fresco com ótima acidez. (sem representante no Brasil)
 

Dica da Semana: o irmão da dica da semana passada. Excelente relação custo x benefício. Difícil não gostar deste vinho.
 



Masseria Trajone Puglia Primitivo di Manduria 2008
Produtor: Masseria Trajone
País: Itália/Puglia
Um vinho muito rico, cheios de fruta madura. Saboroso e fácil de gostar, combina muito bem com massas e pratos de sabor marcante. 




Esta é a última coluna de 2012.
Passeamos pela Itália apresentado as castas Sangiovese, Verdicchio, Vernaccia, Corvina, Rondinella, Molinara, Aglianico, Greco, Fiano, Falanghina, Montepulciano, Trebbiano, Negroamaro e Primitivo.
Ainda existem outras uvas que valem uma matéria, entre elas, Arneis, Barbera, Dolcetto e Nero d’Avola. No próximo ano voltaremos a elas em alguma oportunidade.
Feliz Natal, um ótimo 2013, e grandes vinhos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uvas da Puglia – Negroamaro e Primitivo - I

Vamos começar esta coluna contando um pouco sobre a Puglia, uma região topograficamente muito diferente do resto da Itália. Olhando para a “bota”, estamos no que seria o calcanhar e salto.
Não existem montanhas aqui, é uma grande planície, com um solo muito bom para as videiras. Tem a maior produtividade de todo o país, com impressionantes 130 milhões de caixas de vinho por ano. Isto é mais do que muitos países produtores tradicionais. Com uma tradição vinícola de mais de 2000 anos e com pelo menos 25 áreas demarcadas, a Puglia só acordou para os vinhos de qualidade recentemente.
Uma das regiões mais pobres deste país, sempre produziu vinhos para serem transformados em Vermute, apesar de um clima e geografia idênticos aos dos principais produtores do novo mundo. Um dia “a ficha caiu” e importantes vinicultores redescobriram esta incrível região vinícola.
Existem diversas castas plantadas na Puglia, além de Negroamaro e Primitivo encontramos as tintas Malvasia Negra e Uva di Troia. Entre as brancas temos: Verdeca, Bianco d’Alessano, Bombino Bianco, Malvasia Bianca e Trebbiano.

Negroamaro é a uva emblemática desta região, embora vinhos com 100% desta uva não sejam comuns. Quase sempre está associada a outras varietais. Pesquisas genéticas apontam que é uma uva nativa desta área tendo como ponto de origem a mesma raiz genética da Sangiovese e da Verdicchio. Seu nome também gera interessantes questões: apesar de “amaro” significar amargo em italiano, não parece ser esta a tradução correta para a uva em questão. A melhor interpretação nos leva a dois idiomas, Latim e Grego antigo. Do primeiro reconhecemos ‘Negro’ e do segundo vem a termo ‘maru’ que também significa negro: Negro maru = Negro amaro = negro negro ou, numa interpretação moderna, negro intenso.
Maru tem a mesma raiz fonética de Merum, um vinho trazido para a Puglia por colonos que ali se estabeleceram antes dos gregos, no século VII AC. Na literatura clássica encontramos algumas referências a ‘mera tarantina’, por autores romanos, o que nos leva a crer que a Negroamaro poderia ser a uva usada no Merum.

Produz vinhos de cor escura muito profunda, com taninos que variam de médios a intensos. Medianamente aromática, tem sabores marcantes de frutas negras com notas de canela, cravo e outros temperos secos.
A principal região produtora é a planície de Salento, destacando-se a vila de Salice (DOC Salice Salentino) com seus tintos e rosados. Um produtor de destaque é a Masseria Candido que, brevemente, terá seus vinhos à venda no Brasil.



Dica da Semana: Um excelente representante desta DOC elaborado por uma jovem e moderna vinícola.
 


