Este é um fato quase inevitável: à medida que vamos
aprofundando no mundo do vinho, esbarramos com um determinado tipo que se acha
superior aos demais. Eles aparecem em qualquer lugar, nas degustações, nas
festividades, na mesa vizinha no restaurante, são onipresentes.
Para lidar
corretamente com esta situação, precisamos conhecer a personalidade de um bicho
destes. Em geral, são eles que se intrometem oferecendo um comentário que
ninguém solicitou. Podemos ter certeza que frequentaram algum curso sobre vinhos
e, a partir daí, acham que sabem mais que todo o mundo. Muitas vezes nos deixam
em situações embaraçosas, por exemplo, ao comentar a qualidade de um vinho
servido num evento, na frente de quem selecionou a bebida (ele nunca vai estar
satisfeito com qualquer vinho que lhe sirvam) afirmando que outro vinho seria
mais adequado.
Se houvesse um manual de psicologia, esta atitude seria
qualificada como uma autodefesa que esconde as suas deficiências enológicas.
Simplificando, o enochato não entende de nada, mas gosta de cantar de galo.
Isto não torna as coisas mais fáceis, mas podemos tomar algumas atitudes para
conviver com o tipo.
1ª – Nunca beba vinho com um Eno Chato.
Este é o melhor
conselho: evite-os. Nem sempre será possível e algumas vezes teremos que caminhar
pelas raias da má educação, mas é preferível não desarrolhar uma garrafa na
presença de um deles: pode ser um desastre. A saída ideal é adotar uma atitude
sarcástica e afirmar, na lata: com você não bebo vinho, prefiro abrir uma
cerveja.
Além do consumo, devemos evitar conversas sociais sobre esta bebida,
ao menor descuido, lá vem ele querendo ensinar padre a rezar missa. Haja
paciência...
Se for inevitável a sua companhia...
2ª – Desafie-o: faça o teste
da prova às cegas.
Mesmo um grande conhecedor de vinhos vai ter muito trabalho
para reconhecer a uva e a origem de um vinho provado no escuro. Baseado nisto,
uma das maneiras de calar o nosso inconveniente companheiro é desafiá-lo para
uma provinha. Mas não podemos facilitar as coisas, se ele acerta estamos
perdidos...
Um bom truque é usar um vinho de corte para o teste.
Preferencialmente um fora do circuito mais conhecido. Um bom vinho português
com aquelas uvas que só tem por lá é tiro e queda.
A nosso favor está o fato
que o personagem de hoje poderá ser facilmente desmascarado na frente de todos.
Se nada disto resolver, seguimos com mais uma sugestão.
3 ª – Bombardeie com
muitas dúvidas.
Todo enochato é insatisfeito com a vida e reclama das coisas
mais bobas. Se prestarmos atenção, ele mesmo vai nos fornecer a munição
adequada para enfrentá-lo. A lista de questões tem que ter duas
características:
1 – devem ser dirigidas à pessoa, jamais pergunte numa forma
genérica ou impessoal;
2 – usem sempre o modo negativo, por exemplo, por que
você não gosta disto?
Algumas sugestões que podem ser usadas livremente:
- Por
que razão você não bebe vinho desta safra?
- O que você não aprecia nos vinhos
(cite qualquer país)?
- Como é mesmo a sua explicação para não comprar vinhos de
tampa de rosca?
Só precisamos estar seguros de conhecer as respostas corretas e
não abusar, neste caso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. A manobra é
para obrigá-lo a contar o maior número de abobrinhas possível,
ridicularizando-o.
4ª – Chame-o à razão
Como eles se acham os donos da verdade,
nem sempre trazê-los à razão é uma tarefa fácil. Mas vale a pena tentar se os
argumentos forem sólidos. Como o negócio deles é criticar, nunca se dão conta
de um velho ditado que diz: cada coisa em seu lugar. Adaptando para o nosso
relato, existe um vinho para cada situação.
Um exemplo clássico é um evento,
como num casamento, em que um vinho mediano é servido. Bem entendido que isto é
o correto, mas eles sempre querem algo superior – criticar um vinho que custa
vinte ou trinta reais não tem graça... Este é o momento de imprensar o seu
chato favorito: O que você queria que servissem? Um Chateau Petrus? (ou outro
vinho do mesmo nível).
