sexta-feira, 27 de julho de 2012

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 1ª parte



Três uvas importantes que produzem fenomenais vinhos brancos. A primeira já passou por estas páginas quando visitamos os vinhos alemães, mas ela brilha em outros terrenos a ponto de fazer uma dura concorrência e gerar milhões de apaixonados pela sua versão francesa, produzida na Alsácia. 
Vamos conhecer um pouco mais sobre esta curiosa região franco-alemã, sua uvas, e seus vinhos. 
Riesling 
Originária da região do Reno, esta uva é considerada como a verdadeira rainha dos brancos em franca oposição à Chardonnay. Produz vinhos muito aromáticos, perfumados, com claras notas florais e alta acidez. Dados estatísticos de 2004 mostram que esta varietal é a 20ª mais plantada no mundo e seus vinhos estão sempre entre os melhores brancos do planeta. 
Isto se deve a uma característica muito particular: é a uva que melhor expressa o terroir em que está plantada. Um Riesling do Reno é diferente do Alsaciano que é diferente do Australiano e assim por diante. Para os apreciadores, a disputa pelo melhor fica restrita entre França e Alemanha. Podem ser produzidos desde vinhos secos até os doces, de colheita tardia bem como espumantes. Raramente são envelhecidos em madeira o que sugere que devem ser consumidos jovens, mas devido sua acidez característica, suportam muito bem um longo período de guarda. Os secos duram de 5 a 15 anos, os meio-doces de 10 a 20 anos e os late harvest duram 30 ou mais anos. Há registros de Riesling alemães com mais de 100 anos. 
Chegaram à Alsácia em 1477 adaptando-se ao tipo de solo mais calcário desta região. Tecnicamente o Riesling alsaciano é considerado uma variação de sua irmã germânica. Seus vinhos são mais alcoólicos e mais redondos devido às técnicas francesas de vinificação. 
Rieslings maduros tem uma tendência a apresentar aromas e sabores de derivados de petróleo, querosene principalmente. Existe uma discussão interminável se esta característica é uma qualidade ou um defeito. Podemos ter certeza, apenas, que é um autêntico. Esta uva é encontrada nos principais países produtores, entre eles Austrália e Nova Zelândia, Áustria, Estados Unidos e Canadá, Chile, Argentina e Brasil. 
Seus vinhos são de fácil harmonização sendo muito versáteis: do peixe à carne de porco, passando sem problemas pelos sabores condimentados das culinárias Thai e Chinesa. 
Resposta ao Desafio da semana passada 
Como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar, eis a resposta. Quando se trata de proteger seus domínios, os franceses são imbatíveis. Em 1954, após o relato de numerosos casos de OVNIs, o Prefeito da comuna de Châteauneuf-du-Pape, Lucien Jeune, editou um decreto municipal: 
"Art. premier. Le survol, l'atterrissage et le décollage d'aéronefs dits soucoupes volantes ou cigares volants de quelque nationalité que ce soit, sont interdits sur le territoire de la commune. 
Art 2. Tout aéronef, dit soucoupe volante ou cigare volant, qui atterrira sur le territoire de la commune, sera immédiatement mis en fourrière. 
Art 3. Le garde champêtre et le garde particulier sont chargés, chacun en ce qui le concerne, de l'exécution du présent arrêté". 
Tradução: 
1º - Ficam proibidos no território desta comuna, o sobrevoo, a aterrissagem ou a decolagem das aeronaves conhecidas com discos voadores ou charutos voadores, de qualquer nacionalidade que seja. 
2º - Toda aeronave denominada disco voador ou charuto voador que aterrissar neste território será imediatamente arrestada. 
3º - A Guarda Campestre e a Guarda Particular estão incumbidas, cada uma em sua área, da execução do presente decreto. 
O curioso é que esta postura está válida até hoje, ninguém se deu ao trabalho de revogá-la! 
Do outro lado do mundo, na Califórnia, um moderno e atrevido produtor, Bonny Doon, lançou em 1984 uma família de vinhos elaborados nos moldes dos Châteauneufs. Bem ao seu estilo informal e quase debochado, o nome escolhido não poderia ser outro Le Cigarre Volant, ou Disco Voador... 