Masseria Trajone Salice Salentino Riserva
Uva: 80% Negroamaro, 15% Malvasia Nera di Lecce e 5% Malvasia Nera di Brindisi
Encorpado, cheio de fruta madura e com um delicioso acento regional, este saboroso tinto da Puglia mostra um estilo fácil de agradar, ideal para acompanhar comida. Uma bela descoberta, de excelente relação qualidade/preço.
Harmonização: Carnes assadas, cordeiro, massas, risoto e polenta.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Montepulciano e Trebbiano – duas uvas que causam confusões – Final

Trebbiano é a outra denominação que passa uma rasteira nos apreciadores menos atentos. Também, pudera! Existem 7 denominações semelhantes: Trebbiano di Aprilia, Trebbiano di Arborea, Trebbiano di Capriano del Colle, Trebbiano di Romagna, Trebbiano Val Trebbia dei Colli Piacentini, Trebbiano di Soave e Trebbiano d’Abruzzo que é o tema da coluna de hoje.
Os leitores já devem estar imaginando se não estamos escrevendo sobre uma mesma uva plantada em diferentes regiões e que recebem nomes locais. Nada disso: a localmente denominada Trebbiano d’Abruzzo é a casta Bombino Bianco, uma corruptela de “Buon Vino”.

A origem desta casta ainda não foi determinada exatamente, mas existem documentos atestando a sua vinificação, pelos Romanos, desde o século 16 – a uva e o vinho eram chamados de Trebulanum. Se fosse elaborado em Abruzzo era denominado Trebulanum Abruzzese. Ao longo do tempo o nome se transformou em Trebbiano.
Duas correntes explicam este nome latino. A primeira afirma que deriva de “Trebula”, nome de uma vila, hoje conhecida como “Treglia”, na província de Caserta, Campanha. A segunda hipótese acredita que a origem deriva de “trebulanus” que pode significar “casa-grande (fazenda)” ou ainda “pequena propriedade rural”. Ampliando este significado, esta seria a uva que produzia o vinho feito para consumo na propriedade, o equivalente ao nosso “vinho de colono”. (na foto, Abruzzo)

Mesmo com estas explicações, alguns importantes autores afirmam que estamos falando da mesma uva. O que aparentemente aumentaria a confusão é, na verdade, uma ótima explicação para toda esta situação: os vinhos produzidos com cada denominação são muito diferentes, a maioria, muito ruins, exceto alguns poucos produzidos em Abruzzo.
Generalizando, Trebbiano é a uva branca mais plantada na Itália e que produzem de tudo, bons vinhos, beberagens medíocres, Conhaque na França onde recebe o nome de Ugni Blanc e até mesmo o fantástico Vinagre Balsâmico. Foi exportada para diversos países, entre eles o Brasil.
Uma curiosidade: existe atualmente um vinho italiano rotulado como “Trebulanum” que é produzido com a obscura casta “Casavecchia”: o produtor, Alois, afirma que esta seria a uva original do vinho romano.
Dois Vinhos Magníficos
Dois produtores já mencionados na coluna da semana passada também são os destaques nos vinhos brancos. Os Valentini são considerados como os melhores intérpretes desta casta há muitas gerações. Pesquisando a história desta vinícola, encontramos uma simples e interessante explicação para a confusão em tela: Trebbiano d’Abruzzo nunca foi uma casta, mas o vinho produzido com a Bombino cortada pela Trebbiano Toscana em proporções regidas pela DOC.
A safra de 1992 foi das melhores, um vinho que “falava o dialeto local mais do que a ciência da vinicultura”, de acordo com seu produtor Francesco Paolo Valentini.
Notas de folhas secas, biscoitos, especiarias, café, flores de camomila. Muito frescor no palato, vitalidade, corpo e um inesperado final. Acima de R$ 400,00. (2012)


Masciarelli também se esmera nos seus brancos. O Marina Cvetic é uma destas joias raras apesar de ser um vinho produzido a partir de 1991.

 


A safra de 2008 pode ser descrita com aromas intensos e cheios. No palato flores, frutas, especiarias sendo perfeitamente distinguível (aromas e sabores) papaia, pêssego amarelo, mel, lavanda e baunilha. Um vinho que se torna inesquecível quando degustado. Acima de R$ 200,00. (2012)





Dica da Semana: um Masciarelli que podemos desfrutar sem nenhum arrependimento.
 