Quase sempre funciona, mas tem umas almas empedernidas!
5ª – O Contra–ataque: mas com as suas regras.
Esta jogada, se bem executada, é
um xeque-mate. Vamos usar algumas expressões bem genéricas, de grande efeito,
para confundi-lo. A trama é nos passarmos pelo expert acabando com a graça de
sua encenação. Temos que nos antecipar ao que ele poderia criticar.
Eis uma boa
lista, mas antes uma recomendação: não abusem! Podemos ser chamados de
enochatos também:
- Este vinho precisa respirar um pouco. (podemos usar em
qualquer degustação de tintos)
- Está jovem demais, ganharia muito com mais
alguns anos na garrafa! (idem)
- Aromas de pera e maçã. (ideal para Chardonnay)
-
Muito maracujá e frutas cítricas. (Sauvignon Blanc)
- Querosene! (Riesiling
Alemão ou Alsaciano)
- Toneladas de frutas vermelhas. (aplica-se a qualquer
Pinot Noir)
- Muita/o: terra/trufa/azeitona/herbáceo/mineral. (para qualquer
tinto do Velho Mundo)
- Taninos domados. (idem)
- Refrescante e com boa acidez –
óbvio que não passou por madeira. (use com a maioria dos brancos jovens,
precisamos ter certeza que não foram barricados)
- Amanteigado. (idem para
brancos que passaram em madeira)
- Ótimo no nariz. (somente se realmente for
aromático)
- Este vinho pede uma comida. (esta é clássica, uso universal)
Se a
situação chegou ao extremo, podemos apelar para esta saideira:
- Certamente você
não leu a última Coluna de Vinhos do Tuty...
Dica da Semana: para enochato
nenhum botar defeito.
Gayda Syrah 2009
Produtor: Domaine Gayda País:
França /
Languedoc-Roussillon
Vinhedos: Brugairolles (200m de altitude) e La Livinière
(250m de altitude)
Vinificação: Maceração a frio por uma semana. Fermentação
natural com temperatura de 26-28°C. Maturação: 10% permanece em barricas de
carvalho de 1, 2 e 3 anos por 9 meses. 90% permanecem em tanque com as borras.
O saboroso Syrah do Domaine Gayda foi um dos únicos 9 vinhos franceses que
mereceram a medalha de ouro no concurso Syrah du Monde, comprovando sua ótima
relação qualidade/preço. Encorpado, com camadas de frutas negras e grande
frescor, é uma bela descoberta para os amantes da casta Syrah.
Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre
a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova
página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi:
As garrafas
de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem?
Com relação à
qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à
origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho.
Vamos elaborar um pouco mais estes pontos.
Não há como saber, pelo menos para o
consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como
indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o
vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos
falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes
de colocar num leilão de vinhos antigos...
Mas há indicadores confiáveis que
podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais
visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida.
Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo
protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos
comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico:
pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso,
muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior
- garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho...
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel:
Seguindo certos parâmetros,
poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos
aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho.
Observem a próxima foto:
Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de
1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa
fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se
aproximando do formato da Borgonha.
Um outro exemplo de garrafa nitidamente
antiga (ou pelo menos mal cuidada):
Quanto ao conteúdo...
O terceiro ponto: se
uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro
de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem
precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para
seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma
alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus
vinhos remetesse aos vinhos franceses.
Resumindo: o que se pode esperar de um
vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais
castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet
Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da
Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há
exceções? Sim, muitas!
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e
Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo
ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é
interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa
bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux.
Podemos ir
mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos
abaixo:
A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os
vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de
Bordeaux e Bourgone.
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª
garrafa acima?
Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente
tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras.
Por que 750
mililitros?
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso
entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras
garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto,
naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje.
Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica
do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a
para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde
arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema
métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este
tamanho. Eis algumas possibilidades:
1 – como as primeiras garrafas eram
sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar
média dos sopradores;
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5
Kg o que é conveniente para o transporte;
Esta última é a mais curiosa;
3 – 1/5
de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir
numa refeição!
Os Grandes Tamanhos
Esta foi uma pergunta intrigante: como
servir as garrafas de grandes tamanhos?
A resposta é meio sem graça: como se
serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa)
Mas
vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos
maiores?
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou
branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A
Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os
produtores gostam de exibi-las, é um chamariz!
Mas se o assunto for espumante,
surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a
Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os
pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um
grande problema!
Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos:
Da
esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba,
Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia).
Dica da Semana: para deixar
todo mundo sem entender nada!
Chianti DOCG 2009
Produtor: Piccini
País: Itália
Região: Toscana
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo
período de maceração. Maturação: Não passa por madeira.
Este eterno Best Buy,
para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é
rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida.
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos.
(Cadê a garrafa
típica?)
Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho,
Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido
esclarecidas.
Para os menos avisados, o nosso apreciado vinho só começou a
ser servido em garrafas de vidro a partir de 1630, na Inglaterra. Antes disto,
o vinho era guardado em ânforas cerâmicas, depois em tonéis de madeira. Vamos
conhecer um pouco desta curiosa evolução.
Tudo gira em torno da tecnologia de
fabricação de vidros. Os Romanos armazenavam seus vinhos nas famosas ânforas,
utilizando pequenos jarros de cerâmica ou estanho para servi-los (canjirões).
Conheciam o vidro, mas era um material frágil e inadequado para armazenar ou
para o serviço do vinho.
No início do século XVII, após um período de escassez
de madeira, surgiriam os fornos a carvão que podiam atingir a temperatura ideal
(1500ºC) para a fabricação de vidros espessos e resistentes usados nas
garrafas. Estas eram sopradas individualmente. Como havia a necessidade de
decantar o vinho antes de servi-lo, os primeiros formatos eram bojudos,
conhecidos como acebolados: sua forma lembrava o contorno da cebola.
Este
formato, em pouco tempo, ganharia laterais mais retas, com um contorno
semelhante a um malhete ou maçã, como preferem alguns autores.
À medida que o
vinho foi se popularizando, as pessoas passariam a comprá-lo em garrafas e não
mais em barricas. Não existiam formatos ou quantidades padronizadas. O
descontrole era de tal ordem que na Inglaterra de 1860, foi proibida a venda do
vinho engarrafado. Como alternativa, o consumidor levava o seu recipiente que
era preenchido com quantidades medidas pelo vendedor. Na França, os vinhos da Borgonha
e as Champagnes eram vendidos em garrafas de 800ml, os de Beaujolais em
garrafinhas de 500ml. Não havia um consenso.
Somente a partir de 1970 houve uma
mudança importante: por exigência dos Estados Unidos, as garrafas exportadas
para lá deveriam ter um volume padronizado de 750ml, que acabou se tornando o
padrão universal.
Os Formatos
Após a padronização do volume, surgiria uma
plêiade de diferentes formatos. Alguns se tornaram tradicionais e as garrafas
passaram a ser designadas pelos nomes destes vinhos:
Garrafa Bordalesa – a mais
conhecida:
Os vinhos da Borgonha e do Vale do Ródano tem outro formato:
A
Flauta, típicas dos vinhos Alemães ou Alsacianos:
Esta garrafa bojuda é da
região alemã da Francônia (norte da Baviera):
Não chega a ser um conceito
universal estando mais próximo de uma tradição. Outras garrafas características
são as de vinho do Porto e as de espumantes.
Outros tamanhos
Muito comum em
comemorações esportivas, as grandes garrafas, principalmente as de espumantes,
recebem denominações especiais. Eis uma lista resumida.
Para quase todos os
vinhos:
Magnun – 1,5 l (duas garrafas);
Doble Magnum - 4 garrafas.
Para os
espumantes: (eventualmente podem ser usadas com outros vinhos)
Jeroboão – 3 l
(equivale a Double Magnum)
Roboão – 6 l
Matusalém – 8 l
Salmanazar – 9 l
Baltazar – 12 l
Nabucodonosor – 20 l
Acima deste tamanho existem ainda a
Melchior, a Salomão, a Soberano e a Melquisedec, com impressionantes 30 litros
(fabricadas por encomenda).