Cantinho do Gils: Nosso sempre atento comparsa nos traz uma preciosa informação sobre o 6º Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, ocorrido em Bento Gonçalves entre os dias 03 e 06 deste mês de Julho. Reuniu 503 amostras de 17 países que foram avaliadas por um júri formado por 45 degustadores de 11 nacionalidades. Foram premiados 148 vinhos de 12 países. A relação completa está neste link: (download formato PDF) www.enologia.org.br/pt/component/kd2/item/download/3 

Dica da Semana: vinhos da Alsácia são maravilhosos, mas muito caros. Depois de uma boa pesquisa encontramos esta joia: 

Riesling 2009 
Produtor: P.E. Dopff & Fils 
País: França/Alsácia 
Uvas obtidas em vinhedos próprios, rendimento limitado e colheita manual. A vinificação é tradicional em tanque de aço inoxidável com controle de temperatura. Não sofre fermentação malolática e nem passa em barrica. Um Riesling, seco e marcante, bem típico da Alsácia. Mostra notas floras e minerais e uma ótima acidez. Pode ser guardado por até 10 anos. 
Harmonização: Frutos do mar e pratos orientais.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Syrah a poderosa: Vinhos do Rhône


 Parece que erramos a mão no desafio da semana passada. Até o momento em que começo a escrever a coluna, nenhuma sugestão. A resposta estava na definição de Ampelografia, uma disciplina da botânica e da agronomia que estuda e identifica as castas de videiras por suas características. A mais simples delas é a forma e coloração das folhas! Reparem nas imagens a seguir: 
Cada tipo de uva tem uma folha diferente, esta era a resposta esperada. 
Mais um desafio lá no final! 
Os Vinhos 
Esta é, estatisticamente, a região que recebeu mais notas 100 do crítico Robert Parker. Há uma lenda sobre sua preferência por este tipo de vinho, na verdade, um gosto bem universal: são fáceis de beber e harmonizar com uma boa refeição, embora sejam encorpados, pedindo um clima mais ameno. Nada de calores tropicais. 
Hermitage 
Um dos produtores que se destacam é M. Chapoutier, com seus Ermitage (ou L´Hermitage). Produz vários vinhos sob esta denominação, destacam-se o L’Ermite e o fabuloso Le Pavillon, ganhador de nada menos que 4 notas 100, safras de 1989, 1990, 1991 e 2003. 
Descrito como um vinho de cor púrpura escura com aromas predominantes de flores silvestres, frutas negras, grafite e trufas. Em boca, uma textura excepcional, muito encorpado e rico. Levemente adocicado com taninos e acidez em perfeito equilíbrio. Um fora de série destinado aos que tem paciência de esperar 10 ou 15 anos para prová-lo e, quem sabe, continuar bebendo nos próximos 50 a 100 anos. Um vinho que pode ser guardado por 60 anos sem problemas. Monumental. 100% produzido a partir da Syrah. 
Côte Rôtie 
Outro grande produtor é a E. Guigal, um dos nomes mais respeitados na denominação Côte Rôtie. Três de seus vinhos receberam 21 notas máximas em diferentes safras: La Landonne, La Turque e La Mouline. 
São obtidos a partir da Syrah, unicamente. Descritos como vinhos de coloração vermelha profundamente escura, com os característicos aromas intensos de frutas negras, alcaçuz, especiarias orientais e algo defumado ou enfumaçado. No palato são concentrados, com bom ataque, taninos firmes e acidez equilibrada. Segundo o produtor, a mais perfeita expressão possível de cada terroir. Vinhos fantásticos! Enorme potencial de guarda: 30 anos. 
Premiações: 
La Landonne 1985, 1988, 1990, 1998, 1999, 2003, 2005; 
La Mouline 1976, 1878, 1983, 1985, 1988, 1991, 1999, 2003, 2005; 
La Turque 1985, 1988, 1999, 2003, 2005. 
Chateauneuf-du-Pape 
Dificílimo selecionar um representante desta denominação. Depois de um longo período com vinhos abaixo da crítica, fraudados e sem expressão, os produtores reunidos promulgaram a primeira região demarcada da França (AOC), que serviria de base para as demais. Muitos anos depois e com grandes esforços, estes vinhos voltariam a brilhar, tornando-se um ícone do Rhône. 
Seguindo a legislação, podem ser usadas até 13 uvas diferentes no corte, mas somente estas: Cinsaut, Counoise, Mourvèdre, Muscardin, Syrah, Terret Noir, Vaccarèse, Bourboulenc, Clairette, Picardan, Piquepoul, Roussanne e Grenache. Podem ser usadas as varietais tintas, brancas ou rosadas indistintamente. Existe um Châteauneuf branco, elaborado com varietais brancas unicamente. 
O Château de Beaucastel (Famille Perrin) é o único produtor que realmente elabora seus vinhos com as 13 castas. Talvez por isto seja muito famosos nesta região. Um dos mais premiados somente é produzido em grandes safras, o Hommage à Jacques Perrin. 
Com uma coloração entre o azul escuro e o púrpura, apresenta aromas suntuosos que vão desde as frutas negras passando por assados, especiarias, trufas e incenso. O paladar é muito encorpado, corretamente equilibrado, trazendo sabores de frutas frescas e um interminável final. Muitos já afirmaram que dariam a vida para provar um destes. Infelizmente a produção é muito pequena, atingindo a 500 caixas no máximo. Loucura! 
Há muitos outros vinhos maravilhosos nesta região. Poderíamos incluir as regiões de Cornas, Gigondas e Condrieu, entre outras. Importante é lembrar que um vinho com denominação genérica Côtes do Rhône vale a pena experimentar. 
Semana que vem vamos conhecer um trio de uvas da Alsácia. Enquanto isto: 
Desafio para esta semana: 
Este é infinitamente mais fácil que o anterior. Tentem descobrir o que há em comum com os vinhos de Châteauneuf-du-Pape, Discos Voadores e um vinho da Califórnia. 
Curioso e divertido! 