Trebbiano d'Abruzzo 2010
O Trebbiano da linha Classica de Masciarelli combina o característico frescor desta casta com convidativas notas aromáticas.
O vinho é elaborado com uvas de videiras de quase 40 anos, que conferem ao vinho mais personalidade que a maioria dos exemplos de Trebbiano.
Uma ótima pedida para acompanhar peixes e frutos do mar.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Montepulciano e Trebbiano – duas uvas que causam confusões - I

Uma tinta, outra branca, confusões causadas por homônimos e quem sofre as consequências são os enófilos iniciantes. Para que isto não seja uma pedra no sapato de ninguém, vamos destrinchar este fato.
A uva Montepulciano, cultivada na região de Abruzzo que fica cerca de 80 Km de Roma, produz um vinho com o mesmo nome que é sempre confundido com o Vino Nobili, joia produzida na cidade de Montepulciano que fica no coração da Toscana. A confusão não é sem fundamento, mas o Vino Nobili não é produzido com uva Motepulciano, mas com a Sangiovese e não se planta Montepulciano na Toscana. Confuso!

A especialista Jancis Robinson arrisca um palpite ao sugerir que esta casta surgiu na Toscana e teria a mesma origem (vegetal) que a Sangiovese. Disto resultaria o “imbróglio”, que na verdade é apenas linguístico. Apesar de largamente plantada no sul e centro da Itália praticamente não existe na região norte devido a uma característica: amadurece muito tarde e não vinifica corretamente no norte italiano.
Sendo a segunda uva mais plantada naquele país (ilustração), tem alta produtividade embora tenha pouco sumo em relação à sua pele. A casca é muito rica em taninos e fenóis dando origem a uma coloração bonita e intensa. Os vinhos são muito gentis, fáceis de beber e agradam a todos os gostos.

A principal denominação é a DOC Montepulciano d’Abruzzo, que usa um mínimo de 85% da varietal em seus vinhos. Dentro desta região existe uma DOCG, Coline Teramane, que tem leis mais restritas, exigindo um mínimo de 90%. Além destas duas, são regulamentadas outras 42 regiões onde esta uva pode ser usada na vinificação. Destacam-se as DOC Rosso Piceno e Rosso Cornero, ambas no Marche. O Cerasuolo, que significa vermelho cereja, é um interessante rosé obtido com esta varietal, sua coloração é única.
Principais produtores
O vinho Montepulciano d’Abruzzo é figura fácil em qualquer loja de vinhos ou supermercados. Apesar de ter algum potencial de guarda é um vinho para ser consumido ainda jovem. Alguns produtores se esmeram em aproveitar toda a potencialidade desta casta e são reconhecidos. Dino Illuminati, Valentini e Masciareli são alguns destes nomes:



Illuminati Zanna
O Sr. Dino Illuminati ganhou em 2005 o "Oscar do Vinho" como Melhor Produtor da Itália conferido pela Associação Italiana Sommelier e Bibenda e Duemilavini.
Robert Parker: 91 pts (safra 2006)
Preço: acima de R$ 150,00 (2012)
 





Valentini recebeu o título "La cantina dell´Anno" do Gambero Rosso 2011, título máximo no mundo do vinho italiano. Considerado o melhor produtor de Abruzzo. 94 Pontos - Robert Parker (Safra 2008), 3 "biccheri + " - Gambero Rosso 2011 (Safra 2008), 5 "grappoli" - Duemilavini 2011 (Safra 2008).
Preço: acima dos R$ 800,00. (2012)


Dica da Semana: escolhemos um Montepulciano do excelente produtor Masciarelli.
 



Masciarelli Montepulciano d'Abruzzo 2009
Delicioso Montepulciano d'Abruzzo, cheio de fruta, aveludado e equilibrado. Um dos melhores exemplares desta Denominação de origem!
Harmonização: Aves, massas, pizzas, risotos, carnes leves.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