A foto a seguir mostra uma Melquidesec da Maison Drappier,
especialista em grandes tamanhos. Tem aproximadamente 1,5m de altura, pesando
mais de 40 quilos. São produzidas apenas 20 garrafas por ano. Quem vai encarar?
Dica da Semana: depois deste exagero todo, ficamos com água na boca.
Espumante
Cave Geisse Brut Nature
Elaborado pelo método champenoise, este espumante é
apropriado para todos os momentos. Por não receber a adição de licor de
expedição, acompanha muito bem qualquer refeição.
Localização: Pinto
Bandeira/Serra Gaúcha
Açúcar Residual (aprox. 1,0 g/l)
Vinho Base: 70%
Chardonnay 30% Pinot Noir
Aproveitando a onda provocada pelas recentes tentativas de
encarecer, ainda mais, a nossa apreciada bebida, vamos mergulhar num tema que
está por trás de toda esta discussão: o baixo consumo de vinho no Brasil.
Não é
preciso ter muita imaginação para deduzir que o fator clima tem um papel
preponderante – vinho é uma bebida adequada para climas mais frios. Este é um
bom argumento, sem dúvida, mas não é determinante. Poderíamos consumir vinhos
brancos leves ou espumantes, substituindo o nosso velho Chopp, por exemplo.
Nos
estados da região sul, onde o consumo é significativamente maior, encontramos o
fator cultura: os imigrantes que colonizaram majoritariamente estes estados
consumiam vinho na sua origem. Devemos a eles a existência da nossa indústria
vinícola, que começou produzindo para consumo dos colonos. Este é outro fator
de grande importância, para eles, o vinho faz parte da dieta, é um alimento
como arroz ou feijão, e isto faz toda a diferença. O mesmo fator pode ser
observado nos vizinhos Argentina e Uruguai que foram colonizados de forma
semelhante.
Alguns podem confrontar esta posição afirmando que é redundante, ou
seja, não faz parte da dieta por razões climáticas (ou vice versa). Mas o X do
problema é outro: o vinho é enquadrado pelo governo, como bebida alcoólica, um
artigo de luxo, e não como um alimento. E isto muda tudo!
O Custo de uma
garrafa de vinho importado
Didú Russo, fundador da Confraria dos Sommeliers e
coordenador do Comitê do Vinho da Fecomercio SP, publicou em seu blog um estudo
sobre a hipotética viagem de uma garrafa de vinho, do velho mundo, desde o seu
produtor até ser consumida por alguém. O quadro a seguir faz um resumo destes
custos: (valores em R$)
O primeiro subtotal mostra desde o preço pago ao
produtor até os custos obrigatórios para embarque num transporte marítimo.
Alguns itens são fatores de encarecimento, como o container refrigerado, sem o
qual o produto chegaria estragado.
A partir do subtotal 2 vamos verificar o
tamanho da bocarra governamental. A enxurrada de taxas, impostos e burocracia
não tem outra função que alimentar a insaciável máquina. Copiando Didú Russo:
"O
Governo não faz nada além de burocratizar a operação, gerando corrupção, cobra
IPI, PIS, COFINS, ICMS, IPI, CSLL, IRPJ, Imposto de Importação, sobreposições
de IPI e de ICMS, taxas de registro do rótulo, de análise dos vinhos, Selo
Fiscal, ST".
O importador pouco pode fazer e precisa administrar muito bem os
seus custos para não onerar demasiadamente o vinho, sob o risco de torná-lo
inacessível. Para muitos, estes custos não são visíveis; eis uma pequena
amostra: viagem de compra, despesas de envio, frete nacional, armazenamento em
local apropriado, enfrentar toda a burocracia estatal, divulgação, degustações
e até o financiamento da venda para lojas, restaurantes e mercados. Por tudo
isto, cobra R$ 8,92... Honestamente, nem sempre é um bom negócio!