Dica da Semana: um Syrah elaborado pelo rival de Chapoutier. 


Le Petit Jaboulet Syrah 2008 
Produtor: Paul Jaboulet Aîné 
País: França 
Região: Rhône 
Paul Jaboulet rivaliza com Chapoutier pelo posto de melhor produtor do Rhône. Seus vinhos estão entre os melhores da região. Um achado de ótima relação custo x benefício. Classificado como Vin de Pays, tem interessante complexidade, bom ataque de boca e nariz.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Syrah a poderosa



Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores. 
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa. 
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado. 
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:
África do Sul --> Califórnia --> Sul da França --> Vale do Rhône --> Austrália 
Delicado ---------------------------------------------------------------> Intenso 
Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras. 
Onde ela brilha? 
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon. 
Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio. 
O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte. 
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis! 
Semana que vem trataremos deles. 
Desafio da Semana passada: 
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho) 

"Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões": 
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio). 
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis. 
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante. 
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando. 
Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo: 
2 - Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano. 
Correto, já explicado acima; 
3 - Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho. 
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites; 
4 - Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada. 
OK! Já explicado; 
5 - Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas. 
Está mais para lenda... 
6 - Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho. 
Outro uso inventado por "gente de muito requinte"..., não é uma boa forma de servir vinhos; 
7 - De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável. 
Lenda; 
8 - Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho. 
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente; 
9 - As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente. 
Outro uso não confirmado, mas plausível; 
10 - A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa. 
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte. 
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem. 
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso. 
Desafio para esta semana: 
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca? 

Dica da Semana: um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar. 



Côtes du Rhône St Esprit 2009 
Produtor: Delas Frères 
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache 
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos. 
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas. 
RP – 90 pontos