As brancas da Campanha e Basilicata - Final

A Fiano é a casta branca mais plantada na região da Campanha, como mostra o mapa abaixo. Ampelógrafos e historiadores do vinho consideram que esta é uma uva clássica do sul da Itália. A origem remonta aos tempos das vinificações romanas.
Especula-se que ela teria sido cultivada pelos ocupantes gregos e pode ter sido a uva por trás do famoso vinho Apianun, que era produzido nas colinas próximas à cidade de Avelino. Naquela época, esta varietal era denominada “vitis apiana”.
“Apiana” deriva da raiz latina “apis” que significa abelha. O nome pode ter origem no fato de ser muito comum ter abelhas atraídas pela doce polpa daquela fruta. O mesmo ocorre, hoje, com a Fiano.
Devido a uma característica casca muito espessa, esta vinífera tem um rendimento muito baixo, não sendo uma cultura interessante para os vinhateiros. Por esta razão foi sendo paulatinamente abandonada em favor de uvas mais rentáveis como a Trebbiano e a Sangiovese. Somente com as mais modernas técnicas de vinificação aliada à preocupação de preservar algumas castas indígenas e quase esquecidas, que a Fiano experimenta um renascimento. Produtores de primeira linha, como Mastroberardino, a replantaram em seu terroir original nos arredores de Avelino, em consórcio com plantações de avelãs.

Os Fianos são muito aromáticos e de sabor intenso, com notas de mel e que desenvolvem, ao longo do tempo, sabores mais condimentados e de frutos secos como nozes, avelãs e amêndoas. A principal DOCG, Fiano di Avellino, exige um mínimo de 85% da uva no vinho, podendo ser cortado com Greco, Coda di Volpe e Trebbiano. A produtividade máxima é de 10 t por hectare e o teor alcólico mínimo de 11.5%. Permitem a utilização do termo Apianum, no rótulo, para associar o vinho moderno ao antigo.

A uva Falanghina é outra descendente grega segundo os estudiosos deste segmento. Seu nome deriva do Latim falangae, que eram as estacas que seguravam as videiras no campo. Uma das cultivares mais antigas da vinificação italiana, existe desde o ano 7 AC.
Uma verdadeira sobrevivente, foi uma das castas mais atingidas pela temível Filoxera e acreditava-se extinta até que, em 1970, a família Martusciello encontrou algumas videiras em bom estado e iniciou o meticuloso e lento processo de replantio de um vinhedo, que levou mais de 10 anos. Resultou num grande acerto – os vinhos obtidos são excelentes, sendo considerado um sonho para qualquer apreciador de vinhos.
O vinho é muito equilibrado e “enche a boca”. Seus aromas lembram flores recém cortadas e frutas verdes. Os sabores são persistentes e remetem à maçãs verdes.
O vinho perfeito para acompanhar os saborosos frutos do mar: moluscos, peixes grelhados ou fritos e lulas. Os tradicionalistas preferem degustá-lo acompanhado de uma fresquíssima Mozzarella di Bufala.
Alguns vinhos importantes com estas castas:



 



Greco di Tufo “VIGNA CICOGNA”, do produtor Benito Ferrara, considerado um dos melhores da Itália. Sem representantes no Brasil. No exterior custa em torno de US$ 46.00 (2012)
 









Fiano di Avelino do produtor Feudi San Gregorio, que possui o mais bem localizado vinhedo para esta casta. Importado pela World Wine, custa no catálogo R$ 105,00 (2012)
 









Falanghina Campi Flegrei DOC do produtor Grotta del Sole, que pertence à família Martusciello, pioneira no replantio desta casta. Sem representantes no Brasil. No exterior custa em torno de US$ 20.00 (2012)
 




Dica da Semana: para não deixar ninguém com água na boca, um honesto Falanghina.


 

Vesevo Sannio Falanghina DOC
Cloração amarelo claro. Aroma intenso, persistente e frutado. Corpo médio e bem balanceado. Acompanha Aperitivos, pratos leves, carnes branca, queijos jovens e peixes.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