Chega a vez
dos maiores gulosos: lojas, restaurantes, supermercados e assemelhados. Os
custos são semelhantes aos do importador, mas outros problemas aparecem. Precisam
manter a garrafa em local adequado, contratar Sommeliers ou vendedores
especializados, ter o equipamento de serviço do vinho (taças, decantador,
saca-rolhas, etc.) e por último, fixar um preço de venda final que cubra isto
tudo e torne o vinho um produto de qualidade. Aquela garrafa que custou R$ 3,60
na origem nos será ofertada por R$ 60,00. Uma margem de R$ 38,62 sobre o preço
de compra no importador. Nada mal (se alguém pagar).
Resumindo: só de impostos
pagamos 40% sobre o preço de venda aos lojistas (R$ 23,17), sem que nenhum
benefício tenha sido gerado por este custo. Alimentou a burocracia somente.
Comparando o valor na origem com o preço final de venda, o aumento foi de quase
17 vezes, um absurdo!
Se um dia vingar a ideia de taxar o vinho como alimento,
pagaremos menos de 20% em taxas e impostos (dependendo do estado) o que poderia
alavancar um maior consumo. Este é o caminho a seguir.
Dica da Semana: para
estimular o consumo diário, nada melhor que o clássico bom e barato.
HEMISFERIO
CABERNET SAUVIGNON 2009
País: Chile/Curicó
Produtor: Miguel Torres
Envelhecimento: 50% em carvalho Francês durante 6 meses.
Tempo de guarda: 3 a 5
anos
Harmonização: embutidos, carnes e churrascos.
Coloração rubi intensa. No
olfato remete a aromas do bosque e especiarias, sobre ricos fundos de couro. No
palato os taninos são redondos, cheio de fruta e plantas. Miguel Torres foi um
dos pioneiros na produção de vinhos finos no Chile, com vários prêmios em sua
diversificada linha de vinhos.
Com a chegada das temperaturas mais amenas do outono e
inverno, podemos passar a consumir mais vinhos e comidas ricas que combinem com
tintos potentes que não seriam as escolhas na época do verão. Os estados da
região sul são mais privilegiados com variações de temperaturas menos
marcantes. Mas outros cantos deste país, sudeste, norte e nordeste, entre
outros, são castigados por inclementes verões e, consumir vinho nestas
temperaturas exige alguma engenharia térmica...
Como aproveitar bem esta
temporada?
Uma das opções mais interessantes, do momento, são os Wine Bars,
bastante populares nas grandes capitais. Podem ser descritos como um meio termo
entre um restaurante e um bar. Alguns podem ser focados num único tipo de
vinho, como as Champanherias, outros se especializam em oferecer um simpático
cardápio de acepipes para harmonizar com a carta de vinhos, cheia de
interessantes opções.
Marcio Martins e sua esposa Andréa Svaiter, ele um
enófilo, ela jornalista, resolveram fazer uma guinada em suas vidas entrando
para o ramo da gastronomia. Aproveitando o espaço de uma antiga lavanderia na
Rua Bolivar, em Copacabana, deram partida no projeto de um pequeno bistrô que
atendesse a este segmento onde não havia opções como as de seus sonhos. Do nome
até o cardápio, passando pela decoração, tudo foi pensado para atender, com
categoria, o mais exigente cliente. Contrataram a consultoria dos experientes
Chefs Ciça Roxo e Joca Mesquita, responsáveis pelo sucesso do bar de tapas
Venga e puseram mãos à obra.
Vamos conhecer o Zot (*), que apesar de ser
homônimo de uma excelente cerveja Belga, tem se tornado uma referência nas
harmonizações com vinho. (e cerveja)
A casa é um charme só com uma decoração
moderna, clean, bem iluminada. Simpáticos quadros negros nas laterais oferecem
desde as sugestões do dia até criativas mensagens que ajudam na ambientação. O
cardápio, pensado para oferecer pequenas porções, é o ponto alto proporcionando
diversas experiências a um custo bem adequado ao bolso da maioria dos mortais.