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pagando algumas dívidas

Nenhum cronista gosta muito de usar chavões em seus textos. Algumas vezes perdemos um bom tempo procurando uma forma alternativa de passar uma ideia que é apresentada, de maneira simples e direta, por um daqueles provérbios que aprendemos quando criança. Quando decidimos ir contra as regras da boa escrita, embarcamos num novo problema: qual frase usar? 
O melhor é deixar a prosopopeia de lado. Hoje vamos começar a cumprir algumas promessas antes que entrem na relação dos arquivos mortos. Primeiro, as mais recentes. 
Uma das colunas que mais nos surpreendeu foi a das garrafas. Movimentou bem a caixa postal e trouxe uma nova visão sobre a curiosidade de nossos leitores. Na sequência, fizemos um pequeno desafio sobre as garrafas de Chianti, envoltas em palha. Havia uma foto, logo abaixo, mostrando a garrafa sem a palha e revelando, para os mais atentos, uma das razões da curiosa embalagem, mas não todas. A brincadeira era completada na Dica da Semana, quando sugeríamos um Chianti em garrafa Bordalesa e perguntávamos onde estava a forma tradicional. 
A primeira leitora a responder o teste foi a Mariana Almeida, de Uberlândia, sugerindo que a palha era uma forma de proteção, neste caso, para manter uma temperatura agradável para o consumo: acertou parcialmente, é uma forma de proteção, mas para outras finalidades. 
A resposta completa foi dada por um dos meus confrades, Mario Ramos, numa verdadeira aula sobre esta tradicional garrafa italiana. Saboreiem: 
"Caro Tuty, 
A palha era originariamente usada para proteger as garrafas (frágeis, sopradas à mão) e colocá-las em pé em cima das mesas graças ao formato achatado da base de palha. Facilitava muito a guarda das mesmas, com o hábito de pendurá-las no teto, paredes ou hastes, economizando espaço. Depois por tradição. Posteriormente a uma fase de conceito baixo (e as garrafas já eram seguras e perfeitas) alguns produtores resolveram mudar para o formato bordalês, numa tentativa de recuperar o prestígio. 
Mário" 
Resolvida esta questão, vamos propor outra: Por que será que existe aquele recesso no fundo das garrafas de hoje? Para ajudar, existem algumas explicações, mas uma é a razão original, as demais seriam usos alternativos para este detalhe. Cartas para a redação! (não resisti ao chavão)... 
O nosso comparsa José Paulo Gils está de volta:  
O assunto não poderia ser outro que o polêmico tema das Salvaguardas. Gils chamou a nossa atenção para dois textos publicados no Blog Wine Report. 
O primeiro, de Alexandre Lalas, intitula-se "A Luta Continua" e trata da audiência pública promovida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) no dia 28/06/2012 para julgar a necessidade de aplicação das salvaguardas. (http://www.winereport.com.br/winereports/a-luta-continua/2021)
Reproduzo, a seguir, os dois últimos parágrafos: 
"Nos corredores do MDIC corre a certeza de que o pedido de aplicação de salvaguarda para o vinho nacional carece de embasamento técnico. No entanto, a pressão política exercida pela corrente gaúcha do Governo Federal pode fazer com que a salvaguarda seja adotada assim mesmo. Em recente entrevista a uma rádio gaúcha, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, garantiu que o pedido seria aceito, independente da posição do MDIC.
Caso a salvaguarda seja adotada, um boicote aos vinhos nacionais dos produtores que não se manifestaram contra o pedido pode causar sérios prejuízos à indústria vinícola nacional. Um abaixo-assinado contra o pedido já ultrapassou as 10 mil assinaturas".
De lastimável, somente a declaração inoportuna do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Pepe Vargas, também conhecido por Gilberto José Spier Vargas, gaúcho de Nova Petrópolis. Acho que não é preciso falar mais nada... O segundo texto, de Rogerio Rebouças, "Não há Caso" , comenta a atuação na audiência de dois representantes da indústria vinícola europeia, o Secretário-geral do Comitê Europeu das Empresas de Vinho (CEEV), Sr. José Ramon Fernandez e o Sr. Nicolas Ozanam Secretário-geral da Federação dos Exportadores de Vinhos e Espirituosos da França (FEVS).
(http://www.winereport.com.br/winereports/nao-ha-caso/2023)
Reproduzo alguns trechos abaixo: 
"O que os europeus tentaram mostrar na audiência é que não existem as condições necessárias, como alega o IBRAVIN e demais entidades gaúchas, para a aplicação das Salvaguardas. "Com base em todos os argumentos técnicos apresentados não há caso", afirma Ozanam. Fernandez garante que o momento é de deixar os técnicos analisarem com calma as informações fornecidas e não jogar gasolina no fogo, ao menos da parte dos produtores europeus. Acredita que a questão técnica prevalecerá e também o bom senso. Seu desejo é de que esta disputa não tivesse sido criada e que os esforços dos produtores brasileiros fossem direcionados, conjuntamente com os importadores e produtores estrangeiros, em prol do vinho e de seu consumo. "Preferia estar investindo em promoção e formação ao invés de estar pagando advogados em Brasília", assegurou. 