As brancas da Campanha e Basilicata - I

Três cepas se destacam: Greco, Fiano e Falanghina, em ordem de importância. A primeira recebe este nome devido a sua origem: Grécia.
A ilustração acima mostra a migração das uvas gregas, para a Itália, há cerca de 2.500 anos atrás. “Greco” ou “vinho grego” tem sido a expressão usada para designar algumas varietais que tem esta origem em comum. Estudos modernos de ampelografia não foram capazes de estabelecer, com exatidão, a origem desta uva. O mais provável é que ela seja um clone da casta originalmente trazida pelos ocupantes: a Greco Bianco, cultivada na região da Campanha, tem o mesmo DNA da Aspirino, grega. Admite-se, hoje, que esta denominação é um “guarda-chuva” que abriga uma série de uvas, inclusive algumas tintas. Curiosamente, muitas delas não são mais cultivadas no seu país de origem.
Quase devastada ao final da Segunda Guerra, conseguiu sobreviver graças aos esforços de dedicadas famílias de vinhateiros que optaram por permanecer no campo, não se deixando seduzir pela vida nos grandes centros e por empregos no setor industrial de um país sendo reconstruído. Destaca-se, novamente, Mastroberardino.
A principal área de plantio fica nas proximidades do famoso vulcão Vesúvio, na cidade de Tufo que dá nome à principal DOCG: Greco di Tufo.
O solo vulcânico é muito propício para uvas brancas. Os produtores preferem colhe-las bem mais tarde e, na vinificação, privilegiam a acidez deixando o teor alcoólico em torno de 12,5%, o que é considerado baixo. O produto final pode ser consumido em 3 ou 4 anos após a produção. São vinhos muito elegantes e refinados, de sabor delicado, remetendo a peras, marmelo e maçã desidratada. Raramente são colocados em madeira. Sua coloração é naturalmente mais escura, sendo descrita como um dourado acinzentado.
Outra denominação importante é a DOC Greco di Bianco, na Calábria, produzindo um vinho de sobremesa pelo método de passificação.

Dica da Semana: existem ótimas opções desta denominação à venda. Algumas com preços exorbitantes. Esta indicação está num patamar bem acessível.


Vesevo Greco Di Tufo DOCG - $
País: Itália/Campanha
Amarelo brilhante. Aroma intenso, frutado e persistente. Corpo médio e bem balanceado.
Harmonização: Frutos do mar, carne branca e aperitivos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Voltamos para a Itália e respondemos a uma complexa questão

No começo desta série havia um título principal, “Uvas Autóctones da Itália”. Com o avanço da ciência e da tecnologia, descobriu-se que muitas das castas que se pensavam nativas foram trazidas de outros territórios. Este é o caso de uma nobre uva tinta das regiões da Campanha e Basilicata: Aglianico.
Vamos começar pelo básico, aprendendo como se pronuncia o seu nome, com a ajuda do vídeo a seguir:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=tm_uaY5TkLI
Pode parecer uma bobagem, mas não há nada mais deselegante que pronunciar um nome da forma indevida. Existem duas correntes que tentam explicar a origem desta denominação. Aqui entra a “ciência e tecnologia”.

Estudos atuais revelaram que esta uva foi trazida para a península itálica pelos gregos quando se estabeleceram na região de Cuma, Campanha, em 540 AC. Este fato induziu a primeira explicação para o seu nome, uma deturpação da expressão “Vitis Helenica” (vinho grego) – a uva era conhecida como “Ellenico”. Outra corrente sugere que seja uma modificação de “Apulianicum” ou “da Puglia”, nome genérico da região sul do país na época dos Romanos.
Nesta época era produzido um vinho que considerado como um “Grand Cru”, ou seja, um produto de 1ª qualidade: o Falerno, um branco, muito alcoólico, elaborado com predominância da tinta Aglianico. Provavelmente o primeiro vinho “cult” do mundo. Embora não exista mais, sua fama elevou esta casta ao status de nobreza.
Examinando esta verdadeira colcha de retalhos chamada Itália é possível compreender toda a importância de Etruscos no norte e Gregos no sul: foram os responsáveis por introduzir uvas e vinhos neste multifacetado país. Esta é a origem dos vários estilos que se diferenciam desde o modo como as vinhas são conduzidas até os processos de vinificação. Um universo em si mesmo!
São 2500 anos de vinificação ininterrupta, um solo tão propício para as uvas que os gregos denominaram esta terra como “Enotria” – “terra da videira”. Mais de 1 milhão de italianos tem suas vidas ligadas à indústria do vinho.
Duas denominações que utilizam a casta Aglianico se destacam: Aglianico del Vulture, na Basilicata (DOCG - 2011) e Taurasi na Campanha (DOCG - 1993). Seus produtores se esmeram para reacender o brilho nobre desta casta.
A menor denominação é produzida com vinhas plantadas nas encostas de um vulcão (vulture – ilustração a seguir). Produz um vinho estruturado e fresco com excelente relação custo x benefício. Precisa de alguns anos para desenvolver todo seu potencial.
Neste link a pronúncia correta de "
Aglianico del Vulture":
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=K6PhkzpsmZc
 