Entre opções quentes e frias, destacam-se as crocantes Bombas de Camarão, a
saborosa Brandade de Bacalhau com Baroa, o espetacular Salame de Atum e a
Degustação de Queijos de Cabra da Fazenda Genève.
Para harmonizar uma enxuta
carta de vinhos com interessantes opções: bons espumantes brasileiros, brancos,
tintos e até um solitário rosé. Todos com preços justíssimos. Um fator
importante que demonstra a preocupação de Márcio com a sua adega é a presença
de vinícolas boutiques brasileiras como Máximo Boschi e Don Guerrino, este
último, um dos indicados nesta coluna.
Para os não enófilos, há uma boa carta
de louras...
Como opção, para os que não desejam consumir uma garrafa inteira,
a casa oferece as garrafinhas de 187 ml de vinho com se fossem taças. A
política de rolha é correta, o lugar é wine friendly, ou seja, sua garrafa é
benvinda. (consulte antes, por favor).
Não existe um Wine Bar em sua cidade?
Nas principais capitais ou grandes cidades há sempre uma boa opção. Mas o que
falar sobre cidades menores onde o vinho é um artigo raro e difícil de ser
adquirido?
Não desanimem! Está na hora de abrir aquelas garrafas que guardamos
diligentemente à espera de uma boa oportunidade. Convide alguns amigos (nada
mais triste do que beber um bom vinho sozinho), organize alguns acompanhamentos,
queijos, frios, pães, patês e aproveitem a degustação. Sejam simples, sem
preocupações com sofisticação. Uma excelente opção para os dias mais frios é
uma boa sopa, como um Creme de Cebolas ou um prato de massa, na manteiga e
sálvia.
Saúde e Bon Apetit!
Contem para a gente se houver um bom bar em sua
cidade.
Cantinho do José Paulo Gils, meu comparsa nesta coluna:
Concurso
Mundial de Bruxelas 2012 elege vencedores
Nos dias 4, 5 e 6 de Maio, os jurados
do Concurso Mundial de Bruxelas 2012, provaram 8.397 vinhos oriundos de 52
países. Para avaliá-los, a organização chamou sommeliers, compradores,
importadores, jornalistas e críticos de vinhos. Ao todo foram 320 os jurados,
provenientes de 40 países diferentes.
Os melhores prêmios -Best Wine Trophy, são
atribuídos aos vinhos que, dentro de cada categoria (foram seis), receberam a
maior pontuação. A que será certamente mais importante, a de vinhos tintos, foi
ganha pelo vinho do Alentejo Poliphonia Signature 2008, da Granacer
(Reguengos). A Espanha foi o país que mais levou medalhas Grande Ouro – 21 –
cabendo à França 15. Portugal e Itália ficaram com 10 cada.
Eis os vencedores
de cada categoria:
Melhor Espumante: Joly-Champagne Cuvée Spéciale (Champagne –
France)
Melhor Vinho Branco: Hacienda Zorita Verdejo 2011 (Rueda – Spain)
Melhor Vinho Rosé: Theopetra Estate Rosé 2011 (Meteora – Greece)
Melhor Vinho
Tinto: Poliphonia Signature 2008 (Vinho Regional/Alentejo – Portugal)
Melhor
Vinho de Sobremesa: Samos Nectar White 2008 (Samos – Greece)
Dica da Semana: um
bom tinto de Portugal, preferência nacional.
Esteva Tinto 2009
Pais:
Portugal/Douro
Produtor: Casa Ferreirinha
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca e
Tinta Barroca
Atrativo e elegante, alia carácter e versatilidade numa escolha
muito acessível, ideal para o dia a dia. Esteva integra a gama de vinhos da
celebrada Casa Ferreirinha, a marca especialista com mais tradição de vinhos de
qualidade no Douro e uma das suas maiores referências mundiais. Segundo o Wine
Advocate, o newsletter de Robert Parker, mostra boa profundidade para sua faixa
de preço.
Fotos do texto obtidas no site Enoeventos.
(*)
Zot Gastro Bar Rua Bolívar, 21 - Copacabana Tel: (21)3489-4363 Horário Terça a
quinta: 18-24h Sexta e sábado: 18-01h Domingo: 12-24h