A decisão técnica deve acontecer até o final de julho. "Fomos firmes, mostramos a real situação e aguardamos a decisão do Ministério. O abaixo-assinado, a mobilização dos consumidores, importadores, lojistas e donos de restaurantes, associações de Sommeliers e amantes do vinho e da imprensa foi muito importante", constatou entusiasmado o Secretário do CEEV. "Não vamos nos precipitar, vamos aguardar agora a decisão. O ideal seria que todos no Brasil se unissem em prol do vinho e que não desperdiçassem tanta energia e recursos neste tipo de confronto que não ajuda o mercado. Se a indústria brasileira do vinho crescesse e puxasse o consumo seria melhor para todos. Prefiro uma pauta positiva", concluiu". 
Vale a pena, também, ler um texto do colunista Didú Russo, "Salvaguardas, chegou a hora do Bom Senso". 
Dois pontos muito importantes ressaltados pelo colunista: 
"Se saírem as Salvaguardas e os técnicos do MDIC já sinalizaram que seria uma decisão política e que viria em cotas e que provavelmente limitaria o mercado importador a algo como 40 milhões de litros/ano, o desastre estaria feito para os dois lados: 
1) O mercado ficaria reduzido em relação ao volume de hoje, por tanto os preços subiriam para nós consumidores. 
2) Os supermercados (60% da venda dos nacionais com 90 mil pontos de venda) partiriam para a retaliação, pois não são obrigados a vender vinho brasileiro. Já declararam isso. Os consumidores então nem se fale, já boicotam os nacionais neste momento. 
3) Os importadores e suas associações entrariam no dia seguinte com pedido de mandado de segurança. Ainda existe Poder Judiciário no país graças a Deus. Aconteceu com o Selo Fiscal e deu no que deu. É muito provável que o mesmo roteiro se repita. 
Este é o cenário do PERDE–PERDE. Ou seja, os dois lados querendo ganhar fazem com que todos percam". 
"Mas acontece que eu sou otimista, eu sou do GANHA–GANHA, onde os dois lados entram em entendimento, cada um negociando o que lhe é mais importante, cedendo daqui, concedendo dali e todos saem ganhando. E acredito nisso pelo seguinte: 
1) Os produtores brasileiros já sentiram que o boicote acontecerá e que poderá quebrar de verdade muita gente além de desvalorizar os enormes investimentos dos grandes produtores. 
2) A possibilidade de um mandado judicial é muito grande e muito provável. O que deixaria os produtores nacionais sem nada na mão para negociar e com a imagem lá em baixo. 
3) Os importadores não querem de forma alguma um mercado limitado para baixo. Quem é que monta um negócio que não pode crescer e ainda terá que diminuir? 
Pois por mais absurdo que possa parecer, este cenário é possível neste governo, como os fatos estão mostrando. Os técnicos do MDIC deverão encaminhar suas decisões técnicas ao Ministro até o fim de julho quando o assunto então iria aos Ministros que participam da Camex (*) para avaliar e decidir. Só então haverá uma decisão". 
(*) Camex - Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo. O Conselho de Ministros é composto pelos seguintes Ministérios: do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que o preside; Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento Agrário. 
Vinhos não comentados 
Algumas das dívidas mais antigas surgiram durante a nossa viagem pelos grandes vinhos do mundo. Tivemos que fazer algumas escolhas, quase sempre muito difíceis. Na França, como decidir entre Bordeaux e Bourgone? Ou por que não optar pelos vinhos do Rhone, os mais premiados pelo respeitado Robert Parker? Na Itália, escolhemos o Barolo, deixando de lado joias como o Brunello di Montalcino, o Barabresco, os espetaculares Super- Toscanos e mais uma quase interminável relação de grandes vinhos. 
Outra enrascada, um nó-górdio que nem a espada de Alexandre, o Grande, é capaz de dar jeito: continuamos obrigados a fazer escolhas... Sabedores que uma falha será inevitável, imaginamos uma saída criativa. Vamos escrever sobre as uvas viníferas, afinal, está será uma tarefa fácil, são cerca de 3500 variedades das quais, apenas, 1500 são usadas na produção de vinhos. Moleza! 
Começamos na próxima semana! Um dia terminamos (se não descobrirem mais algumas durante este longo tempo). Para ajudar, vamos fazer algumas simplificações, por exemplo, nada destas uvas que estão nas garrafas do dia a dia, já estão mais que conhecidas e não gastaremos nenhum tempo com elas. Buscaremos outros caminhos para ampliar nossos horizontes. Como um efeito colateral, apresentaremos mais alguns grandes vinhos. Preparem-se! 

Dica da Semana: o clima anda bom para vinhos encorpados e saborosos. 

Zorzal Malbec 2010 
País: Argentina / Gualtallary, Tupungato 
Vinícola: Zorzal 
Variedade: 100% Malbec 
Zorzal representa a intensidade, o romantismo e a paixão Argentina. Localizada em um dos vales de maior altitude da Argentina, os vinhos surpreendem pela tipicidade, estrutura e personalidade, características únicas de um terroir de mais de 1.300 metros acima do nível do mar. Cor rubi intenso, aroma de framboesa. Na boca é redondo e bem equilibrado. 
93 pts WS; 90 pts Descorchados 2012