Taurasi é a principal denominação. Conta com o respeito de um grande número de apreciadores. A cada safra surgem vinhos espetaculares que podem, a qualquer momento, serem equiparados aos melhores Brunellos, Amarones e Barbarescos. Foi considerado como o “Barolo do Sul”.
Veja o vídeo para não errar na hora de pedir:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ojr80dhxzhk
 

O principal polo produtor originou-se na antiga e pequena comuna de Taurasi (foto), estendendo por outras regiões da Província de Avelino. Até 1990 havia um único produtor, Mastroberardino. Hoje são 293 vinícolas exportadoras.
De acordo com a legislação, deve ser envelhecido por um mínimo de 3 anos, um deles obrigatoriamente em carvalho, antes de ser colocado no mercado. Resulta num vinho muito encorpado e estruturado, elegante, equilibrado e com um final longo. Aromas de frutas negras e sabores que remetem a café, chocolate, violetas e alcaçuz. Definitivamente um vinho de guarda, não se deve degustá-lo jovem, 10 anos de espera é o ideal. Perfeito com a culinária e os embutidos do sul italiano.
Na próxima coluna, uma casta branca que também veio da Grécia: Greco di Tufo.
 

Uma pergunta sem resposta?
Muitos leitores têm demonstrado sua curiosidade sobre o que seria o melhor ou mais caro vinho. A resposta a esta questão é complexa envolvendo fatores imponderáveis como o gosto pessoal, empatias diversas, etc...
Mas o problema pode ser resolvido de forma indireta quando um renomado produtor decide criar “o vinho mais caro do mundo”...
A vinícola Penfolds, australiana, preparou 12 envases do seu melhor Cabernet, denominado Kalimna Block 42, cujas videiras foram trazidas da França em 1830 e plantadas no Vale de Barossa.
Optaram por não colocá-lo numa garrafa, mas em uma ampola com o mesmo volume. Toda a embalagem é feita artesanalmente. Cada uma tem o preço de US$ 168,000.00 (cento e sessenta e oito mil dólares americanos) e dá ao comprador o direito de receber, onde e quando ele determinar, a visita de um enólogo para abrir a ampola e promover a degustação.
Vejam o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=45uSKIQtc7A
 

Dica da Semana: um ótimo Taurasi de Mastroberardino pode custar acima dos R$ 400,00. Optamos por indicar um Aglianico del Vulture, com preço acessível.



Pipoli Aglianico del Vulture DOC
De cor brilhante avermelhada, com reflexos de violeta. Apresenta uma integridade forte e aromática com reflexos de cereja preta, cereja amarga misturada com especiarias e baunilha. Harmoniza perfeitamente com todos os pratos feitos com carnes, ideal também para queijos temperados.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Uma pausa no passeio italiano

Governo não acata Salvaguardas!
Após uma importante reunião entre o nefando IBRAVIN, um verdadeiro antro de parasitas, acompanhado da Uvibra, Fecovinho e Sindivinho e, do outro lado da mesa, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e duas associações dos importadores de vinho (Abrabe e ABBA), o questionável pedido de salvaguardas para o vinho brasileiro teria sido retirado do Ministério do Desenvolvimento, encerrando temporariamente este lamentável episódio.
A nova proposta é aumentar o consumo de vinhos nacionais atingindo uma meta de 40 milhões de litros em 2016. A estimativa para este ano é de 19 milhões de litros. Meta ambiciosa sem dúvida. Nas entrelinhas ficou claro que uma vez não atingida a meta proposta, o pedido pode voltar.
Para conseguir tal nível de consumo, a exposição de vinhos brasileiros deve aumentar em supermercados e lojas especializadas ao mesmo tempo em que os importadores deixarão de trazer vinhos do segmento mais barato, criando um nicho mais favorável ao nosso produto.
Sem dúvida uma solução de bom senso, ainda assim cheia de pontos duvidosos, o mais importante deles é o custo absurdo do nosso vinho: poderiam diminuir a burocracia e classificar esta bebida como alimento nos moldes dos países civilizados reduzindo a taxação.
Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos...
Quando começamos a usar taças de vidro para os vinhos?
Este tema foi proposto pela leitora Adriana Sampaio, do Rio Grande do Sul. Escreveu num e-mail:
“... aí, lendo a sua historinha me lembrei de uma coisa: quando assistimos a filmes de época, século XIV ou XV vemos a nobreza tomando vinho em canecas ou naqueles copos dourados. Quando exatamente se começou a beber vinho em taças?... e em taças de vidro?”
A história do vidro é mais antiga que a do vinho. Para aqueles que já estão duvidando desta afirmação, vale a pena lembrar que existe um vidro natural, de origem vulcânica, a obsidiana, muito utilizada pelas sociedades da Idade da Pedra para produzir ferramentas de corte. Eventualmente foi usada como moeda de troca.
Pesquisas arqueológicas revelam que a primeira manufatura de vidro pelo homem teria ocorrido na Mesopotâmia. Somente na Idade do Bronze houve um grande desenvolvimento na tecnologia de fabricação: surgem os vidros coloridos que teriam vários usos, principalmente decorativos. Interessante notar que o vidro nesta época não era moldado a quente, mas esculpido a frio com técnicas copiadas das que eram empregadas no trabalho com pedras.
Ao final da era do Bronze, o vidro era um material de alto valor comparável aos mais nobres metais. Por ser muito frágil foi sendo paulatinamente abandonado, criando-se um hiato na sua produção e utilização que só seria retomado no século IX AC, quando foi desenvolvida a fabricação de vidro incolor. O vidro soprado surgiria no século I AC, barateando o custo. Tornaram-se comuns recipientes de vidro que foram muito populares no Império Romano. No ano 100 DC os romanos já usavam vidro em sua arquitetura. Os produtos mais comuns eram vasos e outros recipientes. No exemplo a seguir alguns objetos romanos.

Embora existam vestígios de vinho datados em 6.000 anos antes de Cristo, o serviço desta bebida era feito em potes de barro, bolsas de couro ou mesmo em chifre de animais. Para sermos exatos, bebia-se diretamente do recipiente de guarda, (inclusive nos de vidro quando surgiram).
Os primeiros copos eram adaptações rudimentares de partes animais ou vegetais, como a casca de um ovo de avestruz ou uma cuia vegetal. Por não serem estáveis ao serem colocados sobre uma superfície plana, tomava-se todo o líquido de uma só vez, descartando o recipiente em seguida. O próximo passo foi criar uma base para estes objetos conforme a ilustração a seguir.

Copos de metal seriam produzidos a partir do desenvolvimento das técnicas de metalurgia do bronze. O inicialmente eram canecas, mas logo criariam base e haste tornando-os mais elegantes. Prata, cobre, estanho e ouro foram muito utilizados.

A partir do ano 1300 DC surgem recipientes de vidro, ainda sem a forma de taça. Franceses, Venezianos e Alemães desenvolvem a arte de fabricação de objetos em vidro copiando, naturalmente, os modelos existentes de metal ou cerâmica. A ilustração seguinte nos mostra um copo alemão do século XVII.
A primeira ocorrência de uma taça para vinho, de vidro, vem do Século XVI, produzida na República de Veneza pelos artesãos da ilha de Murano. Eram artisticamente decoradas e perfeitamente transparentes permitindo apreciar a cor da bebida. A foto mostra uma taça produzida naquela época.
Há um interessante registro feito pelo pintor Bonifacio Veronese (1487 – 1553). Sua “Última Ceia”, que está na Galeria Uffizi em Florença, nos mostra claramente vinhos em taças de cristal. A foto abaixo, registrada na abertura de uma exposição na Califórnia, nos permite observar o detalhe.
Até onde a imaginação do autor se confunde com a realidade?
 

Agradecemos a leitora Adriana Sampaio por sua colaboração.
 

Dica da Semana: comemorando o bom senso e o fim do pedido de salvaguardas, um bom vinho brasileiro.

Innominabile Lote IV
Produtor: Villaggio Grando
Origem: Campos de Herciliópolis/SC
Castas: Cab. Sauvignon, Cab. Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir, Petit Vernot e Marselan
Coloração rubi com reflexos violáceos. Aromas passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez. Taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado que por apresentar uma boa persistência se faz sentir com elegância e singularidade após ser degustado. É um vinho complexo, de guarda.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Uvas autóctones da Itália - Um trio da Pesada - Final

Recioto dela Valpolicella
Durante muito tempo este era o principal vinho da região do Veneto até ser desbancado pelo Amarone no início do século XX. Tecnicamente é o mesmo vinho, um doce, o outro seco. Diferenças importantes no processo produtivo fazem toda a diferença.

A técnica de produzir vinhos a partir de uvas parcialmente desidratadas teria sido trazida pelos gregos quando ocuparam a península itálica em busca de terras mais férteis (Segunda Diáspora). Até hoje alguns produtores usam a expressão “Greco” para indicar este estilo de vinho.
Durante o processo de “apassimento” as uvas destinadas ao Recioto são secas por mais tempo do que as reservadas ao Amarone, obtendo-se uma maior concentração de açúcares. Para garantir a qualidade, a seleção de cachos no vinhedo é extremamente cuidadosa – só os frutos mais maduros e localizados no topo da vinha, recebendo a maior insolação possível.

A fermentação é interrompida prematuramente capturando todas as características de frescor e doçura dos frutos, resultando num alto teor de açúcar residual (250g/l) e baixo teor alcoólico, 12%. Armazenado em pequenas barricas de carvalho francês durante 12 meses, produz um vinho de corpo médio com textura muito aveludada. Sabores intensos e sedutores de frutas negras e chocolate.
Quase uma raridade, sua produção é muito pequena, 2% do volume de Amarone. Um dos poucos vinhos tintos de sobremesa não fortificados. Os principais produtores são Masi, Tomaso Bussola, Corte Sant’Alda e Giuseppe Quintarelli . Os preços variam entre R$ 200,00 e R$ 500,00, mas não são fáceis de encontrar por aqui.
Ripasso
O quarto vinho obtido nesta saga do “Trio da Pesada” tem uma interessante história. Seu nome deriva da técnica empregada no seu preparo. Ripasso, que significa repasse ou reprocessamento, é um método de vinificação que ficou esquecido por alguns séculos e foi revivido, a partir de 1980, pelo grande produtor de Amarone, Masi Agricola.
Em termos simples, após a fermentação do Amarone as borras são removidas e misturadas a um vinho Valpolicella Clássico recém produzido. Isto provoca uma segunda fermentação que vai turbinar o vinho acrescentando mais cor, taninos, compostos aromáticos, corpo, etc.
O resultado final é um ótimo vinho, bem acessível ao bolso dos pobres mortais. A parte divertida fica por conta dos diversos apelidos: Amarone dos Pobres; Amarone Jr., entre outros.
A técnica faz muito sucesso hoje em dia e gerou uma batalha judicial entre alguns produtores para que fosse liberado o uso da expressão “Ripasso” nos rótulos de seus vinhos: as grandes empresas haviam registrado este nome como uma marca.
Apesar de terem ganho a batalha, nem todos adotaram o termo preferindo usar “Dupla Fermentação” ou “Segunda Fermentação”. Alguns dos produtores que originalmente reservaram o termo Ripasso simplesmente abandonaram esta referência embora usem a técnica, como no rótulo abaixo.
Curiosidade:
Existe uma casta branca nesta região, a “Soave” que produz um branco de grande popularidade no país. Também é produzido o Recioto di Soave, um delicioso vinho de sobremesa.
 

Dica da semana: O preço médio de um Ripasso está na faixa de R$ 150,00 (2012). Há vários bons exemplares à venda. A Masi tem uma vinícola na Argentina que produz um Ripasso sul americano, obtido a partir de uma vinificação de Malbec e Corvina Veronese. Um dos vinhos de melhor relação custo x benefício do hemisfério sul.


Masi Passo Doble Malbec / Corvina 

A ótima acidez o deixa fresco e seco, ideal para acompanhar diversos pratos. Para Jancis Robinson, ele é "extraordinário" e um "great value", "um vinho único, com um final de boca mais seco e sofisticado do que a maioria dos vinhos argentinos".